A ONG Projeto CEL (Casa, Esperança e Liberdade) foi inaugurada pela paranaense Eliete Brognoli, em 2003, que já ajudava animais abandonados desde 1993, quando Eliete chegou a São Paulo e recolheu a primeira cachorrinha em situação de rua. Antes que se desse conta, já eram mais de 60 animais abrigados em sua casa.
Com um custo mensal de R$ 30 mil, o Projeto CEL conta com a ajuda de doações por meio de uma plataforma de financiamento e de empresas que realizam doações esporádicas de alimentos. O valor necessário para arcar com todos os custos geralmente não é atingida.
Eliete afirma que a ONG consegue se equilibrar tendo que negociar com alguns credores para que a dívida seja acordada e o pagamento seja feito conforme o possível. “Sempre falo que a prioridade é a vacina, ração e a castração, porque sem isso a ONG realmente para”, conta a presidente da CEL.
Para ajudar nos gastos também é cobrada uma taxa simbólica pela adoção, pois os novos tutores já recebem os animais castrados, com vermífugos e antipulgas. Os animais vão para os novos adotantes já com microchips para ajudar na identificação e com as vacinas todas em dia.
“Também somos bastante chatos nos critérios ao conhecer um adotante. Queremos saber como é a vida das pessoas, se já tiveram animais e se a casa é fechada e segura, entre outros detalhes”, conta Eliete ao Canal do Pet.
“Muitos adotantes reclamam porque acham que vão adotar um animal e em qualquer lugar que colocarem está bom, mas não é assim! E, muitas vezes, quando recusamos adoções, nós passamos por perrengues bem grandes. Mas o nosso intuito é salvar o maior número de animais e encontrar bons lares. Nós sempre falamos que queremos um lar para tomar conta de um animal, e não queremos entregar um animal para tomar conta de um lar”, afirma.
Com essa postura, que visa o bem-estar dos animais, Eliete afirma que diminui muito a quantidade de pessoas e o número de animais que poderiam ser encaminhados para novos lares. “Mas não adianta nós salvarmos e termos tantos gastos. Eu não tenho coragem entregar um animal sabendo que ele não será tão bem tratado quanto ele é na ONG. Aqui é apertado, é lotada, mas aqui eles recebem amor, alimento e são felizes. Prefiro que eles fiquem com a gente do que serem adotados e, depois, voltarem para as ruas”, declara.
Conheça a história
A fundadora da ONG conta que, quando chegou a São Paulo e começou a recolher esses animais de rua, mesmo sem grandes reservas financeiras, ainda conseguia manter alimentação, veterinário e vacinas para todos os animais. Porém, com o tempo, as pessoas tomaram conhecimento e passaram a ligar pedindo ajuda, ou simplesmente abandonando animais à sua porta, começando o acúmulo de animais e as dificuldades financeiras.
“Nós passamos por períodos muito tristes, de muito sufoco, realmente desesperador. Por estarmos com um número muito grande de animais e sem recursos para manter veterinários, vacinas e castração”, conta.
Eliete diz que, quando o dinheiro acaba, as clínicas veterinárias também vão fechando as portas, “quando você cuida de animais de rua e pede ajuda para que façam ao menos pelo custo dos medicamentos, eles acabam te bloqueando. Isso aconteceu na época em que comecei a acolher os
animais e ainda não tinha a ONG”.
Além das dificuldades financeiras para cuidar dos animais, ainda começaram a surgir denúncias por parte de vizinhos que reclamavam da perturbação de sossego e a vinda do Centro de Controle de Zoonoses, que recolhia os animais para sacrificá-los.
“Foram brigas ao ponto de quando chegavam os agentes da Zoonoses eu já falava para a veterinária ‘você estudou para salvar, não para matar. Se quiser entrar para olhar os meus animais, entre. Agora, se colocar a mão para tirar um animal daqui, ou me mata ou eu te mato’”, relembra, mencionando muitos momentos de desespero.
Por cuidar dos animais, Eliete conta que já foi para o banco dos réus, devido às denúncias de vizinhos, que reclamavam dos latidos, que para eles não passavam de perturbação. “Precisei correr para alugar um terreno no interior de São Paulo e construir umas baias porque o juiz deu um prazo para que eu retirasse os animais da minha casa”, ela conta em tom emocionado.
“Foi uma época muito triste em que cheguei a sentar na escada e falar com Deus: ‘Você criou esses animais e agora tem que achar uma solução, eu não sei mais o que fazer’. Estava superlotada e sem condições para manter uma boa alimentação. Eu passava horas da noite com o meu marido, cortando retalhos de carne, fazendo angu, pegando sobra de legumes na feira para que de manhã, quando estivesse frio, a gente pudesse alimentar os cães e os gatos”.
