A União Protetora dos Animais (UPA), entidade de defesa animal fundada pelo deputado estadual Feliciano Filho (PEN) há mais de dez anos em Campinas, deixou de existir na prática após as denúncias de maus-tratos contra os cerca de 40 cães que ficavam no canil da entidade.
Fundada em 2001 por Feliciano, a ONG deixou de fazer resgate de animais em situação de risco e extinguiu o canil que funcionava dentro da sede de uma fazenda, localizada no Jardim Califórnia, às margens da Rodovia Anhanguera, em Campinas.
Foi verificado que o espaço está desativado e a entrada está trancada com cadeado e cercada de arame farpado. “Deixamos de fazer resgates e não temos mais abrigo. A única coisa que está sendo feita é encaminhamento de pessoas que querem desconto em clínicas”, afirmou uma fonte ligada à entidade e que não quer ter o nome revelado.
Uma das vizinhas do sítio, que se identificou apenas como Rita, afirmou que os cães foram retirados do espaço poucos dias após a denúncia de maus-tratos ser veiculada na imprensa, em 14 de agosto. “Passou uns dois dias depois da confusão e vieram aqui para levar os cães embora. Está tudo fechado, não voltou mais ninguém aqui”, afirmou Rita.
A informação foi confirmada por uma fonte ligada à entidade. Os animais, afirma essa fonte, foram encaminhados para a sede de uma organização não-governamental (ONG) parceira da UPA. “Estão todos sendo muito bem cuidados em uma ONG parceira nossa até que tudo se desenrole na Justiça”, afirmou a fonte.
O atual presidente da UPA, Vicente Carvalho, foi procurado pela reportagem, mas não foi localizado para comentar o caso. Feliciano Filho, fundador da UPA, não quis falar sobre o assunto. Ele afirma que se desvinculou da presidência do grupo há pelo menos quatro anos e que por isso não pode responder pela entidade.
Os policiais da Setor de Proteção aos Animais e Meio Ambiente da Polícia Civil de Campinas (Sepama) fiscalizaram o abrigo no dia 14 de agosto depois de obterem um mandado judicial. A investigação, que começou depois de denúncias anônimas, corria há pelo menos dois meses. Havia pelo menos dez cães em estado grave de saúde no local, além de cinco filhotes mortos acondicionados em uma geladeira desligada, ao lado de uma sacola com carne moída estragada.
De acordo com a investigação da Polícia Civil, o sítio era inadequado para servir de abrigo pois não apresenta estrutura contra frio e umidade. E a poucos metros do sítio existe uma nascente de água, para onde seriam lançados os dejetos dos animais.
Depois da ação, a Secretaria Municipal do Verde e Desenvolvimento Sustentável fez uma vistoria no abrigo e multou a entidade em R$ 45 mil por quatro irregularidades ambientais. Na época, Feliciano afirmou que a investigação era uma “ação política” contra o seu trabalho.
A investigação está agora a cargo da Delegacia Seccional de Campinas. Nenhum representante do setor foi localizado durante todo o dia de ontem para comentar como está o andamento do inquérito.
Polícia Civil faz correição em toda a Sepama
A Polícia Civil de Campinas está fazendo uma correição nos inquéritos, laudos, documentos e viaturas do Setor de Proteção aos Animais e Meio Ambiente da Polícia Civil de Campinas (Sepama). Policiais da Delegacia Seccional de Campinas e da Corregedoria da Polícia Civil estiveram durante toda manhã e tarde de ontem na sede da Sepama, que funciona no bairro Nova Campinas. Os policiais apreenderam cópias de todos os inquéritos e boletins de ocorrência registrados desde 2011, além de verificar todos os talonários para o uso de viaturas.
Correição é uma espécie de auditoria que a polícia faz periodicamente em suas unidades para verificar o andamento do trabalho, dos inquéritos e conversar com funcionários. Além das correições ordinárias, que são agendadas com antecedência, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou que está realizando correições extraordinárias em algumas cidades. Segundo a SSP, Campinas foi escolhida por ser a maior cidade do Deinter -2.
Disputa
A Sepama foi palco de uma disputa política no ano passado entre a delegada Rosana Mortari, que foi candidata a vereadora, e o deputado Feliciano Filho (PEN). Depois de se licenciar para disputar o cargo, Rosana foi impedida de voltar à Sepama, provocando uma série de reclamações entre os protetores. O Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais de Campinas (CMPDA), ONGs e protetores de animais da cidade se uniram para pedir o retorno de Rosana frente à delegacia, cargo que ocupava há dois anos. E deu certo, ela voltou a comandar o setor. Feliciano nega que haja qualquer disputa política com a delegada, que também foi procurada.
Fonte: Correio RAC