A coordenadora da organização Sharkproject International nos Açores, denunciou nesta quarta-feira que há pescadores espanhóis desmembrando tubarões-azuis no arquipélago, antes de chegarem em terra, contrariando uma diretiva europeia que entrou em vigor a 6 de Julho. O governo regional garante que está atento.
“A nova lei diz agora que não é possível remover as barbatanas aos tubarões, têm de ser descarregados com as barbatanas e com a cabeça, ou seja, o animal completo, mas em 5 de julho voltou a acontecer na Horta e garanto-lhe que este barco não se importou com a lei”, denunciou Friederike Kremer.
Aquela organização não-governamental (ONG) internacional tem como objetivo proteger os tubarões enquanto “predadores mais importantes do ecossistema” e atua em parceria com organizações de países de todo o mundo. Friederike Kremer assegura não estar contra os pescadores açorianos, alegando que estes respeitam a pesca sustentável, ao contrário de barcos estrangeiros, como as embarcações espanholas, que diz serem os grandes responsáveis pela dilapidação do tubarão-azul nos mares dos Açores.
“De momento, contamos aproximadamente cinco mil toneladas de tubarão-azul que é descarregado todas as semanas somente na Horta. Isto é uma loucura, estamos falando de 100 mil toneladas de tubarão-azul descarregadas por ano, somente na Horta. Todas as semanas existem barcos por lá, às vezes os barcos espanhóis estão lá todos os dias, em Abril foi uma loucura”, denunciou.
A responsável pela Sharkproject diz que, apesar de ser uma atividade legal, a pesca do tubarão-azul (ou tintureiras) destrói o ecossistema. “Nós já temos os sinais de que o ecossistema à volta dos Açores está se degradando, os tubarões-azuis já não existem no mar de Santa Maria, por exemplo, é inacreditável”, afirmou, lamentando que a espécie esteja desaparecendo do mar açoriano para ser vendido por 0,30 cêntimos o quilo.
Um estudo recente concluiu que daqui a duas décadas será muito mais rentável o negócio da observação de tubarões em alto mar do que o da captura. A coordenadora do projeto vai iniciar nesta quarta-feira uma campanha nos Açores para tentar sensibilizar a população para a defesa do tubarão-azul na região, o único local da Europa onde ainda é possível mergulhar com a espécie.
“É possível ganhar muito mais dinheiro com os cinco mil mergulhadores que vêm aos Açores, todos fazem pelo menos dois mergulhos com tubarões por 300 euros. Só para os centros de mergulho são 1,5 milhões de euros, isto sem contar com os voos, alojamento, aluguel de carro, whalewatching (observação de baleias), entradas em museus ou idas a restaurantes, ou seja, representam dez vezes mais para a economia local”, assegura Friederike Kremer.
Governo está atento
O secretário regional dos Recursos Naturais, Luís Neto Viveiros, assegurou à agência Lusa que o governo regional está atento à captura de tubarões-azuis nos Açores e que se os navios espanhóis agirem contra a lei serão punidos.
A Comissão Europeia publicou no dia 29 de Junho um regulamento que acaba com a exceção que permitia cortar barbatanas de tubarões nos navios, da qual beneficiavam as frotas portuguesa e espanhola. A decisão teve o voto contra de Portugal.
“Nós estamos atentos e estamos tranquilos porque toda a informação de que dispomos é que de fato não há nenhum perigo de extinção dessas espécies”, afirmou o governante. E sublinhou: “Estamos sempre em absoluta consonância com a Marinha e através da Inspeção Regional das Pescas temos todas as ferramentas acionadas que permitam evitar situações dessas e garantir a sobrevivência da espécie.”
Numa nota entretanto divulgada, o Governo Regional dos Açores esclareceu que “o tubarão-azul descarregado recentemente no porto da Horta foi pescado por uma embarcação espanhola numa altura em que ainda não estava em vigor a diretiva comunitária que impede o corte a bordo de barbatanas desta espécie, cuja captura continua autorizada”.
O Governo dos Açores garante ainda, num esclarecimento enviado à Lusa, que as quantidades de tubarão-azul descarregado na Horta referidas pela ONG são “incorretas”. “Anualmente são descarregadas cerca de 2800 toneladas desta espécie nos portos da região”, lê-se na nota, que sublinha ainda que “as capturas realizadas pela frota comunitária com autorização para operar nos Açores ocorrem, na sua maioria (cerca de 90%), fora das águas açorianas”.
Fonte: Público PT
Nota da Redação: O problema da captura dos tubarões-azuis não é apenas ameaçá-los de extinção ou pôr em risco o ecossistema. O dano causado ao indivíduo capturado, que perde sua liberdade e se transforma em mercadoria, deve ser considerado. Os animais têm interesse em viver e estão perfeitamente adaptados ao seu habitat natural, onde devem permanecer em paz.