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ESTUDO

Os efeitos do aquecimento global no Cerrado: mais emissões de gás nocivo e menos produtividade agrícola

Simulações matemáticas mostram que essas consequências para o soja e o milho serão menos intensas no sistema de plantio direto do que no tradicional

29 de junho de 2024
Evanildo da Silveira
5 min. de leitura
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Produção de soja no Cerrado — Foto: Getty images

Não é especulação, é ciência. Um estudo de pesquisadores brasileiros usou modelos matemáticos para concluir que o aquecimento global, causado pelas mudanças climáticas em curso, vai aumentar as emissões de óxido nitroso (N2O), um gás de efeito estufa cerca de 300 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2), nos próximos 50 anos. O trabalho mostrou também que haverá redução de biomassa aérea e da produtividade dos grãos de soja e milho, as duas culturas avaliadas.

As simulações dos modelos matemáticos também indicaram que os sistemas agrícolas que utilizam plantas de cobertura, como o Sistema de Plantio Direto, por exemplo, também terão queda de rendimento com o passar dos anos, mas, em média, em menor grau que as formas tradicionais de cultivo. Também haverá menor emissão de N2O em comparação aos sistemas convencionais.

Para realizar o estudo, pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade de Brasília (UnB) usaram dois modelos de simulações matemáticas. Um deles é o de simulação solo-planta o STICS (do inglês Simulateur mulTIdisciplinaire pour les Cultures Standard). “Ele foi desenvolvido na França e adaptado por nós da Embrapa Cerrados para as nossas condições”, conta o pesquisador dessa unidade da Embrapa, Fernando Macena.

“Esse modelo simula o crescimento, desenvolvimento e a produtividade das culturas de grãos, bem como as emissões de N2O em sistemas de plantio convencional e plantio direto, em função das características climáticas de um determinado local.”

O segundo utilizado no trabalho foi o ETA-HADGEM, um modelo climático global calibrado para a América do Sul por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que simula o clima do futuro, incluindo variáveis como temperaturas máximas e mínimas diárias do ar, radiação solar incidente e chuvas, medidas pela estação meteorológica da Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF), nos três quadrimestres do ano – janeiro, fevereiro, março e abril (final da estação quente e chuvosa); maio, junho, julho e agosto (estação seca e mais fria) e setembro, outubro, novembro e dezembro (início da estação quente e chuvosa).

Os dados gerados pelo ETA-Hadgem apontaram para uma tendência significativa de aumento das temperaturas médias das máximas e mínimas anuais no período de 2021 a 2070 para o local avaliado. “Os resultados do ajuste desse modelo climático indicam, ainda, uma tendência de aumento de até 1,8º C na média de temperaturas mínimas diárias, e 2,2º C na média de temperaturas máximas diárias para o período analisado”, diz Macena.

O aumento mais significativo ocorre no terceiro quadrimestre do ano, que coincide com o início da estação quente e chuvosa (verão) e o início da semeadura e crescimento das culturas na região. “Esses dados de clima gerados pelo ETA-Hadgem alimentaram o modelo Stics, que simulou os impactos dessas mudanças no desenvolvimento e rendimento das culturas estudadas e na emissão de N2O”, acrescenta Macena.

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