“As orcas costumam compartilhar comida umas com as outras. Trata-se de uma atividade pró-social, e uma forma de construir relacionamentos”, explica Jared Towers, diretor da organização canadense Bay Cetology e autor principal do projeto, em comunicado. “O fato de elas também compartilharem com humanos pode demonstrar seu interesse em se relacionar conosco também”.
Para o desenvolvimento da pesquisa, Towers ainda colaborou com Vanessa Prigollini, da Associação de Educação Marinha, no México, e com Ingrid Visser, do Orca Research Trust, na Nova Zelândia. Os resultados encontrados por eles foram publicados na segunda-feira (30) em um artigo científico, publicado na revista Journal of Comparative Psychology.
Interações intencionais com os humanos
Como destaca o jornal Seattle Times, a ideia da pesquisa veio após Towers vivenciar uma dessas interações enquanto observava um grupo de orcas em Alert Bay, no Canadá, em 2015.
Na ocasião, uma dupla de irmãs orcas, conhecidas como Akela e Quiver, aproximaram-se do pesquisador trazendo aves marinhas mortas na boca. “Elas abriram as mandíbulas para soltar as aves, como se as estivessem oferecendo”, lembra Towers. “Depois de alguns instantes, elas pegaram as aves novamente e nadaram para longe. Algo semelhante voltou a ocorrer 2018, quando outra baleia apareceu para lhe oferecer um filhote de foca.
No total, o estudo analisou 34 interações do tipo, ocorridas nas últimas duas décadas. Desse número, 11 casos envolveram orcas se aproximando de humanos nadando na água, 21 enquanto as pessoas estavam a bordo de navios e outros dois na costa.
Para o registro oficial no projeto, os pesquisadores não confiaram apenas na palavra das testemunhas. Para ser incluído, o encontro tinha que ter uma documentação em foto e vídeo, que ainda precisava atender a critérios rigorosos: ela deveria demonstrar uma aproximação por vontade própria do animal, seguida por uma “entrega” intencional de comida na sua frente.
As baleias eram de diferentes idades e sexo, mas todas, exceto uma, pareciam aguardar uma reação. Em alguns casos, elas até tentaram novamente a oferta de alimento (que variava entre peixes, mamíferos, invertebrados, aves, répteis e alga marinha).
“Oferecer itens aos humanos pode incluir simultaneamente oportunidades para as orcas praticarem comportamentos culturais aprendidos, explorarem ou brincarem e, assim, aprenderem, manipularem ou desenvolverem relacionamentos conosco”, escreveram os pesquisadores no estudo. “Considerando as habilidades cognitivas avançadas e a natureza social e cooperativa desta espécie, presumimos que qualquer uma ou todas essas explicações e resultados de tal comportamento sejam possíveis”.
Comportamento similar a animais domésticos
A equipe acrescenta que estas podem ser as primeiras descrições aprofundadas de animais não domesticados se comportando de maneiras normalmente reservadas a animais domésticos. Cães e gatos, por exemplo, às vezes oferecem comida aos seus tutores.
Os registros também podem marcar os primeiros relatos de predadores selvagens empregando propositalmente presas e outros objetos para “explorar diretamente o comportamento humano”. Se forem comprovadas, essas ocorrências “podem destacar a convergência evolutiva do intelecto entre primatas de ordem superior e golfinhos”, como observam os autores.
Fonte: Revista Galileu