Com um novo terreno
Após alugar o novo terreno, surgiu a ideia de montar a ONG para que conseguissem fazer eventos de adoção. “Surgiu uma ONG que fazia castrações gratuitas, eu atravessei São Paulo e fui até Paraisópolis, com o carro cheio de animais para castrar. Sem saber realmente o que eu ia encontrar pela frente, eu não sabia como eram esses programas”, conta.
Conseguindo castrar os animais e construir algumas baias e alguns animais foram levados para um sítio, mas foi aí que uma nova dificuldade apareceu. “Em sítios você depende de caseiros, os animais estavam acostumados a conviver com a gente, na nossa casa, e muitos deles entraram em depressão e vieram a óbito. Animais que eram jovens e teriam muita vida pela frente, mas por tristeza de se verem confinados em um local desconhecido, acabaram morrendo”, relembra em tom de pesar.
Com a ONG inaugurada, Eliete precisou ir embora da rua onde morava e passou a conversar com amigos para tentar montar uma clínica onde pudesse castrar os animais e ter um médico veterinário que prestasse socorro.
“Quando nos mudamos para a Zona Leste [de São Paulo] a situação dos animais era terrível, tinham crianças que usavam filhotinhos como bola. Animais ficavam caídos pelas ruas, eu já recolhi animais que não tinham mais um único lugar do corpo que não estivesse com buracos, cobertos por
bicheiras”, ela conta.
A clínica foi montada no intuito de ajudar os animais e também para ajudar famílias, que amavam seus animais, mas não tinham condições de arcar com os custos veterinários. “Foi aí que percebemos que não estavam vindo apenas pessoas carentes, mas aqueles que tinham recursos para usufruir de um atendimento gratuito”, ela conta.
A ONG então passou a cobrar pelos medicamentos, para ter uma forma de pagar o veterinário que fazia os atendimentos. “Por muitos anos fizemos milhares de procedimentos cirúrgicos, castrações, entre outros atendimentos. Buscamos também conscientizar as pessoas, ao menos da minha região, sobre a posse responsável e aquele número enorme de animais perambulando pelas ruas foi diminuindo consideravelmente”.
Com o tempo a ONG passou a receber visitas, intermediadas por um professor universitário, que levava alunos para visitas à ONG, para que vissem como era a realidade de animais abandonados. A ONG foi convidada também a fazer eventos de adoção na universidade Anhembi Morumbi.
Em um dos eventos, uma das professoras era também responsável por uma Pet Center (hoje conhecida como Petz), gostou do trabalho e convidou a Projeto CEL para realizar feiras de adoção nas dependências da loja. Eliete assume ter ficado com medo, por se tratar de uma loja grande e que era
conhecida por vender animais, mas aceitou a experiência. “Deu certo e estamos lá já há quase 15 anos”, conta.
Por meio de um programa chamado “Adotar é tudo de bom”, em parceria entre uma grande fabricante de alimento para cães e a loja, a ONG passou a ganhar doações de ração, o que ajudou muito a vida dos animais. Porém, novos problemas vieram.
“Com isso o número de animais também aumentou muito, chegando um tempo em que já estávamos com mais de 600, e a crise veio e a dificuldade aumentou”, ela lamenta. Com a crise financeira, a ONG precisou encerrar a clínica onde realizava os atendimentos, pois não havia mais condições para
trabalhar, conta Eliete, lembrando que as pessoas deixaram de levar animais para castrar e apenas os abandonavam em frente ao portão.
Mais uma mudança
Com a crise, além de fechar a clínica, Eliete conta que foi preciso também mudar o endereço da ONG para que, aos poucos, pudessem diminuir o número de animais e poder se reestruturar.
“A nossa despesa começou a ficar muito alta porque não tinha mais onde pôr os animais e precisamos apelar para hotéis. Mas nos hotéis nós pagamos pela hospedagem, pela alimentação, castração, vacinas e isso para o animal ficar lá por algum período. E isso nos colocou em um buraco financeiro muito grande e até hoje não consegui mais reabrir a clínica veterinária por falta de condições financeiras”, ela conta.
Hoje, com uma lotação de cerca de 250 animais, a ONG tem uma despesa que pode chegar a R$ 30 mil.
O valor é revertido para tratamentos veterinários, a compra de ração, medicamentos, castração e vacinas, mas dificilmente esse valor é atingido.
Muitas pessoas com recursos se aproveitam para receber atendimentos sem custos, o que prejudica quem realmente necessitava. O abrigo já foi denunciado diversas vezes por “perturbação do sossego” e muitos animais são abandonados na porta da ONG.
