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EMISSÃO DE GASES

OMM aponta recorde de CO2 na atmosfera em 2024 e impacto nas defesas naturais do planeta

Gases estufa em ascensão prolongam aquecimento global; ferramentas naturais para absorção do calor estão sobrecarregadas, observa relatório

15 de outubro de 2025
Marco Britto
6 min. de leitura
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Vista aérea do rio Tarumã-Açu, no estado do Amazonas, que se tornou inavegável por causa da seca. Paisagem é marcada por linhas deixadas pelas hélices de barcos. Foto: Musuk Nolte/WPF

Os níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera atingiram níveis recordes em 2024, divulgou nesta quarta-feira (15/10) relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Os dados geram alarme, uma vez que a concentração de gases estufa no ar contribui diretamente para o aumento de temperatura no planeta.

A OMM trouxe ainda um apontamento extremamente importante no contexto da crise climática: a agência registrou a redução da absorção de CO2 por sumidouros naturais, como ecossistemas terrestres e o oceano, classificando a situação como algo “que ameaça ser um ciclo climático vicioso” de deterioração do clima global.

O Boletim de Gases de Efeito Estufa da OMM afirma que as emissões contínuas de CO2 provenientes de atividades humanas, como indústria e transportes, entre outros, e o aumento de incêndios florestais foram os responsáveis pelos níveis de poluição registrados. A fumaça gerada na queima, tanto da madeira das árvores quanto de combustíveis como carvão e petróleo, é rica em carbono.

Aceleração nas últimas décadas

As taxas de crescimento de CO2 triplicaram desde a década de 1960, acelerando de um aumento médio anual de 0,8 ppm (partes por milhão) por ano para 2,4 ppm por ano na década de 2011 a 2020.

No ritmo atual, no intervalo de um ano, de 2023 a 2024, a concentração média global de CO2 aumentou 3,5 ppm, o maior aumento desde o início das medições documentadas pela OMM, em 1957.

“O calor retido pelo CO2 e outros gases de efeito estufa está turbinando nosso clima e levando a eventos climáticos mais extremos. Reduzir as emissões é, portanto, essencial não apenas para o nosso clima, mas também para a nossa segurança econômica e o bem-estar da comunidade”, afirmou o secretário-geral adjunto da OMM, Ko Barrett.

As concentrações de metano e óxido nitroso, gases de efeito estufa igualmente importantes para o clima, também atingiram níveis recordes (veja detalhes a seguir).

Sumidouros naturais sob pressão

Cerca de metade do total de CO2 emitido a cada ano permanece na atmosfera, afirmam cientistas, o que cria o efeito estufa.

A outra metade é absorvida pelos ecossistemas terrestres e oceanos da Terra. No entanto, esse armazenamento não é garantido ou ocorre de forma automática. À medida em que a temperatura global aumenta, os oceanos absorvem menos CO2 devido à diminuição de sua capacidade em temperaturas mais altas, enquanto os sumidouros terrestres (florestas, manguezais, planícies alagadas e outros) são impactados de diversas maneiras, incluindo a ocorrência de secas mais persistentes.

No Brasil, este efeito pode ser notado na seca que abateu a Amazônia entre 2023 e 2024, minguando rios e abrindo caminho para incêndios devastadores no bioma e também no Pantanal, que enfrenta uma diminuição drástica do fluxo da água.

A provável razão para o crescimento recorde entre 2023 e 2024, segundo a OMM, foi uma grande contribuição das emissões de incêndios florestais e uma menor absorção de CO2 pela terra e pelo oceano em 2024 – o ano mais quente já registrado, com a contribuição de um forte El Niño, que intensifica o calor em regiões como a Amazônia e o sul da África.

“Há uma preocupação de que os sumidouros de CO2 terrestres e oceânicos estejam se tornando menos eficazes, o que aumentará a quantidade de CO2 que permanece na atmosfera, acelerando assim o aquecimento global. O monitoramento sustentado e reforçado dos gases de efeito estufa é fundamental para a compreensão desses ciclos”, disse Oksana Tarasova, oficial científica sênior da OMM.

As atuais emissões de CO2 para a atmosfera não impactam apenas o clima global atual, mas o farão por centenas de anos devido à sua longa vida útil na atmosfera.

A OMM ressaltou ainda que divulgou o boletim anual sobre gases de efeito estufa para fornecer informações científicas para as negociações da COP30, em novembro, quando os países-membros da ONU se reunirão para discutir financiamento para adaptação a eventos extremos e metas de diminuição da emissão de gases estufa, entre outros temas da agenda climática.

Metano e óxido nitroso

O metano é um gás responsável por cerca de 16% do aquecimento global, afirma a OMM, e dura aproximadamente nove anos no ar. Aproximadamente 40% do metano é emitido para a atmosfera por fontes naturais, que também são sensíveis ao clima, e cerca de 60% provém de fontes de influência humana, como pecuária, cultivo de arroz, queima de combustíveis fósseis, aterros sanitários e queima de biomassa.

A concentração média global de metano em 2024 foi de 1.942 partes por bilhão (ppb), um aumento de 166% em relação aos níveis pré-industriais.

O óxido nitroso é o terceiro gás de efeito estufa de longa duração mais importante e provém tanto de fontes naturais quanto de atividades humanas, como queima de biomassa, uso de fertilizantes e diversos processos industriais. A concentração média global da substância atingiu 338 ppb em 2024, um aumento de 25% em relação ao nível pré-industrial.

Fonte: Um só Planeta

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