A cadela Vitória pesa praticamente a metade do que deveria. Ela tinha um tutor, mas não recebia cuidados até ser resgatada. “Ela está desnutrida e tem que amputar uma perna que está com câncer”, conta Sueli Macedo, uma das fundadoras da organização “Adote um Focinho”. Vitória é alimentada várias vezes ao dia para poder aguentar a cirurgia. “É muito triste quando a gente vê um animal nesse estado porque eles não sabem falar, não sabem gritar. Temos que gritar por ele”.
A ONG existe há seis anos, mas o trabalho começou antes.”Começamos em um terreno baldio, cuidando de meia dúzia de cachorros. Hoje temos 65 canis e cuidamos de 150 animais adultos”, explica Miriam Hebert, outra fundadora da “Adote um Focinho”. Depois de cuidar, castrar e regularizar as vacinas dos animais, eles são colocados para adoção na internet. ”A gente sempre brinca que somos uma fábrica de enxugar gelo porque sempre saem dois e entram cinco”.
O Instituto Pasteur estima que 93% dos cachorros de São Paulo têm uma casa ou, ao menos, alguém que cuide deles. O restante não tem ninguém. Um censo realizado pela Faculdade de Veterinária da Universidade de São Paulo (USP) mostra que 2,4 milhões dos cães têm tutor. De acordo com os dados, cerca de 180 mil cachorros vivem nas ruas da maior cidade brasileira.
Para Miriam Hebert, a castração dos animais precisa ser uma preocupação do Estado e da Prefeitura de todas as cidades do país. “Uma cachorra dá cria de dez e esses se tornam, em pouco tempo, vinte, trinta e por aí vai”, diz. A ONG “Adote um Focinho” conta com doações e com a ajuda de voluntários para se manter.
Um deles é Rafael Garcia, que desenhou uma passagem do livro “O Pequeno Príncipe” em uma parede. “A raposa diz para o pequeno príncipe que a gente é eternamente responsável por aquilo que a gente cativa. A ideia por trás dessa frase é fazer com que as pessoas que queiram adotar um cão saibam que ele vai ser parte da vida delas”, afirma. Algumas empresas, como a que trabalha o estagiário de finanças Vitor Assano, estimulam a participação dos funcionários em projetos sociais como o da organização. “Eles dão essa oportunidade de, mesmo em horário de expediente, vir aqui e brincar um pouco com os cachorros”, explica.
Os cães que são levados para a “Adote um Focinho” brincam no Agility, que são exercícios direcionados para os animais. A ideia de levar o Agility foi da bióloga Dalila Fernandes Pereira, que adotou uma cadela da ONG e é voluntária na casa. “O cão ganha aquela confiança de estar com você no mesmo objetivo”, explica. Os aparelhos foram doados pelo treinador Eduardo Ferreira, que também é voluntário e leva seu cachorro Jatobá para demonstrar as atividades. “Não que ele vá ser campeão de Agility. Não é esse o nosso objetivo, A gente quer dar uma vida melhor e que o cachorro fique educado para ser doado mais facilmente”, explica.
Todos os cachorros da ONG têm um nome e ficam na casa até conseguirem um novo lar. “Se não consegue, eles vão ficar aqui até o seu último dia”, afirma Miriam.
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Fonte: G1