Por Ricardo Parra (da Redação)
Desde tempos imemoriais os animais humanos – última espécie a aparecer no planeta, em uma rara convergência entre criacionistas e darwinistas – subjugam outras espécies de animais, seja por necessidade de sobrevivência, seja por qualquer outro motivo torpe. Claro é que o motivo torpe sempre se sobrepõe à sobrevivência; afinal, não precisamos mais lutar contra as feras do último período glacial e dos séculos subsequentes, portanto, quando subjugamos uma espécie hoje, em 2009, é uma questão de supremacia especista.
O ser humano, esquálida imagem daquela que os criacionistas conhecem, se diverte e imputa sofrimento extremo aos animais. E não se enganem porque este sofrimento não se expande apenas em animais “selvagens” (e a humanidade não é selvagem neste sentido?), mas também em animais domesticados há dezenas de séculos.
Poderia aqui fazer um arrazoado histórico da supremacia humana sobre os animais. Exemplos existem aos montes! Não é minha intenção.
Como disse, os domesticados também sofrem em nossas “delicadas” mãos. E para exemplificar um dos extremos deste especismo sórdido e macabro que quero discutir com vocês leitores é a questão destas ignominiosas festas de rodeio. É a canalhice atingindo o zênite do mau-caratismo humano!
Uma praga que se espalhou pelo interior do Brasil, inclusive em cidades nas quais a tradição “country” (esta é boa!) não se fazia presente. Fui a Piracicaba neste fim de semana, cidade a 160 quilômetros de São Paulo, e onde passei grande parte de minha vida. Sou um caipiracicabano morando na metrópole com muito orgulho. E não é a minha surpresa que há poucos dias aconteceu a festa do peão de boiadeiro da cidade? Escrevo tudo em caixa baixa porque a festa é rastaquera! E também porque não me ative à qual edição a “nobre festa” acontece.
Shows com as bandas do momento, artistas se apresentando e os animais na arena sofrendo. E a casa cheia. E isto me entristece, ou melhor, me indigna porque pessoas de bem não deveriam compactuar com o circo de horrores que é o que estas “festas” são.
O que realmente me choca e, portanto me assusta, não obstante não me surpreenda, se refere ao fato de que o público paga para ver animais sofrendo e se divertem com isto. Incrível! Não posso pertencer à mesma espécie destas pessoas que gastam parte do suado dinheiro que ganham para se divertirem… Assim! Diversão é sinônimo de crueldade? Então voltamos à época do auge do Império Romano?
E os artistas? Cantores/cantoras? Muitos destes têm posições politicamente corretas quando o assunto é racismo, intolerância religiosa, sexual, ou ainda preconceito de origem geográfica; mas no que concerne a ganhar dinheiro nestas “festas” de peão… Não há politicamente correto que resista não é? Os reais serão sempre indiscutíveis e bem polpudos.
Não sei como, mas deveríamos pensar e organizar uma discussão ampla para que estes artistas não comparecessem a esta ignominiosa “festa”, para que não fechassem os olhos diante da ganância humana a qual os pobres animais que lá “se apresentam” são expostos. Porque dinheiro é possível ganhar de outras maneiras.
Conversando com pessoas conhecidas que foram à tal festa macabra, todos foram unânimes em afirmar que não gostam de rodeio nem de ver animais sofrendo e que lá foram porque queriam ver/ouvir os artistas que se apresentariam. Enfim, se divertirem.
Uma escusa bem da esfarrapada. Ora, se não apreciam ver animais na arena sofrendo com um monte de idiotas aplaudindo não deveriam ter ido. Porque de uma maneira subreptícia, corroboram para que a tal festa macabra se perpetue perpetrando agonia aos pobres animais.
E voltando à questão da dignidade quero aqui ressaltar que toda e qualquer espécie vivente deste tão maltratado planeta tem esta dignidade, tão aviltada pelo grande “poderoso” que é o homem. Já não basta a domesticação? Já não bastam as várias espécies extintas?
E a dignidade do bicho? Onde fica? Para onde a varreram? Respondo aqui sem titubear: a dignidade do bicho fica no lixo.
Como é possível que as pessoas se divirtam vendo animais sofrerem? Isto eu não entendo nem aceito. Então é normal ver outro ser vivo sofrer, gritar, corcovear e achar divertido? Que espécie somos nós que se alegra com a dor? Seria patético se não fosse bizarro.
E o dinheiro auferido com o sofrimento dos bichos engorda a conta bancária dos espertalhões de plantão.
De que adianta lutar pela preservação da Amazônia? De se criar Reservas Ecológicas? De que adianta se não olharmos também para o que acontece perto de nós: estas festas tétricas se espalhando como metástase de um câncer bem debaixo de nossos narizes e, o que é bem pior, com nossa anuência.
E para terminar o pior de tudo: estas “festas” sádicas agora são correlatas do futebol, do vôlei, da natação. Verifiquem agora o sadismo se tornou esporte. E afiançado em lei.