As ondas de calor, entendidas como extensos períodos de temperaturas extremamente elevadas que se mantêm por vários dias, têm se tornado uma preocupação crescente ao redor do mundo e o Brasil não é uma exceção.
Esses eventos climáticos extremos estão se intensificando em frequência e severidade, apresentando sérios riscos para a saúde humana, o meio ambiente e a infraestrutura urbana.
Aumento da frequência e intensidade
Estudos indicam que as ondas de calor estão se intensificando tanto em frequência quanto em severidade devido às mudanças climáticas. O incremento da temperatura média global, impulsionado pelas emissões de gases de efeito estufa, é um elemento fundamental nessa situação.
O ano de 2024 estabeleceu um novo recorde de calor, com os dez anos mais quentes ocorrendo na última década. Em determinadas regiões, as ondas de calor estão superando as previsões dos modelos climáticos, com aumentos de temperaturas que quebram recordes em níveis impressionantes.
Impactos sociais, ambientais e na saúde humana
As ondas de calor têm consequências significativas em várias áreas:
• Saúde: A exposição a temperaturas extremas pode resultar em desconforto térmico, desidratação, e doenças cardiovasculares e respiratórias. Isso resulta em um aumento nas hospitalizações e sobrecarrega o sistema de saúde. Em casos graves, a exposição prolongada ao calor pode levar à exaustão térmica, insolação, e até mesmo à morte. As ondas de calor são responsáveis por mais de 150 mil óbitos anualmente em todo o planeta.
• Trabalho: Trabalhadores ao ar livre, como agricultores e pedreiros, são especialmente afetados, apresentando uma diminuição em sua capacidade de trabalho e riscos elevados de exaustão e insolação. A eficiência em setores essenciais, como a agricultura, é prejudicada.
• Infraestrutura Urbana: A falta de planejamento nas cidades e a predominância de asfalto e concreto amplificam o fenômeno das ilhas de calor, elevando ainda mais as temperaturas locais. A escassez de áreas verdes e de infraestrutura adequada agrava as consequências das ondas de calor.
• Meio Ambiente: Ondas de calor podem levar à secagem de plantações e florestas, além de causar incêndios devastadores.
Populações vulneráveis
As ondas de calor afetam desproporcionalmente as comunidades mais frágeis:
• Idosos e crianças: Estão mais suscetíveis aos efeitos do calor extremo e sofrem suas consequências de forma mais severa.
• Pessoas em situação de rua: Enfrentam riscos significativos à saúde e à vida devido à exposição contínua ao calor extremo, sem acesso a água potável, sombra, e abrigo adequado. Estudos indicam que essa população apresenta taxa de mortalidade muito mais alta em climas extremos.
• Comunidades de baixa renda: Por causa de sua localização e da falta de adaptação ao calor, como ar condicionado, enfrentam ondas de calor por períodos mais longos.
O impacto no Brasil
No Brasil, a inadequação da infraestrutura urbana intensifica os efeitos das ondas de calor, comprometendo a saúde pública e a qualidade de vida.
A urbanização desordenada, a falta de planejamento a longo prazo e a escassez de áreas verdes agravam o problema. A sobrecarga nos serviços de saúde, resultante do aumento de internações por doenças relacionadas ao calor, destaca a urgência de adaptar as cidades às mudanças climáticas.
A falta de políticas públicas para proteção de pessoas em situação de rua também é preocupante, com cidades como São Paulo e Rio de Janeiro apresentando um aumento no número de indivíduos vivendo nas ruas, e as medidas de mitigação do calor sendo insuficientes.
Medidas de mitigação e adaptação
Para minimizar os efeitos das ondas de calor, são necessárias iniciativas em diversas frentes:
• Criação de áreas verdes: A expansão de parques e jardins nas cidades ajuda a reduzir a temperatura e a melhorar o conforto térmico.
• Telhados verdes e sistemas de resfriamento: Implementar telhados verdes e soluções de resfriamento passivo nas edificações ajuda a mitigar o impacto do calor nas construções.
• Políticas de proteção para trabalhadores: Estabelecer pausas regulares, acesso a sombra e hidratação, além de iniciativas públicas que incentivem mudanças nos horários de trabalho.
• Políticas habitacionais: Investir em políticas de “Habitação Primeiro”, garantindo moradias acessíveis e seguras para a população em situação de rua.
• Serviços de saúde e saúde pública: Melhorar o acesso e a capacidade de resposta dos serviços de saúde durante ondas de calor, além de programas educativos sobre os riscos do calor.
• Redução das emissões de gases de efeito estufa: Uma transição sustentável e justa para uma economia de baixo carbono é crucial para mitigar os efeitos indesejáveis das ondas de calor a longo prazo.
A adaptação das cidades às transformações climáticas é vital para garantir a saúde e o bem-estar da população, especialmente dos mais vulneráveis.
Estamos enfrentando ondas de calor cada vez mais intensas e frequentes, com o alerta de que adiar decisões urgentes em relação às ações climáticas globais apenas resultará em consequências desastrosas. Especialmente para os mais vulneráveis, mas ninguém, não importa o quão rico seja, estará a salvo.
Fonte: EcoDebate