A onça-parda (Puma concolor) é um símbolo do estado da Califórnia, nos EUA. Embora sejam animais tipicamente diurnos, um estudo recente publicado na última sexta-feira (15) na revista Biological Conservation revelou que os felinos que vivem em áreas mais populosas adaptaram seus padrões de atividade para o período noturno, como uma resposta às atividades humanas.
O estudo revelou que as onças pardas que habitam áreas com maior presença de ciclistas, pedestres e corredores tendem a ser mais ativos durante a noite, enquanto os que vivem em regiões mais isoladas mostram maior atividade ao amanhecer e ao entardecer. No entanto, os pesquisadores destacam que essa adaptação não é, necessariamente, algo negativo.
“As pessoas estão cada vez mais gostando de se divertir na natureza, o que é fantástico”, disse Ellie Bolas, autora principal do artigo, em comunicado. “Essa flexibilidade que vemos na atividade dos leões-da-montanha é o que nos permite compartilhar essas áreas naturais juntos. As onças pardas estão fazendo o trabalho para que a coexistência possa acontecer.”
Para compreender melhor o comportamento desses felinos, Bolas e sua equipe equiparam 22 onças pardas com coleiras de GPS, que habitavam a Área de Recreação Nacional das Montanhas de Santa Monica e seus arredores, entre 2011 e 2018. Essa área engloba a região metropolitana de Los Angeles, onde residem mais de 18 milhões de pessoas. Em seguida, os pesquisadores cruzaram os dados de atividade dos animais com informações públicas de GPS sobre a recreação humana na região.
“Esses resultados são realmente importantes porque mostram como os humanos podem estar afetando a vida selvagem de maneiras menos óbvias do que matá-la com veículos”, disse Seth Riley, chefe da filial de vida selvagem do parque. “O estudo também continua a enfatizar o fato surpreendente de que uma população de um grande predador felino persiste em uma das maiores áreas urbanas do mundo. Isso não seria possível se os leões-da-montanha não fossem capazes de se ajustar à atividade humana de maneiras como essa.”
Os dados indicaram que as onças pardas estavam se ajustando não apenas às atividades humanas, mas também aos perigos do ambiente em que viviam. Por exemplo, as fêmeas, em geral, mostraram maior atividade ao amanhecer e durante o dia, em comparação com os machos. Os pesquisadores sugerem que isso pode ser uma estratégia para evitar o confronto com os machos, que representam uma ameaça tanto para elas quanto para seus filhotes.
Espécie protegida
Embora a onça-parda não esteja oficialmente listado como uma espécie ameaçada na Califórnia, nas Montanhas de Santa Monica esse felino tem um status de proteção especial. Diferentes grupos são monitorados e usados em pesquisas do Serviço Nacional de Parques dos Estados Unidos.
Habitando um ambiente cada vez mais fragmentado e sujeito a diversas ameaças, como atropelamentos, incêndios e contato com toxinas, esses felinos enfrentam desafios significativos para sua sobrevivência. A proximidade com áreas urbanas e a intensificação de atividades recreativas representam riscos adicionais, exigindo medidas de conservação rigorosas e a conscientização da população.
“Mesmo algo tão inócuo quanto a recreação pode aumentar esses outros estressores que estamos trazendo para suas vidas, potencialmente alterando a quantidade de energia que eles têm que gastar para caçar e outras necessidades”, disse Bolas. “Mas podemos sentir uma sensação de otimismo de que eles são flexíveis no momento de suas atividades. A coexistência está acontecendo, e é em grande parte por causa do que as onças estão fazendo.”
Fonte: Revista Galileu