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Os reacionários desesperados batem à porta

27 de janeiro de 2010
5 min. de leitura
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Um dos sites onde podemos encontrar o maior número possível de falácias e pseudoinformações sobre o aquecimento global é chamado de Instituto Millenium (http://www.imil.org.br/). Um grupo de pessoas que lembra algo como uma maçonaria, ou adeptos de uma “filosofia de vida”, com diversos materiais de todos os tipos, escritos de maneira enfática sobre assuntos discutidos na atualidade.

Às vezes tendencioso e com um viés preconceituoso, deixo ao leitor a opção de digitar algumas palavras no sistema de busca do site, para divertir-se com o que eles mesmos  escrevem.

Outros blogs como “O berro da formiga”, parceiro da antiga Frente Integralista Brasileira, também divulgam à exaustão o famoso vídeo que explica a ‘grande farsa do aquecimento global’.

Na internet, assunto não falta, o que faltam são fontes confiáveis. Apenas revistas e textos antigos, mas pouca pesquisa e dados concretos.  São muitos os sites, me detive nestes, pois achei seu conteúdo mais interessante.

Abaixo, cito algumas frases retiradas do site Millenium, para que o leitor veja com seus próprios olhos. É impossível não ler os textos do contratudo. Criticam os ambientalistas, as cotas raciais, os vegetarianos, louvam exageradamente a pecuária e a propriedade.

Salvo que os assuntos em si podem até ser interessantes e dignos de uma pesquisa profunda, aqui no Brasil parece que as pessoas levam tudo ao significado teológico.

Tudo vira seita e tradição! Tudo se torna parte da cultura! Aqui, quase nunca se questiona nada e, quando se faz, é nestes moldes, parco e fundamentado em crenças como o criacionismo e outras mais.

Frases do site Instituto Millenium:

“E não se esqueça: além de andar apenas de  bicicleta e evitar a carne, bata três vezes na madeira, coloque um pé de coelho na bolsa e ainda cruze os dedos. Todo esforço é louvável nessa cruzada pelo controle do clima. A vida de nossos filhos depende disso.”

Rodrigo Constantino

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“ Não, a solução passa pelo controle estatal. Cabe ao governo cuidar de nossas crianças, tal como o modelo de Esparta, séculos depois copiado pelos comunistas chineses. Os vegetarianos pentelhos vão criar uma dieta saudável para todos. Como disse Luiz Felipe Pondé em artigo recente, ‘O cadáver verde’, ‘essa gente entediada costuma comer tudo em que aparece na bula a palavra ‘orgânico’ ’. A carne vermelha é nosso inimigo, não importa os dentes caninos afiados que a natureza nos deu*. E cortando a carne, matamos dois coelhos numa só cajadada: temos uma alimentação mais ‘saudável’, e menos vacas soltando pum, o que colabora para o ‘aquecimento global’.”

Rodrigo Constantino

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Aquecimento global – José Celso de Macedo Soares

(http://www.imil.org.br/artigos/aquecimento-global/)

O texto cita o New York Times e a revista Newsweek para falar sobre um possível resfriamento global na década de 70.

É como se, para eu falar sobre vegetarianismo e ecologia, eu citasse a revista Veja!

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Evolução congelada

Joao Antonio Wiegerinck – Este aborda assuntos ligados ao naturalismo.

“Interessante, ao se falar em reinos naturais, expor a verdadeira escala de dependência entre os mesmos. Temos, pois, o reino mineral, o reino vegetal e o reino animal, sendo este último dividido entre seres animais não humanos e humanos.”

Onde, em todo o meu curso de Biologia, aprendi tal divisão? Isso mais parece ter sido tirado daquelas cartilhas pré-escolares de muitos anos atrás.

“Mantendo-se os reinos minerais e vegetais, mas acabando com os animais tidos como irracionais e inconscientes da própria vida e morte, estaria o ser humano condenado ao fim como espécie. Não se trata de ser vegetariano, trata-se de lembrar, de início, da importância da polinização.”

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E para terminar com chave de ouro:

Capitalismo e carne vermelha

Augusto Araújo de Oliveira

“Já quanto ao capitalismo, emprestarei as palavras de Ludwig von Mises, no seu livro As seis lições, ao responder um hipotético anticapitalista: ‘Sabe que a população deste planeta é hoje 10 vezes superior que nos períodos precedentes ao capitalismo? Sabe que os homens hoje usufruem de um padrão de vida mais elevado que os de seus ancestrais antes do advento do capitalismo? Sua mera existência é uma prova do êxito do capitalismo.’
‘Curiosamente, foi a partir de alguns meios acadêmicos que tanto a carne vermelha quanto o capitalismo foram combatidos. Médicos e nutricionistas (com honrosas exceções, é claro) contra a carne vermelha. Sociólogos e afins contra o capitalismo.
É uma batalha de estudiosos com altas doses de tendencialismo e, às vezes, má-fé, contra a natureza das pessoas comuns. Sim, o capitalismo, assim como o consumo de carne, fazem parte (graças a Deus) da natureza humana. Por isso chegamos até onde estamos.
Evolução da espécie. Multiplicação da espécie. Prosperidade da espécie. Não é pouca coisa. Que tal um churrasco para comemorar?”

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Nós, com nosso churrasquinho de tofu ou de glúten, ficamos aqui estupefatos com a quantidade de sites e textos que, desesperadamente querem retroceder em conhecimento, seja distorcendo informações, seja menosprezando o conhecimento adquirido ou misturando uma série de falácias, como aquela história dos ‘dentes caninos’* da espécie humana.

Se  estes detalhes comportamentais da humanidade primitiva são tão importantes assim para a evolução da humanidade, poderíamos também requerer o retorno da violência a qualquer custo, o retorno do canibalismo ou outros dos costumes que em  determinados estágios de evolução, a humanidade usou, sempre levando em conta o clima da época e a capacidade mental dos seres humanos de então. Mas curiosamente só o consumo de carne é exaltado. Por quê?

Estamos lidando com um assunto que os ameaça. Saber que nossas atitudes e comportamentos influem de maneira direta no ambiente, assim como outras espécies, é algo que choca, mas em toda a natureza é assim. A atmosfera atual  de gás predominantemente oxigênio surgiu da interação de seres que utilizavam o gás carbônico presente na atmosfera primitiva e liberavam no ar oxigênio. Estes primeiros organismos modificaram o ambiente ao seu redor com suas atividades naturais. Será tão absurdo assim que nossas atividades estejam impactando o planeta?

O problema é quando o conhecimento começa a vir de encontro a interesses financeiros e ideológicos, aí é ameaça à vista.

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