A morte do caseiro Jorge Avalo, 60 anos, após a reação de uma onça-pintada às margens do Rio Miranda, em Aquidauana (MS), reacendeu o debate sobre a coexistência entre humanos e animais silvestres. Enquanto a Polícia Militar Ambiental (PMA) investiga o caso, ativistas reforçam que a onça não é uma assassina, mas um animal que agiu por instinto, em um cenário onde a invasão humana em seu habitat pode ter sido o gatilho.
O corpo de Avalo foi encontrado próximo a pegadas do felino, o que levou a especulações equivocadas sobre a “ferocidade” da espécie. No entanto, biólogos alertam que reações não provocadas por humanos são raríssimas – a onça-pintada, por natureza, evita contato com pessoas e só age quando se sente ameaçada ou encurralada.
Em nota, uma coalizão de institutos de proteção e turismo do Pantanal destacou que a onça-pintada é um animal reservado e essencial para o ecossistema, além de ser um símbolo do turismo sustentável na região. O texto lembra que, em vez de demonizar a onça, é preciso entender as circunstâncias do ocorrido:
“Recebemos com preocupação a notícia de um possível ataque de onça a um morador na região do rio Touro Morto, no MS. Neste momento, nossa solidariedade está com a vítima e seus familiares, enquanto aguardamos mais informações sobre o ocorrido.
É importante frisar que a onça-pintada não é, por natureza, um animal perigoso para o ser humano. Trata-se de um felino reservado, que evita o contato com pessoas e não representa ameaça direta quando não há provocação ou interferência humana. Casos de ataques não provocados por ações humanas são extremamente raros — praticamente inexistentes.
Reforçamos a importância de seguir sempre as orientações de profissionais capacitados e os protocolos de segurança ao visitar áreas de vida silvestre.”, diz a nota.
O biólogo Gustavo Figueroa, especialista em manejo de fauna, ressalta que é impossível afirmar se houve interação predatória ou apenas uma reação defensiva da onça. Ele lembra que, em áreas de conflito, medidas preventivas – como cercas eletrificadas e evitar circulação solitária em horários de atividade felina – são essenciais para evitar tragédias.
Medo de retaliações injustas
Com a repercussão do caso, cresce o temor de que onças sejam caçadas ou mortas em retaliação – um erro grave, já que o Pantanal depende desses animais para o equilíbrio ecológico e o turismo responsável. Recentemente, vídeos de onças mortas no Rio Paraguai viralizaram, alimentando um ciclo de violência contra a espécie.
Em caso de encontro com uma onça, recomenda-se:
-
Não correr, agachar ou virar de costas para ela, isso pode desencadear o instinto de caça;
-
Recuar lentamente mantendo contato visual;
-
Se a onça se aproximar, levantar os braços, gritar e fazer barulho com galhos ou objetos disponíveis para tentar afugentá-la.
“Eu sou uma prova viva disso, eu já tive seis encontros com onça-pintada a pé, onde ela podia me atacar a qualquer momento se ela quisesse. Eu fiquei parado e fui voltando para trás devagarzinho e ela voltou para trás naturalmente”, afirmou Figueroa.
Enquanto as investigações continuam, uma coisa é certa: culpar a onça é ignorar a raiz do problema. A verdadeira discussão deve ser sobre como reduzir conflitos e garantir que humanos e animais selvagens possam compartilhar o Pantanal sem tragédias.