A Conferência dos Oceanos das Nações Unidas começou na última segunda-feira, dia 27 de junho de 2022. Reunindo autoridades, acadêmicos, empresas e organizações da sociedade civil de todo o mundo, o evento busca ampliar os compromissos entre os países para aumentar a cooperação e o investimento em soluções inovadoras baseadas na ciência, destinadas a iniciar um novo capítulo na ação global pelo bem do oceano.
Organizado em parceria com os governos de Portugal e Quênia, a Conferência dos Oceanos tem uma extensa programação que avi até até sexta-feira, 1º de julho. Esta é a segunda conferência da ONU dedicada ao oceano. A primeira foi realizada em 2017, em Nova Iorque, ano em que as Nações Unidas declararam o período de 2021 a 2030 como a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável.
“Desde a primeira conferência, houve avanços e compromissos importantes, especialmente em relação à redução do uso de plástico descartável em diversos países e nos instrumentos para aprimorar a gestão da pesca, coibindo práticas predatórias. A economia azul, que pressupõe um desenvolvimento sustentável das diversas atividades econômicas que dependem diretamente do mar, também está ganhando cada vez mais relevância”, analisa Ronaldo Christofoletti, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
Ronaldo é professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e assessor de Comunicação para a Década do Oceano no Brasil. Para ele, é necessário engajar todos os setores interessados em um oceano saudável, incluindo as comunidades tradicionais, iniciativa privada, sociedade civil e o poder público.
“Todos somos influenciados pelo oceano, ainda que não tenhamos consciência disso. Basta lembrar que mais de 50% do oxigênio que respiramos vem das algas marinhas e o clima do planeta depende muito dos mares. Um oceano saudável é fundamental para a economia, alimentação, turismo, transporte, entre outros aspectos. Sem falar na saúde, no bem-estar, na cultura e na tradição”, observa o pesquisador.
Durante o evento em Portugal, os participantes devem fazer um balanço sobre o avanço das metas relacionadas ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 14 – Vida na Água, que busca conservar e usar de forma sustentável o oceano, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento. Os 17 ODS, estabelecidos em 2015, integram a Agenda 2030 da ONU.
Além da programação dedicada aos governos, dezenas de eventos paralelos estão previstos na Conferência, envolvendo universidades, empresas, ONGs e fundações que também devem assumir compromissos.
“Apesar da extrema importância do oceano para a vida no planeta, segundo dados do Relatório Mundial sobre a Ciência Oceânica da Unesco, os gastos com estudos sobre o assunto somam, no máximo, 4% dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento no mundo. Precisamos encontrar formas de ampliar esse suporte”, pontua Janaína Bumbeer, especialista em Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário.
Para Alexander Turra, professor titular do Instituto Oceanográfico da USP, responsável pela Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano e também membro da RECN, a conferência em Portugal deve reforçar a importância de buscar respostas científicas e soluções inovadoras em diferentes áreas. “Será um momento crucial para fortalecermos as articulações, parcerias e ações para a efetiva implementação do ODS 14, mas também para iniciarmos a pactuação da agenda pós-2030, tendo o oceano como elemento central da sustentabilidade global”, frisa o pesquisador.
O professor aponta ainda que a ciência e a inovação devem guiar a construção de planos estratégicos dos países para o futuro da aquicultura, pesca, novos alimentos, fármacos, turismo, transporte marítimo e energia renovável, entre outros temas.
Conforme alerta a Segunda Avaliação Global do Oceano, publicada pela ONU em 2021, as pressões provocadas pelas atividades humanas estão causando elevação do nível do mar, acidificação da água, perda da capacidade dos mares em absorver carbono, destruição de hábitats, pesca não sustentável, invasão de espécies exóticas, formas variadas de poluição e desenvolvimento costeiro desordenado.
Compromisso Global
No primeiro dia do evento, a ONU Meio Ambiente anunciou 21 novos governos signatários do Compromisso Global por uma Nova Economia dos Plásticos, 17 deles na América Latina. No Brasil, dez estados se comprometeram: Alagoas, Bahia, Ceará Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e São Paulo.
Esses governos se unem a mais de 500 signatários alinhados por uma visão comum para uma economia circular dos plásticos, na qual eles nunca se tornam resíduos ou poluição. Através do Compromisso Global, empresas e governos se comprometem a combater a poluição plástica em sua origem, mudando a forma de produzir, usar e reutilizar os plásticos.
Isso significa definir metas ambiciosas para 2025 para eliminar os itens plásticos dos quais não precisamos, inovar para que todos plásticos dos quais necessitamos sejam projetados para poderem ser reutilizados, reciclados ou compostados na prática e em segurança, e circular tudo o que usamos para que esses materiais se mantenham dentro da economia e fora do meio ambiente. Anualmente, os signatários devem relatar o seu progresso.
Com o anúncio dos novos signatários, o número de governos, entre cidades, estados e países comprometidos com a mesma visão para uma nova economia dos plásticos deve subir para 50.
“A adesão de mais governos latinoamericanos ao Compromisso Global demonstra o engajamento crescente da região diante da urgência em se enfrentar a poluição por plásticos. Estabelecer metas concretas, que atuem na causa do problema, e que ajudem a dar escala às soluções de economia circular são fundamentais para garantir uma transição efetiva e adequada ao contexto da região”, explica Luisa Santiago, diretora da Fundação Ellen MacArthur na América Latina.
Uma economia circular para os plásticos traz benefícios ambientais, econômicos e sociais. De acordo com estudos desenvolvidos e apoiados pela Fundação, a estimativa é de que pelo menos 10 bilhões de dólares sejam poupados, em escala global, apenas com a substituição de 20% das embalagens de uso único por alternativas reutilizáveis.
As populações de menor renda seriam especialmente beneficiadas pela redução de custos proporcionadas por esses novos modelos. Além disso, a implementação da economia circular geraria 700 mil empregos líquidos adicionais até 2040, decorrentes dos serviços necessários para garantir a circulação dos materiais.
Fonte: Ciclo vivo