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RESGATES

'Órfãos do fogo': mais de 100 animais foram levados a centro de reabilitação do Ibama no AC por conta de queimadas

Incêndios florestais deixam espécies vulneráveis e equipes auxiliam na recuperação e retorno ao habitat natural, em processo que pode levar até mais de um ano. Unidade lançou campanha para arrecadar pelúcias para ajudar nos tratamentos.

29 de setembro de 2024
Jardel Angelim, JAC 2ª edição e g1 AC
6 min. de leitura
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Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre

Os incêndios que atingem todo o Acre deixaram diversas espécies vulneráveis por conta da destruição da floresta. Diariamente, esses animais chegam ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Rio Branco, que pertence ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O Cetas, que fica nas proximidades do Parque Ambiental Chico Mendes, em Rio Branco, já recebeu 105 animais que foram resgatados em áreas de queimadas neste ano. A maior parte chega ferido, outros buscavam abrigo. Em alguns casos, os animais que sobrevivem demoram mais de um ano para se reabilitar e serem devolvidos a natureza.

Desse número, três não resistiram e acabaram morrendo. No local, um tatu, uma mucura e uma jiboia não conseguiram sobreviver. Segundo a chefe da unidade, Elaine Oliveira, entre os que mais chegam, estão a paca de rabo, o quandú, o tamanduá-mirim, o bicho-preguiça e as cobras, além dos macacos.

Ela explica ainda que o retorno desses animais ao habitat natural depende de uma série de fatores, como a idade, a espécie e a condição de saúde.

“Tem animal que é resgatado que já chega aqui em óbito, tem animal que precisa de tratamento, tem muito animal queimado. Tatus e tamanduás chegam com as patinhas queimadas, com a face queimada. As pacas de rabo tem o focinho queimado, barriga queimada. Então, vai depender da extensão da lesão para a gente tratar e recuperar esse animal”, explica.

Em praticamente todas as ocorrências de queimadas, os brigadistas encontram animais próximos das chamas, em perigo, ou mortos. Em alguns cenários, os animais fogem até para áreas urbanas e casas de moradores.

Neste caso, a orientação é ligar para o Corpo de Bombeiros para a captura adequada. Além do fogo, os rios e igarapés secos fazem alguns bichos procurarem outro abrigo. Em um dos casos, um jacaré chegou ao Cetas sem ferimentos. Ele procurava refúgio após o local que ficava ter secado. A situação foi semelhante com de uma jiboia. Ambos serão encaminhados para regiões monitoradas pelo Ibama.

Doação de pelúcias

 Para minimizar os problemas, o Ibama lançou uma campanha denominada “SOS Fauna”. A iniciativa tem como objetivo arrecadar bichinhos de pelúcia para ajudar na adaptação dos animais que ficaram órfãos e precisam ter a sensação de que continuam com a mãe.

“O item bicho de pelúcia para a gente é muito difícil fazer aquisição como instituição pública. Então, a gente está solicitando a colaboração da população em geral, as crianças que veem as imagens dos filhotes sem suas mães, eles são os órfãos do fogo, que a população possa ajudar a gente na doação. Pode ser bichinho usado, se tiver rasgado a gente conserta. O importante é ter esses bichos de pelúcia pra que esses filhotes tenham esse conforto para poder agarrar no bichinho simulando a mãe”, acrescenta Elaine.

Os pontos de coleta em Rio Branco são a sede do Ibama, próxima da Avenida Ceará, o bloco do curso de Medicina Veterinária, na Ufac, e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema). No interior, pode ser entregue na unidade técnica de Brasiléia ou de Cruzeiro do Sul.

Animais feridos durante queimadas

Foto: Asscom/CBMAC

As queimadas no Acre deixam muitas vítimas todos os dias. Além da floresta e das pessoas afetadas com a fumaça e demais problemas respiratórios, os animais sofrem com o fogo e em todo o estado. De janeiro até setembro, de 400 animais de todas as espécies resgatados pelo Corpo de Bombeiros do Acre, pelo menos 30 foram localizados carbonizados, feridos ou em fuga por conta dos incêndios florestais.

De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do Acre (CBMAC), de janeiro até o dia 18 de setembro já foram atendidas 4.787 ocorrências de queimadas, contra 3.117 no mesmo período do ano passado. Esse ano também foram registrados mais de 5 mil focos de calor.

A Operação Fogo Controlado possui 115 militares atuando nessa frente de serviço, em 16 bases operacionais. O capitão Freitas Filho, coordenador da operação, comenta que nesses cenários onde os incêndios estão acontecendo, a fauna amazônica é diretamente afetada. É comum, por exemplo, serpentes e roedores se refugiarem em ambientes urbanos por conta dos incêndios.

“O trabalho do Corpo de Bombeiros é resgatar esses animais e levar para um local seguro. Se estiverem feridos ou não tiver local seguro, em que não há um local para que eles permaneçam, eles são levados para o Cetas, que é do Ibama, que faz a triagem e tratamento desses animais e depois os leva para um local seguro de acordo com um estudo técnico”, afirmou.

Em alguns casos, os animais buscam abrigo até em casas que estão próximas de alguma região de floresta. Por esse motivo, o CBMAC orienta os moradores que não maltratem o animal e liguem para o 193, para que os militares façam o resgate adequado e deem a destinação correta para cada espécie.

“É comum nessa época, especialmente serpentes e roedores, justamente porque eles já estão em situação de desespero. Eles já estão afetados em seu habitat por conta dos incêndios. Então naturalmente eles buscam a cidade como local seguro e a residência das pessoas”, explicou o capitão.

O Corpo de Bombeiros, o Instituto do Meio Ambiente do Acre (Imac) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) fazem a captura e a proteção desses animais.

Fonte: g1

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