Mesmo as mais valentes máquinas de guerra se rendem diante de um cachorro abanando o rabo.
Em meio à ofensiva de Fallujah, uma das mais sangrentas da guerra do Iraque, o pequeno Lava tirou a sorte grande.
Achado em uma casa abandonada em 2004, o filhote foi adotado por fuzileiros navais dos EUA. E foi ficando, apesar da rígida proibição militar de alimentar ou manter animais.
Virou protagonista de uma história de amor proibido, contada no livro De Bagdá, com Muito Amor, que já vendeu 45 mil cópias no Brasil. Nele, o tenente-coronel Jay Kopelman conta a batalha travada até que Lava pudesse ver o mar da Califórnia.
Na mesma guerra, a ex-soldado britânica Louise Hastie encontrou o gato Simba dentro de um saco de lixo.
Pesquisou e descobriu como mandá-lo para o Reino Unido. O feito lhe rendeu pedidos de ajuda, além de fama como “Bagdhad Cat Lady”.
Depois, mandou para casa Felix, Pudding e outros. “Acho que minha mãe já não tem lugar pra mais nenhum bicho”, diz ela, que trabalha em uma empresa de segurança e fundou a Baghdad Animal Rescue.
A organização uniu-se a outra ONG britânica, a Nowzad, e Louise acaba de se mudar para Cabul, no Afeganistão. Lá, pretende ajudar também burros e cavalos.
A ex-soldado Louise Hastie ficou conhecida como “Baghdad Cat Lady” [Senhora dos Gatos de Bagdá]
após adotar o gato Simba no Iraque e mandá-lo para o Reino Unido, em 2005.
(Foto: Divulgação/Nowzad)
As ONGs são mantidas por doações feitas por meio de seus sites, campanhas em redes virtuais e eventos.
Levar um bichinho do Iraque ou Afeganistão para os EUA ou Reino Unido custa, em média, R$ 7.000, incluindo transporte, documentos e vacinas. A lei britânica exige seis meses de quarentena para bichos de fora da UE.
Apesar da burocracia, há quem se anime em salvar um animal das zonas de guerra.
Mas o conselho é: “Procure um bichinho na sua região”, diz Terri Crisp, chefe da Operação Bagdá Pup, da SPCA International (Sociedade para a Prevenção da Crueldade contra Animais).
A entidade ajuda militares e trabalhadores de empresas terceirizadas a “importar” animais com os quais têm ligação afetiva. Desde 2007, a SPCA ajudou a levar 265 cães do Iraque aos EUA.
O jornalista John Burns, chefe da sucursal do New York Times em Londres, esquece do tempo ao falar sobre a gata Scooter e seus três filhotes – que “viraram” sete durante a quarentena -, que levou do Iraque.
“Não há um dia em que não olho para Scooter e a vejo como um símbolo de sobrevivência e salvação.”
Esquadrão da morte
Em Bagdá, não só a guerra e a miséria espreitam os cães de rua. Sob Saddam Hussein, era rotina noturna soldados saírem à caça de cachorros.
Com a derrubada do ditador iraquiano, em 2003, aliada à deficiência dos serviços públicos, o lixo acumulado nas ruas fez as matilhas se multiplicarem. Há estimados 1,25 a 1,5 milhão de cachorros de rua.
Para conter doenças e ataques, Bagdá lançou um programa de abatimento. Com investimento de 35 milhões de dinares iraquianos (R$ 50 mil), 20 equipes com dois atiradores e dois veterinários circulam sacrificando cães. Em julho, o governo anunciou ter exterminado 58 mil cães de rua em três meses.
Fonte: Folha