Uma associação que cuida de cães abandonados em Ribeirão Preto (SP) terá que deixar a atual sede no bairro Recreio Internacional, Zona Leste da cidade. O motivo é uma ação movida por moradores vizinhos, que pediram a saída devido ao incômodo causado pelo barulho dos animais.
Para evitar uma possível ordem de despejo, a Associação Amigos dos Animais firmou acordo com os autores da ação para deixar o terreno até maio deste ano. O problema é que o novo local que vai abrigar os cães não está pronto e a ONG precisa de cerca de R$ 500 mil para concluir a obra.
“É muito triste ver que estamos fazendo um trabalho para a sociedade e tentarem tirar a gente daqui”, diz o aposentado Virgílio Martins, fundador da ONG e voluntário responsável por acompanhar os cachorros no abrigo.
A associação atua na cidade há dez anos. Ao longo do período, resgatou pelo menos dois mil animais das ruas.
Para ajudar a ONG a manter os serviços, em fevereiro de 2022, a Prefeitura de Ribeirão Preto cedeu, por meio da lei complementar nº 3.117 aprovada na Câmara dos Vereadores, um terreno na Zona Norte para abrigar a nova sede do grupo.
A associação poderá usar o terreno pelos próximos 30 anos, mas precisa concluir a construção da nova sede até 2024 para garantir o espaço.
Mas o prazo real para a saída do atual endereço é ainda mais próximo: em novembro de 2022, representantes da ONG e dos moradores do Recreio Internacional entraram em acordo no qual a associação se comprometeu a deixar o local até maio deste ano.
Segundo Martins e o advogado da ONG, David Cardoso, a associação preferiu o acordo por temer que a decisão do juiz desse menos tempo para o grupo desocupar o local.
“Caso acontecesse alguma coisa no sentido de o juiz determinar a retirada da associação daquele local em um prazo de 30, 40 dias, obviamente a associação estaria em apuros”, diz Cardoso.
Nova sede custa caro
No entanto, as obras de construção da nova sede ainda estão longe do fim: já foram gastos R$ 200 mil e ainda faltam cerca de R$ 500 mil para finalizar o trabalho. Mesmo assim, o advogado explica que Martins começou a levar os cachorros para o novo espaço neste mês para evitar mais problemas.
“Com uma certa precariedade, mas com os muros já levantados, a associação vai pra lá e aí, durante o ano, a gente vai buscar recurso pra poder funcionar com mais dignidade, não só para os protetores, mas principalmente para os animais”, afirma o advogado.
No novo espaço, será possível abrigar cerca de 200 animais em 53 canis de 20 metros quadrados cada – do total, 17 foram finalizados. Cada canil custa R$ 7,4 mil para ser construído.
O local deve contar também com galpão com um quarto, banheiro, cozinha, consultório, e depósito para ração, medicamentos, cobertores e outros itens, além de muros para garantir a segurança dos animais.
Martins explica que, no momento, as obras foram paralisadas por falta de recursos. “A obra é muito cara, e ainda falta muito para terminar”, lamenta. Ainda falta construir os telhados dos canis, o cimentado, fazer as grades e os portões, instalar o encanamento e construir o muro e o galpão.
Despesas
Segundo o voluntário, as despesas mensais giram de R$ 20 mil a R$ 25 mil. Os cachorros consomem, em média, 30 quilos de ração por dia, o que equivale a quase uma tonelada por mês. Como a associação também se dedica a cuidar de animais que chegam debilitados ou feridos, o gasto pode ser ainda maior.
Recentemente, a ONG resgatou uma cachorra em situação de maus-tratos que recebeu o nome de Catarina. Entre vários problemas, ela tinha um ferimento no olho que estava cheio de animais.
Os procedimentos veterinários para ajudar Catarina custaram, aproximadamente, R$ 7 mil. “Às vezes, um único cachorro consome o que seria equivalente para manter vários outros animais”, diz Martins.
E os voluntários ainda precisam lidar com situações adversas. Apesar dos esforços, Catarina não resistiu à gravidade dos ferimentos. Mas Martins garante que nada foi em vão.
“Não nos arrependemos, de jeito nenhum, porque pelo menos nesse fim de vida, ela teve dignidade, foi amada e amparada”, afirma.
Como ajudar
A Associação Amigos dos Animais conta com o apoio de 100 voluntários, incluindo Martins, e um funcionário que trabalha de segunda-feira a sábado em horário comercial. O dinheiro para custear a operação vem de doações e de ações como bazares e feiras.
Segundo Martins, quem quiser, pode contribuir com a doação de materiais de construção como areia, cimento e blocos padronizados. No entanto, o que a organização mais precisa neste momento é de dinheiro para retomar a obra do novo abrigo.
“A gente não pode parar lá. Precisamos muito desses recursos, o mais urgente o possível”, afirma.
Fonte: G1