A humanidade, apesar das regras sociais e dos outros tipos de restrições, goza de livre arbítrio. Segundo pesquisadores, os animais também, desde as moscas até os mais evoluídos.
Claro que a ideia de “livre arbítrio” precisa ser redefinida. Entre os animais, o processo é semelhante, não idêntico.
Os animais têm sempre uma variedade de opções disponíveis para eles. Essas “escolhas” se encaixam numa probabilidade complexa. Entre os seres humanos, as escolhas são vistas como decisões conscientes. E nos animais?
Foi estabelecido há muito tempo que o “comportamento determinístico” – a ideia de que um animal provocado de tal forma vai reagir com a mesma resposta toda vez – não é uma descrição completa do comportamento animal.
Segundo os pesquisadores, mesmo os animais mais simples não são previsíveis. No entanto, a ausência de determinismo não sugere um comportamento completamente aleatório também – é por isso que a pesquisa mostra que o comportamento animal não é nem totalmente restrito, nem totalmente livre.
Os cientistas acreditam que o livre arbítrio seja uma propriedade biológica, um traço de personalidade: o cérebro possui a liberdade de gerar comportamentos e opções.
O mecanismo exato pelo qual os cérebros de todos os animais produzem essa liberdade continua a ser uma questão sem resposta convincente.
Os pesquisadores utilizaram modelos matemáticos para simular a atividade do cérebro em um computador, descobrindo que o que funcionou melhor foi uma combinação de comportamento determinístico e um outro comportamento conhecido como estocástico (que parece aleatório, mas na verdade, segue um conjunto definido de probabilidades).
Essa “estocasticidade” mostra-se, por exemplo, em terremotos. Eles não podem ser previstos com precisão, mas ao longo do tempo se pode perceber que eles se encaixam perfeitamente em uma curva.
Tal como acontece com o comportamento animal, há uma ordem subjacente e a probabilidade de um processo que pode aparecer ao acaso. Segundo os pesquisadores, a probabilidade é a melhor descrição para a “livre escolha animal”, já que lidamos com a situação de que animais não pensam.
Ao pensar, os seres humanos têm todas as opções e, teoricamente, todas as opções têm a mesma probabilidade. Mas na vida real não é bem assim. Existem opções com probabilidades extremamente raras. Os pesquisadores também afirmam que os cérebros podem criar mecanismos que transtornem o elemento probabilístico do comportamento, dependendo da situação em mãos.
Os cientistas acreditam que o livre arbítrio animal seja resultado de uma evolução. A variabilidade que é inerente ao comportamento é um pré-requisito para a sobrevivência em um ambiente competitivo.
Ou seja, um predador não deve ser sempre capaz de adivinhar as ações de sua vítima, mas as ações não devem ser tão aleatórias que incluam opções ainda mais perigosas do que o predador.
No mundo da neurobiologia, a ideia tem certo apoio. Porém, são necessários mais resultados experimentais que correspondam aos modelos matemáticos.
Ainda assim, o debate sobre livro arbítrio é muito mais complexo, e a discussão atual não aborda temas como a consciência, as suas origens, ou se os animais a compartilham.
O livre-arbítrio, como descrito neste estudo, vem com um significado geral, um pré-requisito necessário, mas não está nem perto de ser suficiente para lidar com coisas como moralidade e responsabilidade. Ainda assim, lembram os cientistas, sem essa capacidade muito básica de escolher entre as opções, nós não teríamos que pensar em todas as outras coisas que vêm antes: consciência, educação, etc.
Fonte: Hypescience