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MONITORAMENTO

Onça-pintada é foco do primeiro crédito de biodiversidade do Pantanal

O Instituto Homem Pantaneiro e ERA lançaram os títulos para conservar a região. Área coberta pela iniciativa equivale a 50 mil campos de futebol e impacta 57 famílias ribeirinhas

23 de junho de 2024
Naiara Bertão
11 min. de leitura
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Foto: Eduardo Fragoso

Estudo realizado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade) e publicado em 2023 mostra que o Pantanal é o bioma brasileiro com maior índice de espécies preservadas. De todas as que integram a fauna pantaneira, 93,7% são consideradas “menos preocupantes” de sofrerem processo de extinção. Mas isso não significa que não há perigo. Pelo contrário. A frequência maior de incêndios, a seca nas cabeceiras dos rios que cruzam a maior planície alagável do mundo, a caça e pesca ilegais e confronto de animais com as pessoas, entre outros fatores, também trazem fragilidade para o bioma.

Pensando em como levantar recursos que garantam as ações de conservação da flora e fauna desse Patrimônio Natural da Humanidade da Unesco e de espécies-chave do ecossistema, como a onça-pintada, o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e a empresa de soluções socioambientais Ecosystem Regeneration Associates (ERA) desenvolveram o primeiro crédito brasileiro de biodiversidade.

“Estamos diante de um projeto que representa um grande avanço quando tratamos de conservar a natureza. É uma proposta que acontece no Pantanal agora e que poderá ser replicada para outros biomas”, comenta o presidente do IHP e membro do Explorers Club 50, Angelo Rabelo.

Na teoria, quando uma empresa, uma organização ou uma pessoa física adquire créditos de biodiversidade, está comprando unidades mensuráveis e rastreáveis de biodiversidade que são geradas por meio de ações concretas de conservação verificadas por metodologias específicas. A metodologia usada neste projeto é a Biodiversity Stewardship Credit Methodology, desenvolvida pela ERA em parceria com a Regen Network, plataforma de marketplace para o mercado mundial de biodiversidade e conservação.

“Em outras palavras, você estará financiando diretamente ações que protegem e restauram a biodiversidade em áreas vitais”, reitera Rabelo.

A área do projeto de créditos de biodiversidade tem aproximadamente 50 mil hectares (equivalente a 50 mil campos de futebol), distribuídos em três Reservas Privadas de Proteção Nacional (RPPNs) localizadas na Serra do Amolar, a oeste do Pantanal de Mato Grosso do Sul.

Os créditos representam resultados verificados de três anos (2021 a 2023) de ações contínuas e simbolizam esforços tangíveis para preservar habitats naturais e espécies ameaçadas, como a onça-pintada, garantindo um impacto positivo e duradouro na conservação da biodiversidade.

Os primeiros compradores dos créditos de biodiversidade do Brasil irão financiar ações de verificação de terceira parte do projeto, além do aprimoramento de técnicas de bem-estar e monitoramento da onça-pintada, gestão ambiental, pesquisa científica, educação ambiental e ecoturismo.

As ações incluem:

• Monitoramento de 5 indivíduos (onças) com colares de telemetria GPS para investigar padrões de movimentação e uso do habitat;
• Monitoramento de populações através de 55 armadilhas fotográficas;
• Estudos detalhados para entender interações, comportamentos, dieta, genética da população e necessidades ecológicas;
• Segurança da área com a presença de equipes de fiscalização e prevenção contra caça ilegal.

Na região do projeto, ao se proteger a onça-pintada, segundo o IHP, existe um impacto direto também em mais de 10 espécies de mamíferos ameaçados em território nacional, dentre eles o tamanduá-bandeira, a anta, o queixada e o tatu-canastra; e mais três espécies de aves, dentre elas o mutum e a tiriba-da-cara-suja, um pequeno periquito de distribuição restrita à borda oeste do Pantanal.

“A onça-pintada sofre com a ameaça da caça ilegal, motivada por diversos fins, sendo o principal deles a retaliação por prejuízos causados pela depredação de rebanhos e animais de criação”, explica Grasiela Porfírio, doutora em Ecologia e Conservação e atua no IHP para a conservação direta da onça-pintada.

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