EnglishEspañolPortuguês

ONG do Ceará resgata e reabilita mamíferos marinhos encalhados na praia

6 de dezembro de 2010
6 min. de leitura
A-
A+

Se depender dos técnicos da Aquasis, peixes-bois, golfinhos e baleias que encalharem com vida no litoral cearense serão devolvidos ao mar ainda mais saudáveis. O Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos (CRMM), mantido pela ONG no Sesc Iparana desde 2001, qualifica a cada dia o trabalho de socorro aos animais. Quanto mais rápido for o resgate das espécies que chegam com vida à praia, aumentam as chances de sobrevivência. No entanto, a maioria já chega morta, principalmente botos-cinzas. Segundo a biólogo da entidade, Ana Carolina Meireles, aumentou a média de encalhes em praias do Estado, mas também está maior a quantidade de registros e tentativas de resgate. De janeiro até início deste mês foram seis peixes-bois e 86 cetáceos, entre baleias e golfinhos, estando estes na maior parte.

(Foto: Aquasis)

Por enquanto, no caso do peixe-boi, o Centro de Reabilitação cumpre a função de restabelecer a saúde do animal resgatado com vida, e transferi-lo para o Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Centro de Mamíferos Aquáticos, do Instituto Chico Mendes (ICMBio), em Itamaracá (PE), onde é feito o trabalho de readaptação ao habitat natural até a devolução ao mar. Porém, está previsto para iniciar em janeiro as obras de ampliação da unidade em Iparana. A partir de outubro, a Aquasis prevê fazer aqui mesmo no Estado a recuperação do mamífero até a fase da soltura na natureza.

Como é mais resistente, em comparação aos golfinhos, o peixe-boi resgatado permite que os técnicos da Aquasis prestem o socorro necessário. Conforme explica o médico veterinário da ONG, Vitor Carvalho, tão logo o mamífero é encontrado, a partir da colaboração das comunidades litorâneas, é levado à sede em Iparana, onde são feitos os primeiros exames clínicos para verificar possíveis ferimentos. Geralmente são filhotes, que apresentam algum problema nos olhos, devido às condições de encalhe – atrito na areia ou exposição ao sol.

O veterinário faz a biometria, para verificar tamanho e peso do animal. Sobre um colchão, o filhote é molhado aos poucos para favorecer a aclimatação da temperatura do corpo com a da água do tanque onde ficará enquanto permanecer na unidade de Iparana.

Exame clínico é feito em peixe-boi por técnicos da ONG. O trabalho conta com voluntários universitários. (Foto: Aquasis)

Segundo Vitor Carvalho, a maioria dos peixes-bois é de recém-nascido que não sabe nem nadar direito. Daí ser necessário o tanque ficar com uma coluna d´água baixa, cerca de 60 cm, para facilitar a adaptação bem como o manejo durante o período de assistência. É retirado sangue para hemograma completo, o que ajuda no diagnóstico de alguma enfermidade. A hidratação é iniciada com água de coco, em mamadeiras a cada três horas. Já no primeiro dia a dieta amplia-se com leite de soja.

A alimentação é mantida quatro vezes ao dia, às 8, 11, 14 e 17h. Para passar o jejum noturno, o filhote também recebe algumas folhas de alface. Vitor Meireles diz que, geralmente, o peixe-boi não chega com quadro de saúde grave. Tanto é assim que a taxa de sobrevivência desses animais resgatados com vida chega a 95%. “Um fator que contribui é o rápido resgate”, afirma ele. Para isto, o trabalho de orientação feito pela ONG junto às comunidades litorâneas é permanente. A Aquasis distribui cartazes contendo as informações básicas sobre como proceder ao encontrar botos, baleias, golfinhos ou peixes-bois, vivos ou mortos, e os telefones para ligação gratuita.

É comum os filhotes apresentarem problemas como cólicas intestinais, pneumonia, infecção no umbigo, desnutrição ou anemia. O veterinário observa que, com os cuidados prestados pela equipe técnica da ONG, na primeira semana já é possível reverter o quadro. O hemograma e a biometria são repetidos semanalmente. A Aquasis já chegou a ficar por até dois meses com um filhote de peixe-boi, antes de sua transferência para Itamaracá.

A bióloga Ana Carolina explica que os recém-nascidos encalham na praia porque, com a crescente degradação ambiental nos ecossistemas marinhos, fica cada vez mais difícil as fêmeas darem à luz em áreas de estuários. Vão para o alto mar, onde a cria não tem condições para vencer as correntes marinhas. Daí se perdem da mãe e vão parar na praia.

Socorro no local

No caso dos golfinhos, os mamíferos são bem mais sensíveis ao manejo de resgate. Não suportam o estresse, barulhos e transporte. Quando encalham, é porque estão com alguma enfermidade. A maioria já chega morta. Quando encalham vivos, recebem os primeiros socorros em lugar próximo, como um rio ou lagoa. É quando os técnicos da Aquasis se transferem para o local com todos os equipamentos necessários à assistência. Vitor Meireles conta um caso ocorrido em abril passado, de um golfinho nariz de garrafa (tipo Flipper), que ficou durante um dia sendo assistido em um braço de rio próximo ao Barro Preto, em Aquiraz. Depois foi transportado ao Centro de Reabilitação em Iparana, onde passou cerca de 10 horas na piscina com água salgada recebendo os cuidados necessários para restabelecimento contra o quadro de infecção intestinal.

A sede da aquasis funciona no Sesc em Iparana, onde há duas piscinas apropriadas para o tratamento dos animais. Uma vez recuperados, são transferidos para unidade em Pernambuco (Foto: Aquasis)

O animal foi solto em alto-mar, após o Porto do Mucuripe. No entanto, voltou a encalhar na Praia do Titanzinho, com ferimentos ao ter ficado preso em rede de pesca. Ao ser resgatado novamente para a unidade de Iparana, passou cinco dias sendo tratado com pomadas cicatrizantes e alimentado com peixes. Uma vez saudável, foi solto ao mar, na altura do Marina Park, em Fortaleza. Conforme explica Ana Carolina, o sucesso da soltura está em não haver novo encalhe. Por até dois dias, a Aquasis monitora a região para constatar que deu tudo certo.

Para realização de todo o trabalho, a Aquasis conta com parcerias importantes. A Fecomércio e o Sesc são os primeiros, na unidade em Iparana. Também tem o apoio do Corpo de Bombeiros e Capitania dos Portos na soltura dos mamíferos no mar. Já o Projeto Manati, mantido pela ONG, tem o patrocínio do Programa Petrobras Ambiental desde janeiro deste ano.

Encalhe

86 cetáceos, entre baleias e golfinhos (boto cinza, na maioria), vivos e mortos, encalharam no litoral cearense de janeiro a início de dezembro. Também foram resgatados seis peixes-bois

Mais informações

Aquasis – Sesc Iparana Caucaia – Região Metropolitana de Fortaleza (90xx85) 3318.4911
(90xx85) 9675.0665

Fonte: Diário do Nordeste

Você viu?

Ir para o topo