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ESTUDO

Os elefantes-marinhos-do-sul são adaptáveis, mas enfrentam dificuldades com as rápidas mudanças climáticas e os impactos humanos

20 de março de 2025
Nic Rawlence, Mark de Bruyn e Michael Knapp
5 min. de leitura
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Foto: Antoine Lamielle

Os elefantes-marinhos-do-sul (Mirounga leonina) são uma espécie icônica do Oceano Antártico. Mas, com as rápidas mudanças ambientais em seu habitat oceânico, a distribuição populacional desses animais tem se alterado.

Antes espalhados por vastas áreas do hemisfério sul, esses predadores de topo agora enfrentam desafios tanto devido às mudanças climáticas quanto às atividades humanas.

Nossa nova pesquisa examina DNA antigo e moderno, registros arqueológicos e dados ecológicos.

Ela revela como esses grandes mamíferos marinhos se adaptaram – e, às vezes, falharam em se adaptar – a essas pressões desde o auge da última Era do Gelo, há milhares de anos.

Uma história evolutiva dinâmica

Hoje, as maiores populações de elefantes-marinhos-do-sul estão em ilhas subantárticas, incluindo a Geórgia do Sul, a Ilha Macquarie e as Ilhas Malvinas. Essas colônias atuam como fortalezas globais para a espécie.

No entanto, no passado, até poucos séculos atrás, muitas populações menores existiam na Costa da Terra de Vitória, na Antártica, e em zonas mais temperadas, como a Austrália continental e a Nova Zelândia.

Nosso estudo focou na linhagem australásia dos elefantes-marinhos-do-sul, utilizando amostras dessas colônias antigas. Ao analisar sua composição genética, reconstruímos uma linha do tempo de sua herança biológica, incluindo expansões e reduções populacionais.

Isso tem implicações cruciais para entender a resiliência dos elefantes-marinhos diante das mudanças climáticas.

A partir de pistas genéticas em subfósseis e vestígios arqueológicos com milhares de anos, encontramos evidências de ciclos populacionais repetidos. Durante períodos glaciais frios, a expansão do gelo marinho forçou os elefantes-marinhos a se deslocarem para o norte, apenas para recolonizar o Oceano Antártico quando o gelo recuava durante os períodos interglaciais mais quentes.

Essa história foi especialmente dinâmica após o auge da última Era do Gelo, há 21.000 anos. O planeta começou a aquecer, provocando mudanças ecológicas dramáticas.

Os elefantes-marinhos provavelmente expandiram-se a partir de refúgios sem gelo em regiões temperadas, como Tasmânia e Nova Zelândia, para novas áreas disponíveis nas costas subantárticas e antárticas.

Entretanto, essa expansão territorial não foi permanente. Com o avanço do interglacial atual (o Holoceno), novos desafios surgiram: a caça indígena e, posteriormente, a caça industrial europeia em grande escala.

Para as comunidades indígenas na Nova Zelândia e na Austrália, os elefantes-marinhos faziam parte da alimentação.

Sabemos disso por restos encontrados em depósitos de lixo e na cultura material, incluindo colares feitos com dentes de elefante-marinho descobertos em sítios arqueológicos maori antigos.

Registros arqueológicos de sítios costeiros na Nova Zelândia e na Tasmânia indicam uma caça intensa e uma forte dependência dos elefantes-marinhos pelas populações indígenas. Junto às mudanças ambientais causadas pelos humanos, isso levou à extinção local da espécie em algumas áreas.

Impactos dos humanos e das mudanças climáticas

Geneticamente, os elefantes-marinhos dessas colônias antigas da Australásia e da Antártica eram distintos, mas relacionados. Eles formavam uma linhagem única no Pacífico, incluindo a Ilha Macquarie. Essa diversidade genética provavelmente resultou de períodos de isolamento em refúgios separados no auge da última Era do Gelo.

No entanto, com as mudanças climáticas modernas e a exploração humana, grande parte dessa diversidade genética foi perdida. As colônias que antes prosperavam na Costa da Terra de Vitória, na Antártica, agora estão extintas.

Enquanto isso, a Ilha Macquarie abriga uma importante colônia reprodutiva que enfrenta seus próprios desafios. As mudanças no gelo marinho da Antártica estão aumentando a distância entre os locais de reprodução na ilha e as áreas de alimentação no oceano. Isso tem afetado a estabilidade da colônia nas últimas décadas.

Um dos resultados mais marcantes de nossa pesquisa é a rapidez com que esses grandes animais, de vida longa, podem responder a pressões ambientais. Os elefantes-marinhos se adaptaram ao clima em mudança expandindo seu território em resposta a novos habitats e recuando quando as condições se tornavam inadequadas.

Entretanto, essa capacidade de movimento e adaptação foi limitada quando enfrentaram a pressão dupla das rápidas mudanças climáticas e da exploração humana, que reduziram drasticamente sua população e diversidade genética em um curto período.

O ecossistema do Oceano Antártico pode se adaptar?

À medida que as mudanças climáticas induzidas pelo ser humano continuam, espera-se que o Oceano Antártico continue a aquecer. Isso causará uma perda ainda maior de habitat para espécies que dependem do gelo marinho e são afetadas por mudanças na disponibilidade de presas.

A história dos elefantes-marinhos oferece uma visão de como os mamíferos marinhos podem responder a essas mudanças. Mas também serve como um alerta: os impactos humanos, somados às pressões ambientais, podem levar a declínios rápidos e, às vezes, irreversíveis.

Nossa pesquisa destaca a importância de conservar a diversidade genética e os habitats dos elefantes-marinhos-do-sul. Esses animais não são apenas um testemunho da adaptabilidade em um mundo em transformação; eles também são um lembrete da vulnerabilidade mesmo das espécies mais resilientes.

Proteger seus refúgios remanescentes e minimizar os impactos humanos sobre suas fontes de alimento e locais de reprodução será crucial se quisermos evitar novas reduções populacionais.

A história dos elefantes-marinhos-do-sul é uma história de sobrevivência, adaptação e perda. Enquanto enfrentamos nossos próprios desafios climáticos, devemos considerar as lições embutidas em sua história genética e ecológica.

É um lembrete de que, embora a natureza muitas vezes se adapte às mudanças e possa resistir a algumas ameaças ao ecossistema, os impactos causados pelos humanos podem empurrar até mesmo as espécies mais adaptáveis além do ponto de recuperação.

Traduzido de The Conversation

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