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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Os mares temperados servirão de refúgio para os recifes de coral? Não a tempo, diz estudo

9 de julho de 2025
Edward Carver
5 min. de leitura
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Foto: Grant Thomas / Ocean Image Bank

As mudanças climáticas já causaram declínios significativos na cobertura de recifes de coral globalmente e devem causar ainda mais danos nas próximas décadas. Alguns cientistas mantinham a esperança de que os corais tropicais poderiam melhorar sua viabilidade expandindo seu alcance — encontrando refúgio em mares mais temperados. Mas um novo estudo despeja um balde de água fria nessa ideia.

O estudo, publicado em 6 de junho na revista Science Advances, conclui que o declínio dos recifes de coral superará em muito sua expansão para águas temperadas. A maior parte dos danos ocorrerá nos próximos 40 a 80 anos, mas a expansão levará séculos.

Essa “desconexão entre as escalas de tempo”, como os autores a chamam, pode significar más notícias para os corais e os ecossistemas que dependem deles — embora a gravidade da perda dependa dos níveis de emissões de gases de efeito estufa nas próximas décadas.

“A principal descoberta é que provavelmente estamos falando de séculos ou mais para que os corais se movam para latitudes mais altas”, disse Noam Vogt-Vincent, pesquisador de pós-doutorado da Universidade do Havaí em Mānoa e principal autor do estudo, em entrevista à Mongabay.

Os resultados mostram “a necessidade urgente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, afirma o estudo.

É bem conhecido que os recifes de coral estão ameaçados pelo aumento das temperaturas. Atualmente, enfrentam o quarto evento global de branqueamento em massa desde 1998. O branqueamento ocorre quando os corais expulsam algas simbióticas devido a estresses como mudanças de temperatura ou poluição, perdendo sua cor no processo. Embora possam se recuperar de eventos isolados, branqueamentos prolongados ou repetidos podem levá-los à morte.

Previsões sombrias sobre o futuro dos corais são comuns entre cientistas. Um relatório de 2018 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estimou que 99% dos recifes tropicais desapareceriam até 2100 em um cenário de aquecimento global de 2°C (3,6°F) — uma projeção considerada moderada. Um estudo de 2022 na revista Earth’s Future projetou que, nas próximas duas décadas, 99% dos corais do mundo enfrentariam branqueamentos regularmente.

No entanto, outras espécies marinhas já começaram a ajustar seus habitats devido às mudanças climáticas, e especialistas especularam que os corais poderiam fazer o mesmo. Mas as evidências até agora são contraditórias.

Pesquisas sobre a expansão dos corais em direção aos polos se dividem em dois campos: estudos de campo analisando o que já está ocorrendo e modelos teóricos avaliando possibilidades futuras. Observações no Japão, por exemplo, sugeriram em 2011 que os corais estavam se expandindo, mas estudos posteriores mostraram que isso não acontecia em larga escala — muitos dos “novos” corais eram, na verdade, espécies temperadas pré-existentes se proliferando.

Antes do estudo de Vogt-Vincent, a maioria das pesquisas teóricas sobre corais em águas temperadas se baseava em modelos estatísticos que indicavam quais espécies poderiam sobreviver sob certas condições (como temperaturas específicas) e quais áreas seriam habitáveis. Mas, segundo Vogt-Vincent, isso não era suficiente para prever uma expansão futura.

“Só porque um ambiente é habitável para corais não significa que grandes comunidades de coral vão surgir lá”, explicou.

Sua equipe criou um modelo mecanístico que prevê onde os corais poderiam se estabelecer, considerando fatores como temperatura, luz e pH. Ao testá-lo com dados atuais, o modelo mostrou-se “notavelmente” preciso em definir os limites de distribuição dos corais — embora não seja adequado para análises regionais detalhadas.

Resultados alarmantes

O modelo projetou que, em um cenário de emissões moderadas (alinhado com políticas climáticas atuais), os recifes diminuiriam 71% até 2100. Já em um cenário de baixas emissões (alinhado ao Acordo de Paris), o declínio seria de 34%. Em ambos os casos, a perda de colônias individuais (incluindo corais não formadores de recifes) seria um pouco menor.

Diferente de outros estudos, este modelo previu quase nenhuma expansão significativa nos próximos 75 anos — menos de 25 km² (10 mi²), uma fração mínima comparada ao declínio esperado.

A equipe esperava que a principal barreira fosse a dispersão de larvas (já que corais não se movem como peixes, dependendo de correntes oceânicas). Mas o modelo apontou que os maiores obstáculos são a falta de luz em latitudes altas e o crescimento lento em ambientes marginais, onde a temperatura varia mais do que nos trópicos, mesmo quando a média é adequada.

Perspectivas de especialistas

Stephen Palumbi, professor de biologia marinha da Universidade de Stanford (não envolvido no estudo), destacou que a pesquisa reforça um problema central das mudanças climáticas:

“[O estudo] ilustra por que, ecologicamente, o maior problema do aquecimento global não é a magnitude, mas a velocidade. Sabemos que muitas espécies, como certas árvores, não conseguirão acompanhar, e isso pinta um cenário sombrio para os corais.”

Palumbi citou o ditado “‘todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis’”, aplicando-o ao caso.

“O resultado real provavelmente será diferente do projetado — talvez menos pior, ou até pior. Ainda assim, o artigo é um alerta importante para ação.”

Vogt-Vincent argumenta que suas descobertas justificam um apelo mais urgente do que o relatório do IPCC de 2018 (que, segundo ele, não considerou a evolução dos corais). Seu modelo mostra diferença crítica entre cenários:

“Há uma grande diferença entre as projeções sob políticas atuais e sob 2°C de aquecimento. Qualquer aquecimento que evitarmos terá um efeito positivo no futuro dos recifes.”

Como geólogo, Vogt-Vincent é cético em relação à narrativa de “extinção total dos corais”, já que eles sobreviveram a mudanças radicais no passado. Seu modelo indica que, se as emissões cessarem até 2100, os corais poderão se expandir ao longo de séculos.

“Eles serão gravemente afetados, e os impactos humanos serão terríveis, mas não veremos a perda completa dos recifes.”

Cerca de 30% da cobertura atual ainda existiria em 2100 — algo “triste, mas suficiente para manter boa parte da diversidade coralina.”

Palumbi vê como “boa notícia” a expansão gradual, mas alerta:

“Muitas espécies podem sobreviver, embora passem por um gargalo populacional, com corais dispersos que não formam recifes. Será um período difícil para peixes, invertebrados e comunidades humanas que dependem deles.”

Sua conclusão? Controlar emissões é essencial para reduzir perda de biodiversidade:

“A natureza é resiliente, mas os humanos podem sobrecarregar essa resiliência se não formos cuidadosos.”

Traduzido de Mongabay.

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