A realidade das ONGs de proteção animal em todo o Brasil tem sido cada vez mais difícil. Com o país em crise econômica, as doações têm caído e os preços dos produtos utilizados pelos cães e gatos, como ração, só aumentam. Sem saída, muitas entidades cogitam encerrar as atividades.
Na região de Campinas, no interior de São Paulo, pelo menos três ONGs enfrentam dificuldades. Uma delas é a Associação Amigos dos Animais de Campinas (AAAC), que abriga atualmente 900 gatos e mil cães. Presidente da entidade, Flávio Lamas revela que os custos para manter os animais são altos e que a ração tem subido, em média, 6%, o que dificulta ainda mais o trabalho realizado pela ONG.
“A situação é crítica, nós temos um gasto mensal de cerca de R$ 100 mil todos os meses. Então a gente precisa cobrir essa despesa que são 14 toneladas de ração, 15 funcionários, manutenção, veterinário, medicamentos”, disse Lamas em entrevista ao G1. “A gente acorda de madrugada pensando no que vai fazer. Tem uma conta vencendo amanhã, tem outra vencendo depois”, acrescentou.
A situação também tem sido difícil para a fundadora do Abrigo Amigo, Bruna Campagnolli. “A gente já chegou a um ponto, mais de uma vez, em pensar em desistir”, lamentou. Atualmente, o projeto mantém cerca de 30 animais em lares temporários.
“Eles ficam em casas de voluntários que a gente chama de lar temporário. Eles cuidam temporariamente desse animal até que a gente mantenha todos saudáveis, castrados, vacinados, para eles poderem ir para uma família”, explicou. “As contas nos hospitais, nas clínicas veterinárias, nas internações, a gente precisa de dinheiro em espécie para pagar. Então hoje a nossa maior dificuldade é arrecadar dinheiro em espécie”, completou.
E embora cada caso gere um gasto considerável, há resgates ainda mais custosos. É o caso da cadela Flor. “A gente acabou de vir de um caso, a Flor, que foi um dos mais importantes no abrigo. Foram R$ 45 mil de despesas entre hospital, cirurgia, banco de sangue, então é um valor muito expressivo”, lembrou Bruna.
Para a ONG Amor de Bicho, fechar as portas pareceu ser a única alternativa. Com uma dívida de R$ 80 mil, os membros da entidade se viram sem saída, mas ao anunciar que fechariam as portas, uma onda de solidariedade se formou e a quantia foi arrecadada.
“A gente estava com uma dívida de R$ 80 mil em várias clínicas, sendo que os outros custos estavam cobertos. Quer dizer, não faltava só R$ 80 mil, a gente gastou aluguel, vacina, castrações”, contou Ana Carolina Pimenta, que integra a associação.
Através das redes sociais, a ONG agradeceu o apoio de todos e anunciou o retorno de um bazar como forma de gerar renda para a entidade. “Vocês têm sido incríveis! Obrigada mesmo por toda ajuda que tanta gente tem nos oferecido, por cada compartilhamento, por cada doação. Estamos emocionadas com o tanto de carinho que recebemos, além de muito apoio e ideias. Vamos conseguir pagar contas urgentes, mas já estamos preocupadas com as contas dos meses seguintes”, escreveu. “Já começamos a trabalhar em mais alternativas de arrecadação e por isso, o bazar da Amor de Bicho está de volta”, completou.
“Pessoal de Campinas, região e São Paulo, vocês podem contribuir para o nosso bazar doando roupas, sapatos, acessório, utensílios de casa e decoração, sempre novos ou em bom estado de conservação. Dessa forma, vocês nos ajudam a continuar com a ONG sem gastar nada!”, acrescentou.
A instituição tem pontos de arrecadação em Campinas e em São Paulo. São eles: Guaporé Taquaral (Av Monsenhor Jerônimo Baggio, 554, Campinas – seg a sex das 9h às 19h, sab das 9h às 17h); Guaporé Norte e Sul (Av José de Souza Campos, 282, Campinas – seg a sex das 9h às 19h, sab das 9h às 17h); Extra Classe – Barão Geraldo (Rua Catharina Signori Vicentin, 610, Campinas – seg a sex, das 9h às 11h e 13h às 17h); Wizard Chácara Primavera (Rua Jasmin, 497, Campinas – seg a sex das 7:30h às 22h, sab das 7:30h às 13h). Os locais para entrega de itens na capital do estado estão situados no Centro, na Zona Oeste e na Zona Sul e devem ser consultados diretamente com a instituição através das redes sociais do projeto.
O objetivo da instituição é dar uma nova vida a cães como Diamante, que sofreu com uma fratura de fêmur em Hortolândia (SP) até ser resgatado e tratado pela ONG. Hoje, ele espera por adoção, mas sofre com o preconceito dos adotantes por ser um animal com deficiência, embora viva uma vida normal.
“Os tutores pediram ajuda lá em Hortolândia. Ele estava amarrado, com uma fratura exposta há três dias sem socorro, sem remédio para dor, nada. Nós resolvemos assumir. Ele então teve que receber todos os cuidados e o ortopedista indicou a amputação, pela gravidade da lesão Vive muito bem com três patinhas e está para adoção”, concluiu Ana Carolina.
Não compre, adote
A exploração de animais para venda é uma prática cruel que objetifica cães e gatos, reduzindo-os à condição de mercadorias. Por serem tratados como objetos, esses animais são alvos frequentes de maus-tratos, situação que só poderá ser coibida com o fim do comércio.
Engajados na luta em prol dos animais, ativistas incentivam a adoção e pedem que a sociedade se conscientize sobre a necessidade de abolir a venda de cachorros e gatos. Os protetores de animais explicam que, ao comprar um animal, o comprador não só compactua com a objetificação de um ser vivo, como incentiva o comércio como um todo, incluindo o que é feito pelos criadores que negligenciam e maltratam os animais.
Enquanto milhares de animais são comprados Brasil afora, outros milhões padecem nas ruas. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 30 milhões de animais vivem em situação de rua no país. Sem cuidados, eles passam fome e sede, sofrem com o calor, o frio e as chuvas, adoecem e agonizam até a morte por conta de doenças e de atropelamentos. Também são vítimas de agressões e até de estupros. Frágeis e inocentes, o pedido que eles fariam, caso pudessem falar, seria: não compre, adote um animal abandonado.