Patrícia Azevedo
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O adensamento urbano está acabando com o habitat de felinos na região de Campinas (SP). Sem ter para onde ir, esses animais acabam entrando em áreas que hoje estão ocupadas pelo homem. Em menos de um ano, a ONG Mata Ciliar, entidade que estuda e trata de animais silvestres, participou da captura de seis felinos nas cidades de Paulínia, Cosmópolis, Itatiba, Americana, Vinhedo e Jundiaí.
O último caso aconteceu na noite de sexta-feira (4), em um bairro de chácaras em Jundiaí, onde uma onça parda, também conhecida como suçuarana, foi encontrada em cima de uma árvore. A operação para remover o animal durou várias horas e mobilizou policiais, bombeiros, veterinários e biólogos da ONG. O responsável pela chácara não quis se identificar e disse que a onça chegou ao local na noite de quinta-feira (3). O alerta foi dado pelos latidos dos cachorros.
O animal só foi visto no dia seguinte, sobre uma goiabeira, acuado pelos cães. “O importante nessa hora é manter a calma. Tudo teve que ser feito seguindo o tempo do animal. Nós o condicionamos a descer de lá para entrar um galpão, mas ele acabou entrando na casinha de cachorro”, contou a veterinária Cristina Harumi Adania.
Quando o animal já estava no chão, os funcionários da ONG usaram uma zarabatana pneumática para sedá-lo. A onça foi colocada em uma jaula e levada para o Centro Brasileiro para Conservação de Felinos Neotropicas, entidade mantida pela ONG em Jundiaí. Lá, foi examinada e alimentada. “Ela está em ótima forma e com boa saúde. Isso indica que estava se alimentando bem e estava em um local adequado”, disse a veterinária.
A suçuarana capturada na última sexta-feira é um macho de mais de dois anos e com cerca de 40 quilos. De hábitos noturnos, a onça evita ao máximo o contato com humanos e só ataca se sentir acuada. Segundo a veterinária, é raro encontrar o animal. “Mas, se acontecer, o importante é se afastar. Não tente espantar nem se aproxime. Chame a Polícia Ambiental ou a nossa ONG”, orienta a veterinária.
“Em quatro anos que estou lá isso nunca tinha acontecido. Acho que a onça apareceu por causa da queimada que teve num bairro vizinho”, disse o responsável pela chácara.
Agora, o centro busca empresas parceiras que ajudem a custear o monitoramento do animal, que deve ser solto nos próximos dez dias. “Não é tarefa simples soltar um animal desse porte. Temos que fazer um estudo aprofundado da área em que ele foi encontrado para saber se há condições de soltá-lo ali novamente”, afirmou Cristina.
É necessário, ainda, colocar um colar que permita fazer esse monitoramento. “Para acompanhar o animal por um ano, são necessários cerca de R$ 150 mil”, disse o agrônomo Jorge Bellix de Campos.
A ONG Mata Ciliar tem cerca de 40 profissionais e desenvolve também um trabalho importante de reflorestamento. Ela cultiva 2 milhões de mudas de mais de 200 espécies de plantas nativas da Mata Atlântica e do Cerrado, e atua na capacitação de produtores rurais. Para contatar a ONG Mata Ciliar, ligue para (11) 4815-7777 ou (11) 4815-7553. O site é www.mataciliar.org.br.
Mata Ciliar é pioneira na reprodução de animais
A ONG Mata Ciliar desenvolve um trabalho importante para a reabilitação de animais silvestres. Foi a primeira da América Latina a conseguir a reprodução in vitro. Pesquisadores da entidade, em parceria com cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e norte-americanos, foram responsáveis, no final de 2007, pelo nascimento de três jaguatiricas de proveta.
Além da pesquisa, a instituição presidida pelo agrônomo Jorge Bellix de Campos ainda ajuda a tratar e reinserir animais que chegam machucados ao Centro Brasileiro para Conservação de Felinos Neotropicais, que abriga mais de 200 animais, 70 deles felinos. De acordo com Bellix, são poucos os bichos que ainda têm condições de serem reinseridos na natureza, porque muitos estão mutilados ou chegaram muito novos ao centro.
Quase diariamente, a ONG recebe animais que precisam de cuidados. Volt, um filhote de jaguatirica, ameaçada de extinção, chegou aos 2 meses. O veterinário Thiago Cabral contou que o animal se perdeu da mãe em uma chácara. “Infelizmente, está condenado a viver em cativeiro e será usado para reprodução.” O mesmo deve acontecer com o filhote de veado Tico, que se perdeu da mãe com poucos dias. Há dois meses na ONG, Tico é alimentado com mamadeira e está domesticado.