A morte de uma onça-parda, atropelada por um caminhão em uma estrada vicinal de Angatuba, no interior de São Paulo, acende um alerta para questões ambientais. Especialistas explicam que a migração de animais silvestres para centros urbanos está relacionada com a destruição do habitat.
Angatuba abriga 26 populações de mamíferos, entre eles, a onça-parda (Puma concolor), espécie declarada em extinção pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
No domingo (22), um caminhão carregado com toras de madeira atropelou uma onça-parda adulta em via de acesso à Rodovia Raposo Tavares (SP-270). Segundo a Polícia Militar, o motorista não enxergou o animal e, por isso, não conseguiu frear o veículo a tempo.
A morte acidental deste felino evidencia reflexos da destruição do habitat do animal, alerta a vice-presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) Helena Dutra Lutgens.
“Isso geralmente está associado com a falta de preservação. Então quando você diminui o habitat, a proteção natural para esses animais, eles acabam se deslocando e é o caso das onças, que vão pra perto da cidade, então é comum a gente ver no interior de São Paulo onças aparecendo em áreas urbanas”.
Segundo a Fundação Florestal, órgão estadual responsável por administrar uma Estação Ecológica em Angatuba, a onça-parda circula por diversas regiões da mata nativa. A área de vida do felino pode ter uma extensão de 2,5 a 75 quilômetros quadrados, conforme o bioma e a população de presas.
Conforme explica a bióloga e analista do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Beatriz Beisiegel, existem dois motivos para animais silvestres, como onças, serem registrados em centros urbanos.
A primeira hipótese apresentada pela especialista é de que o animal, durante buscas por uma nova área, acaba ampliando seu deslocamento. Ou “Um indivíduo andando em uma região que já faz parte de sua área de uso, pode ter ocorrido algo que cortou o caminho que ele costuma usar. O desmatamento, por exemplo”, explica Beatriz.
A pesquisadora Helena ainda explica que as onças atropeladas, são, em maioria, animais jovens em busca de território.
“O problema para a espécie não é um impacto só, mas a sinergia de impactos: falta hábitat em extensão e qualidade. Os animais têm que se deslocar por áreas antropizadas correndo risco de atropelamento ou retaliação por predar animais domésticos”, ressalta Helena Lutgens.
Em áreas de silvicultura, como é o caso de Angatuba, a fisionomia do ambiente está em constante mudança, ressalta a bióloga Beatriz, o que contribui para que o animal se desloque até centros urbanos.
“Nos anos em que as árvores estão crescendo, as onças usam estas áreas muito tranquilamente, pois formam uma fisionomia florestal. Aí vem a colheita e, em poucos dias, aquilo que uma onça-parda pode ter nascido e conhecido sempre como uma floresta se torna um campo aberto. (…) Então mesmo os animais que já conhecem uma região podem ser obrigados a mudarem seus caminhos em função das mudanças induzidas pelas atividades humanas em suas áreas de uso”.
Fonte: G1