Os cães sem raça definida que moram em um barco na Urca, na Zona Sul do Rio, estão disponíveis para adoção responsável. Os sete cachorros vivem com o Seu Alex, como é conhecido o marceneiro Alexandro de Oliveira, com quem formam uma grande família. Dollar, Vitória, Golias, Mulatinha, Nega, Davi e Caramelo geraram uma mobilização no bairro, atraem visitantes nas feiras de domingo e já ganharam até apelido: são os “marinheiros” do pedaço.
Não são todos da mesma ninhada. Alguns, Seu Alex resgatou; outros, acabaram nascendo da procriação entre eles. O mais velho, Dollar, de 4 anos, engravidou Vitória quando ela tinha seis meses, no seu primeiro cio. Há um ano, ela deu à luz aos filhotes Mulatinha, Nega e Davi.
Fisicamente parecido com Vitória, Golias tem 2 anos, e existe a suspeita de que os dois são irmãos, mas não há nada confirmado. Caramelo, de 3 anos, é o “comandante” do barco e xodó de Seu Alex. Ele nada, pega peixe, pula nas pedras, é o mais “safo” e conhecido do grupo na vizinhança. No fim de semana, precisou ser internado depois de uma diarreia com sangue, mas deve ter alta nos próximos dias.
Entre eles, o clima é de harmonia. Um brinca com o outro, são dóceis, trocam carinho e dividem o espaço da traineira sem grandes questões. O temperamento é equilibrado, segundo Raquel: não são medrosos, não latem o tempo todo, são amorosos e adoram comida. Todo domingo eles participam da feira da Urca.
“As pessoas vão visitar, sentam no tatame, principalmente as crianças. Fica tudo misturado, brinquedo, cachorro, criança, música. É um clima gostoso. A gente vai ficar com saudade quando esse evento acabar”, diz Raquel Quelps, fundadora e administradora do Urcapets, um grupo do bairro que apoia cachorros em situação de rua.
O Urcapets está à frente da campanha de adoção. Segundo Raquel, a preferência é de quem mora na Urca ou um bairro próximo.
“Eles têm o hábito de serem muito próximos de quem cuida, de ficar junto, então, a adoção é para que eles participem da família para onde vão. O Seu Alex ama muito esses cachorros e quer manter algum contato, então, estamos colocando esse requisito porque é importante para ele e para os animais”, explica.
Os “cães marinheiros” recebem apoio do grupo desde outubro do ano passado, quando foram castrados. Todos também já foram vacinados e vermifugados.
“Foi uma mobilização geral entre os moradores. O pessoal é muito unido e cada um ajudou em uma coisa, deu orgulho de ver. Nos fins de semana, para eles não ficarem direto no barco, rolou uma ajuda solidária, e a gente se dividiu para ficar com eles em casa, levar para passear. Eu já fiquei com os sete de uma vez num quarto e sala. Eles ficam de boa. Não fazem as necessidades dentro de casa — conta Raquel.
O Alex mora na traineira há quase 30 anos. O barco dele tem uma cabine simples e estrutura precária, onde mantém apenas um fogão à lenha para cozinhar. Sem um toldo, ele e os cachorros acabam ficando a maior parte do tempo debaixo de sol e de chuva. No momento, Alex trabalha com reforma de barcos do quadrado da Urca, e está tratando um problema de saúde. A decisão de doar os cães foi para que os bichos tenham melhores condições de vida.
“A gente também quer muito poder ajudar o Seu Alex na reforma do barco, nem que fosse um serviço de forma voluntária. Colocar um toldo, reformar o casco, dar uma dignidade maior. Se as adoções demorarem, pelo menos ele e os cachorros teriam condições mínimas para viver”, afirma Raquel.
Para ajudar nos custos dos cuidados com os animais, o grupo Urcapets organizou uma arrecadação de recursos online, pela plataforma Vakinha. Com o dinheiro, eles compram ração, pagam consultas e exames no veterinário, compram remédios e vacinas para manter os animais saudáveis. As castrações dos sete e a internação do Caramelo foram custeadas com o valor arrecadado.
Fonte: O Globo