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DIA DOS PRIMATAS

Os chimpanzés não conseguem cozinhar, mas eles adorariam

Novas pesquisas mostram que os chimpanzés têm todas as capacidades cognitivas necessárias para cozinhar – exceto a compreensão de como controlar o fogo.

1 de setembro de 2024
Michael D. Lemonick
4 min. de leitura
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Foto: Cyril Ruoso, Minden, National Geographic

Anualmente no 1º de agosto é celebrado o Dia Internacional dos Primatas, uma data para ensinar mais as pessoas sobre esses animais e incentivar a preservação dos primatas na natureza. Os chimpanzés – os primatas mais próximos de nós, Homo sapiens – possuem um nível de inteligência impressionante.

Os chimpanzés são tão estranhamente parecidos conosco, mas tão diferentes. Mas fica cada vez mais difícil dizer exatamente como eles são diferentes. Entre muitas outras habilidades dos chimpanzés, os primatologistas descobriram que nossos primos evolucionários mais próximos usam lanças para caçar presas, trocam comida por sexobrincam com bonecas e não gostam que drones invadam seu espaço.

A última descoberta: os chimpanzés têm todas as habilidades cognitivas necessárias para o comportamento exclusivamente humano de cozinhar. Eles não fazem isso na natureza porque nunca aprenderam a controlar o fogo. Mas, além disso, de acordo com um estudo publicado na revista acadêmica Proceedings of the Royal Academy B, os cérebros dos chimpanzés estão totalmente equipados para dar o grande “salto culinário” que nossos ancestrais humanos diretos deram no passado remoto.

“Eu adoro essa descoberta”, diz o biólogo evolucionista da Harvard University, nos Estados Unidos, Richard Wrangham, que há muito tempo argumenta que a transição de alimentos crus para cozidos estimulou um aumento drástico na capacidade cerebral dos ancestrais humanos há quase dois milhões de anos, levando ao surgimento de nosso ancestral, o Homo erectus.

A evolução no preparo dos alimentos

A ideia é que a carne e os vegetais cozidos são muito mais fáceis de digerir do que as versões cruas, fornecendo assim mais calorias disponíveis para nossa massa cinzenta sedenta de energia.

evidência arqueológica da culinária, entretanto, data de apenas cerca de um milhão de anos – muito depois do grande salto do cérebro humano. Portanto, esse novo estudo seria um impulso para a ideia de Wrangham. Se os chimpanzés têm a maior parte do equipamento mental para possibilitar o ato de cozinhar, os primeiros humanos provavelmente também o teriam.

Os processos mentais envolvidos na culinária são complexos demais para serem testados em um único experimento, afirma Alexandra Rosati, bióloga evolucionária de Harvard e coautora do estudo. “Requer paciência, cognição orientada para o futuro – está ligado à forma como os animais tomam decisões sobre tempo e valor”, explica ela. “Achamos que era um projeto muito interessante e um tanto maluco para ser realizado.”

No final, Rosati e o coautor Felix Warneken, psicólogo de Harvard, fizeram nove experimentos separados para avaliar diferentes aspectos do pensamento relacionado à culinária. Por exemplo, eles confirmaram que, se tiverem a opção de escolher, os chimpanzés preferem vegetais cozidos a crus, como já havia sido demonstrado em pesquisas anteriores.

Eles também mostraram que os chimpanzés compreendem que cozinhar é um processo – que o alimento é transformado em uma forma mais saborosa quando entra em um forno por alguns minutos. Nesse caso, o “forno” era um recipiente com alimentos cozidos escondidos em um compartimento secreto. Os pesquisadores sacudiram o recipiente para sinalizar aos chimpanzés que algum processo transformava vegetais crus em formas cozidas.

A inteligência dos chimpanzés

Nem todos os animais entenderam imediatamente. Rosita se lembra de um grande macho adulto chamado Maya, que gostava bastante de vegetais cozidos, mas não compreendia muito bem o processo de “cozimento”. Por fim, diz ela, o chimpanzé colocou cautelosamente um pouco de comida crua no recipiente, quase como se estivesse pensando “bem, vou tentar”.

Quando Warneken começou a chacoalhar o recipiente, ela conta, “Maya ficou muito animado. Ele começou a vocalizar e pulou para cima e para baixo. Era praticamente possível ver a lâmpada acender em sua cabeça com a percepção de que sua comida estava sendo ‘cozida’.”

Outra descoberta impressionante, considerando que os chimpanzés não são as criaturas mais pacientes, é que eles optam por não comer um pedaço de batata crua imediatamente, adiando a gratificação pelo tempo necessário para “cozinhar” o alimento. Em um experimento relacionado, os cientistas mostraram que os chimpanzés carregam a comida crua pela sala até o chef em vez de enfiá-la na boca imediatamente. Resistir à tentação não é fácil para nós; é quase impossível para os chimpanzés.

“Estou tão impressionado com a engenhosidade dos autores em conceber esses experimentos e realizá-los de forma tão convincente quanto estou com os resultados”, comenta Wrangham. A psicóloga de Yale, Laurie Santos, especialista em cognição animal, parece igualmente impressionada. “Gosto muito desse estudo”, diz ela, ‘e acho interessante o fato de que os chimpanzés podem ter precursores cognitivos para cozinhar, mesmo que eles não cozinhem’.

Portanto, agora podemos riscar mais um item da lista de habilidades que são exclusivamente humanas – e resistir fortemente ao impulso de colocar um chimpanzé em um avental e torná-lo um concorrente no Top Chef.

Fonte: National Geographic 

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