Acusando o Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura de Campo Grande de se omitir em relação a cuidados com a saúde pública no caso dos 10 cães abandonados em casa no centro da capital de Mato Grosso do Sul, fato amplamente divulgado pela imprensa, a advogada e veterinária Maria Lúcia Metello, presidente da ONG Abrigo dos Bichos, que tem prestado cuidados aos animais, enviou ao Marco Eusébio in blog um desabafo público. Confira na íntegra:
A apreensão de dez cães (na maioria de raça rara) numa casa abandonada no centro de Campo Grande realizada pela DECAT foi exaustivamente noticiada pela imprensa. A ONG Abrigo dos Bichos assumiu a guarda provisória e os encaminhou para uma clínica veterinária por estarem muito debilitados (desnutrição, anemia e com alta carga de pulgas e carrapatos). O CCZ declarou publicamente que, apesar de ser de seu conhecimento há três anos, optou por ‘monitorar’ o local, nada fazendo para minorar o sofrimento animal (fome, sede, doenças) bem como para coibir que lá se formassem graves focos de sérias doenças (leishmaniose e dengue, pelo grande acúmulo de lixo). Imediatamente à operação, o delegado titular da Delegacia de Polícia Civil Especializada de Crimes Ambientais e Proteção ao Turista (Decat), Fernando Villa de Paula, preocupado em preservar a saúde pública da população campo-grandense, requisitou ao CCZ de Campo Grande coleiras antileishmaniose e vacina antirrábica para os dez animais. Solicitação essa que não foi atendida com desculpas esfarrapadas. Assumindo os gastos que deveria ser do poder público, o Abrigo dos Bichos (que não tem qualquer apoio financeiro municipal) fez os exames e informa que apenas um macho, batizado de Rock, está infectado por leishmaniose, uma fêmea está livre da doença e outros sete são soro-reagentes, ou seja, possuem anticorpos para a doença, mas, necessariamente, não devem ser considerados doentes. Para isso, novos exames serão feitos. Uma das fêmeas, a Darlene, que estava prenhe e que sofreu cirurgia para a retirada de quatro filhotes mortos, acabou vindo a óbito devido ao seu estado depauperado, além de ter a doença do carrapato. Como são animais que estão “subjudice”, não poderão ser doados ou mesmo mortos sem autorização judicial. Considerando a prerrogativa de preservar a saúde pública, o pedido do delegado deveria ter sido atendido. Ou, então, em virtude de que um animal não apresenta leishmaniose, o CCZ deveria ter tido a honradez de ceder uma coleira (e nove vacinas antirrábicas).
‘Saber o que é certo e não fazê-lo é a pior covardia’ (Confúcio)
Maria Lúcia Metello
Advogada, médica veterinária e presidente da ONG “Abrigo dos Bichos”
Fonte: Marco Eusébio in blog