A ONG Projeto CEL (Casa, Esperança e Liberdade) foi inaugurada pela paranaense Eliete Brognoli, em 2003, que já ajudava animais abandonados desde 1993, quando Eliete chegou a São Paulo e recolheu a primeira cachorrinha de rua. Antes que se desse conta, já eram mais de 60 animais abrigados em sua casa.
Com um custo mensal de R$ 30 mil, o Projeto CEL conta com a ajuda de doações por meio de uma plataforma de financiamento e de empresas que realizam doações esporádicas de alimentos. O valor necessário para arcar com todos os custos geralmente não é atingida.
Eliete afirma que a ONG consegue se equilibrar tendo que negociar com alguns credores para que a dívida seja acordada e o pagamento seja feito conforme o possível. “Sempre falo que a prioridade é a vacina, ração e a castração, porque sem isso a ONG realmente para”, conta a presidente da CEL.
Para ajudar nos gastos também é cobrada uma taxa simbólica pela adoção, pois os novos tutores já recebem os animais castrados, com vermífugos e antipulgas. Os animais vão para os novos adotantes já com microchips para ajudar na identificação e com as vacinas todas em dia.
“Também somos bastante chatos nos critérios ao conhecer um adotante. Queremos saber como é a vida das pessoas, se já tiveram animais e se a casa é fechada e segura, entre outros detalhes”, conta Eliete ao Canal do Pet.
“Muitos adotantes reclamam porque acham que vão adotar um animal e em qualquer lugar que colocarem está bom, mas não é assim! E, muitas vezes, quando recusamos adoções, nós passamos por perrengues bem grandes. Mas o nosso intuito é salvar o maior número de animais e encontrar bons lares. Nós sempre falamos que queremos um lar para tomar conta de um animal, e não queremos entregar um animal para tomar conta de um lar”, afirma.
Com essa postura, que visa o bem-estar dos animais, Eliete afirma que diminui muito a quantidade de pessoas e o número de animais que poderiam ser encaminhados para novos lares. “Mas não adianta nós salvarmos e termos tantos gastos. Eu não tenho coragem entregar um animal sabendo que ele não será tão bem tratado quanto ele é na ONG. Aqui é apertado, é lotada, mas aqui eles recebem amor, alimento e são felizes. Prefiro que eles fiquem com a gente do que serem adotados e, depois, voltarem para as ruas”, declara.
A fundadora da ONG conta que, quando chegou a São Paulo e começou a recolher esses animais de rua, mesmo sem grandes reservas financeiras, ainda conseguia manter alimentação, veterinário e vacinas para todos os animais. Porém, com o tempo, as pessoas tomaram conhecimento e passaram a ligar pedindo ajuda, ou simplesmente abandonando animais à sua porta, começando o acúmulo de animais e as dificuldades financeiras.
“Nós passamos por períodos muito tristes, de muito sufoco, realmente desesperador. Por estarmos com um número muito grande de animais e sem recursos para manter veterinários, vacinas e castração”, conta.
Eliete diz que, quando o dinheiro acaba, as clínicas veterinárias também vão fechando as portas, “quando você cuida de animais de rua e pede ajuda para que façam ao menos pelo custo dos medicamentos, eles acabam te bloqueando. Isso aconteceu na época em que comecei a acolher os
animais e ainda não tinha a ONG”.
Além das dificuldades financeiras para cuidar dos animais, ainda começaram a surgir denúncias por parte de vizinhos que reclamavam da perturbação de sossego e a vinda do Centro de Controle de Zoonoses, que recolhia os animais para sacrificá-los.
“Foram brigas ao ponto de quando chegavam os agentes da Zoonoses eu já falava para a veterinária ‘você estudou para salvar, não para matar. Se quiser entrar para olhar os meus animais, entre. Agora, se colocar a mão para tirar um animal daqui, ou me mata ou eu te mato’”, relembra, mencionando muitos momentos de desespero.
Por cuidar dos animais, Eliete conta que já foi para o banco dos réus, devido às denúncias de vizinhos, que reclamavam dos latidos, que para eles não passavam de perturbação. “Precisei correr para alugar um terreno no interior de São Paulo e construir umas baias porque o juiz deu um prazo para que eu retirasse os animais da minha casa”, ela conta em tom emocionado.
“Foi uma época muito triste em que cheguei a sentar na escada e falar com Deus: ‘Você criou esses animais e agora tem que achar uma solução, eu não sei mais o que fazer’. Estava superlotada e sem condições para manter uma boa alimentação. Eu passava horas da noite com o meu marido, cortando retalhos de carne, fazendo angu, pegando sobra de legumes na feira para que de manhã, quando estivesse frio, a gente pudesse alimentar os cães e os gatos”.
