Uma comunidade de chimpanzés no parque nacional Kibale, no Uganda, enfrentou semanas de doença misteriosa, resultando em várias mortes. A busca por respostas levou o epidemiologista da vida selvagem, Tony Goldberg, e seus colegas até o corpo de Stella, uma chimpanzé adulta recentemente falecida. Em uma rara oportunidade, eles realizaram uma necropsia meticulosa, que revelou sinais de pneumonia grave. Os testes subsequentes identificaram o culpado: o metapneumovírus humano (HMPV), um vírus comum em humanos, mas mortal para os grandes símios.
Esses casos de “zoonoses reversas”, onde humanos transmitiram doenças aos animais, representam uma séria ameaça para as populações de grandes primatas. Em algumas áreas protegidas, essas doenças são uma ameaça maior do que a perda de habitat ou a caça furtiva. Por exemplo, no parque nacional de Kibale, os patógenos respiratórios, como o HMPV, têm sido responsáveis por quase 59% das mortes de chimpanzés em algumas comunidades.
O turismo de grandes primatas, que se tornou vital para a conservação dessas espécies ameaçadas, também é uma fonte de risco. A proximidade entre humanos e primatas pode expor os animais a doenças humanas, levando a surtos mortais. Embora diretrizes tenham sido estabelecidas para minimizar o contato entre turistas e animais, como manter uma distância segura e usar máscaras faciais, muitas vezes essas medidas são desrespeitadas.
Além disso, o contágio não se limita ao turismo. Crianças que frequentam a escola podem contrair doenças comuns e transmiti-las aos primatas quando adultos. Um estudo recente confirmou que os patógenos responsáveis pelas doenças em chimpanzés em Kibale estavam presentes nas crianças locais.
Para abordar esse problema, os esforços estão se concentrando em tornar as crianças locais mais saudáveis, através da educação sobre higiene e outras medidas preventivas. Além disso, são necessárias ações mais amplas, como a implementação rigorosa de regras de biossegurança nos parques e o compromisso dos governos e da indústria do turismo.
Embora os desafios sejam significativos, a conscientização e as mudanças de comportamento podem ajudar a reduzir a propagação de doenças entre humanos e grandes símios, garantindo assim a sobrevivência dessas espécies ameaçadas.