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Os cães, os pátios da vida ou 'Jornada vitalícia'

9 de março de 2017
2 min. de leitura
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Foto: Marcio de Almeida Bueno
Foto: Marcio de Almeida Bueno

Lembro de uma história em quadrinhos do Demolidor, da Marvel. Um menino cego perdia seu melhor amigo – um cachorro – e o herói tentava encontrá-lo. Obviamente o animal é capturado pela ‘carrocinha’ e vai parar em um CCZ para ser eutanasiado. O veterinário ainda comenta sobre “essa bela coleira” antes de dar a injeção fatal. Com os sentidos ultra apurados, o Demolidor passa mal ao entrar no local, tarde demais, pelo cheiro de morte. Fecha parênteses.
Então hoje eu vi uma pessoa conduzindo um enorme cachorro da raça Golden Retriever – é considerado atualmente o top do ranking de ‘cachorro para a família’ – de dentro de um furgão para uma pet shop, aqui perto de casa. O cão estava faceiro, procurando as novidades com o nariz, arrastando quem lhe conduziria pela coleira. E aí fiquei pensando na confiança total que ele tinha nos humanos. Feliz, onde quer que o levassem, como uma criança. E as crianças precisam ser protegidas, neste nosso mundo de espinhos.
Lembro de um cachorrinho famoso na cidade onde morei em parte da infância e pré-adolescência. Ele costumava pegar pacotes de biscoito em supermercados e levá-los para a fêmea e ninhada. Todos o conheciam. Então eu estava na escadaria do meu colégio, fora do horário de aula, e apareceu esse cachorro. Um colega pegou um tijolo e aprontou o arremesso, enquanto chamava o animal pelo nome, de uma forma ardilosamente carinhosa. Ele ia se aproximando. A cena era forte, prenunciando o que viria a acontecer. Eu não lembro o que veio a seguir, se deixei o local, se impedi, se assisti impotente. Apaguei mesmo, deste meu HD cerebral com bug de B12.
Uma confiança extrema do não-humano no humano. Tal é a coisa, que alguns cães ficam ‘bobos’, independente do porte, outros são sempre agressivos, independente do porte. Como se tivessem uma missão a cumprir, e é preciso fazer bonito para seus ‘donos’. Tem uma garagem em Porto Alegre com um pastor alemão enorme, que se joga com tanta força contra a grade quando algum passante se aproxima demais, que instalaram uma rede de metal. O susto é garantido. Ele passa o dia trombando na tal grade, preso à condição de equipamento-de-segurança-doméstica, bastando água e comida uma vez por dia.
“Veja bem, meu patrão / como pode ser bom / você trabalharia no Sol / e eu tomando banho de mar”, canta Milton Nascimento em ‘Caxangá’.
E nas construções, terrenos vazios e pátios da vida, os cachorros batem continência, batem ponto, e cumprem sua jornada vitalícia.

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