Após alugar o novo terreno, surgiu a ideia de montar a ONG para que conseguissem fazer eventos de adoção. “Surgiu uma ONG que fazia castrações gratuitas, eu atravessei São Paulo e fui até Paraisópolis, com o carro cheio de animais para castrar. Sem saber realmente o que eu ia encontrar pela frente, eu não sabia como eram esses programas”, conta.
Conseguindo castrar os animais e construir algumas baias e alguns animais foram levados para um sítio, mas foi aí que uma nova dificuldade apareceu. “Em sítios você depende de caseiros, os animais estavam acostumados a conviver com a gente, na nossa casa, e muitos deles entraram em depressão e vieram a óbito. Animais que eram jovens e teriam muita vida pela frente, mas por tristeza de se verem confinados em um local desconhecido, acabaram morrendo”, relembra em tom de pesar.
Com a ONG inaugurada, Eliete precisou ir embora da rua onde morava e passou a conversar com amigos para tentar montar uma clínica onde pudesse castrar os animais e ter um médico veterinário que prestasse socorro.
“Quando nos mudamos para a Zona Leste [de São Paulo] a situação dos animais era terrível, tinham crianças que usavam filhotinhos como bola. Animais ficavam caídos pelas ruas, eu já recolhi animais que não tinham mais um único lugar do corpo que não estivesse com buracos, cobertos por
bicheiras”, ela conta.
A clínica foi montada no intuito de ajudar os animais e também para ajudar famílias, que amavam seus animais, mas não tinham condições de arcar com os custos veterinários. “Foi aí que percebemos que não estavam vindo apenas pessoas carentes, mas aqueles que tinham recursos para usufruir de um atendimento gratuito”, ela conta.
A ONG então passou a cobrar pelos medicamentos, para ter uma forma de pagar o veterinário que fazia os atendimentos. “Por muitos anos fizemos milhares de procedimentos cirúrgicos, castrações, entre outros atendimentos. Buscamos também conscientizar as pessoas, ao menos da minha região, sobre a posse responsável e aquele número enorme de animais perambulando pelas ruas foi diminuindo consideravelmente”.
Com o tempo a ONG passou a receber visitas, intermediadas por um professor universitário, que levava alunos para visitas à ONG, para que vissem como era a realidade de animais abandonados. A ONG foi convidada também a fazer eventos de adoção na universidade Anhembi Morumbi.
Em um dos eventos, uma das professoras era também responsável por uma Pet Center (hoje conhecida como Petz), gostou do trabalho e convidou a Projeto CEL para realizar feiras de adoção nas dependências da loja. Eliete assume ter ficado com medo, por se tratar de uma loja grande e que era
conhecida por vender animais, mas aceitou a experiência. “Deu certo e estamos lá já há quase 15 anos”, conta.
Por meio de um programa chamado “Adotar é tudo de bom”, em parceria entre uma grande fabricante de alimento para cães e a loja, a ONG passou a ganhar doações de ração, o que ajudou muito a vida dos animais. Porém, novos problemas vieram.
“Com isso o número de animais também aumentou muito, chegando um tempo em que já estávamos com mais de 600, e a crise veio e a dificuldade aumentou”, ela lamenta. Com a crise financeira, a ONG precisou encerrar a clínica onde realizava os atendimentos, pois não havia mais condições para
trabalhar, conta Eliete, lembrando que as pessoas deixaram de levar animais para castrar e apenas os abandonavam em frente ao portão.
Mais uma mudança
Com a crise, além de fechar a clínica, Eliete conta que foi preciso também mudar o endereço da ONG para que, aos poucos, pudessem diminuir o número de animais e poder se reestruturar.
“A nossa despesa começou a ficar muito alta porque não tinha mais onde pôr os animais e precisamos apelar para hotéis. Mas nos hotéis nós pagamos pela hospedagem, pela alimentação, castração, vacinas e isso para o animal ficar lá por algum período. E isso nos colocou em um buraco financeiro muito grande e até hoje não consegui mais reabrir a clínica veterinária por falta de condições financeiras”, ela conta.
Eliete conta que hoje o número de animais já é menor, por volta de 200 e 250 animais – podendo chegar a 300 quando acontece algum resgate e grande escala. “Sempre naquela luta de recolher, castrar, vacinar e tentar encaminhar para a adoção. Já não temos mais o apoio da marca de ração, mas ainda fazemos os eventos de adoção. De vez em quando recebemos algumas doações, mas a maioria mantemos por meio do apoio de madrinhas e, vez ou outra conseguimos alguma parceria e recebemos ração para nos manter por um mês ou dois”, relata.
Fonte: IG Canal do Pet