Reduzir o consumo de carne, em especial as vermelhas, e aumentar o de frutas, legumes e verduras não representam apenas mudança no hábito alimentar daqueles que prezam por uma alimentação saudável, mas a continuidade de um processo histórico na relação do homem com os alimentos.
Segundo a nutricionista Iramaia Lustosa, Mestre em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) e professora do curso de Nutrição da Universidade de Fortaleza (Unifor), a formação do ser humano acontece, sobretudo, por meio de suas práticas culturais. Assim, o que se consome hoje é resultado de um intercâmbio gastronômico realizado por diferentes civilizações tornando-se difícil dissociar o que seria cultura da questão alimentar.
Adotar hábitos do vegetarianismo, numa sociedade carnívora, não é tão simples. As dificuldades apontadas por quem aboliu a carne das refeições são inúmeras, como a dificuldade de encontrar produtos de boa procedência. A principal queixa está relacionada à cultura do consumo da carne e à falta de informação de proprietários de estabelecimentos que limitam o cardápio apenas às saladas.
Fortaleza (CE) não dispõe de muitas opções voltadas exclusivamente para vegetarianos, confirma Ana Luíza Coelho, Mestre em Nutrição Humana pela Michigan State University (EUA). Contudo, já é observado um movimento para atender à demanda. Alguns locais estão oferecendo cardápio vegetariano, cursos e festivais gastronômicos voltados para este público.
Foi pensando nisso que a farmacêutica e bioquímica Valesca Rabelo criou, há 3 anos, o Espaço Orgânico Grão da Vida dedicado exclusivamente à alimentação vegetariana. No local, são produzidos alimentos orgânicos e isentos de glúten, além sediar a realização de dois encontros mensais, os festivais de pizzas e calzones vegetarianos. “Mudar o hábito alimentar implica não só no consumo saudável, e sim a sua vida social”, diz.
Segundo Madalena Gomes, coordenadora da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) em Fortaleza, embora sejam poucos os espaços vegetarianos, alguns hotéis começam a adaptar suas cozinhas para atender aos hóspedes adeptos da comida vegetariana.
No âmbito nacional, a presidente da SVB, Marli Winckler, reforça os trabalhos para ampliar as discussões sobre vegetarianismo no país. A proposta é que o debate tenha cunho político. Por esta razão, o congresso da SVB, que acontecerá em 2014, em Recife (PE), objetiva “reunir subsídios para defender o vegetarianismo com a elaboração de projetos de leis e campanhas nacionais”, afirma Marli.
Fonte: Diário do Nordeste
Nota da Redação: Além de saudável, a alimentação vegetariana (totalmente livre de carne e derivados de animais) é benéfica ao meio ambiente, aos animais, à sociedade e à saúde. A própria Organização das Nações Unidas, em seu Relatório do Programa Ambiental de 2010, afirmou que o apetite humano por carne e laticínio é uma ameaça ao planeta. Ainda que, por questões culturais, restaurantes e mercados estejam lotados de derivados animais, tornar-se vegetariano não é tão difícil. Fazemos parte do processo de transformação do mundo, não podemos esperar que o mercado se converta para então aderir à essa postura ética. Comer é um ato político, e nossas escolhas individuais fazem a diferença na vida dos animais.