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REGULAÇÃO CLIMÁTICA

Oceanos são campeões do clima, basta não destruir, diz Enviada Especial da COP30

Mares são responsáveis por absorver 90% do calor do planeta e capturar um quarto do gás carbônico da Terra, afirma pesquisadora brasileira Marinez Scherer

17 de novembro de 2025
5 min. de leitura
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Bióloga e pesquisadora Marinez Scherer, da UFSC, Enviada Especial da COP30 para os oceanos. Foto: Acervo pessoal

“Sem o oceano saudável, a gente não tem regulação climática. Ele nos ajuda a manter a Terra habitável”, afirma a bióloga e pesquisadora, Marinez Scherer, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Referência nacional em gestão costeira e oceânica, ela é a Enviada Especial da COP30 para o tema Oceanos, que ganha destaque inédito durante uma conferência do clima das Nações Unidas, com debates nesta segunda-feira (17/11) e terça (18/11), em Belém.

Responsável por absorver 90% do calor e capturar um quarto do gás carbônico emitido no mundo, o oceano é, “o maior regulador climático da Terra”, segundo Scherer, em entrevista à organização da conferência. Mas, essa função depende da vitalidade marinha. “É preciso ter ações de conservação, proteção e, em alguns casos, de restauração”, alerta.

Marinez lembra que a biodiversidade marinha, dos manguezais ao fitoplâncton, forma uma engrenagem essencial. “Até os organismos microscópicos têm papel importante na absorção de calor e na troca gasosa. Tudo isso mantém o planeta habitável”, sublinha.

Planejar o uso do mar

A cientista explica que o oceano é uma fronteira de ocupação em rápida expansão. “A gente olha para o mar e acha que não tem nada acontecendo, mas há uma infinidade de atividades humanas”, diz, mencionando navegação, pesca, turismo, biotecnologia e energia eólica offshore.

“Se não tivermos planejamento espacial marinho, podemos perder esse aliado tão importante contra a mudança do clima que é o oceano”, adverte. Segundo ela, o Brasil deu um passo relevante ao criar o Planejamento Espacial Marinho nacional alinhado a modelos internacionais.

Marinez ressalta que o país tem apresentado ações exemplares neste tema ao incluir programas como o ProManguezais e ProCoral em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês). Além de adicionar a faixa marítima brasileira (Amazônia Azul) no Atlas Geográfico Escolar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), colaborando para a conscientização sobre a importância estratégica e os recursos do mar brasileiro.

Um só oceano

“O mar não conhece fronteiras”, lembra a pesquisadora, ao defender a governança global para enfrentar poluição, descarte de resíduos sem controle e derramamentos de petróleo.

Ela exalta a importância do cumprimento do Tratado da Biodiversidade em Áreas Além da Jurisdição Nacional (BBNJ, na sigla em inglês), da qual o Brasil é signatário, e entrará em vigor em 2026. O documento prevê a criação de áreas marinhas protegidas, a exigência de avaliações de impacto ambiental para projetos de grande porte e a repartição dos benefícios do uso de recursos genéticos marinhos. “É um pacto internacional que faz o mundo olhar para o oceano como um todo”, explica.

De acordo com a bióloga, o Brasil pode ser referência na economia azul sustentável. “Temos uma grande floresta e um grande oceano. Os dois podem nos tornar líderes no combate à crise climática”, avalia.

A Enviada Especial afirma ainda que o oceano é o principal lembrete para a humanidade da importância do multilateralismo. “Os oceanos se conectam em termos físicos e biológicos. Por isso é tão importante todos os países se conscientizarem. Estamos todos no mesmo barco”.

Adaptação é inevitável

Scherer lembra que os efeitos da mudança do clima nos oceanos são visíveis. São exemplos disso a elevação do nível do mar e o aumento de eventos extremos, como ciclones, secas e chuvas torrenciais.

A adaptação a este novo cenário, segundo a Enviada, é um desafio inevitável. “Manguezais, recifes de coral, dunas e marismas são campeões da adaptação. Esses ecossistemas fazem o trabalho de proteção de forma gratuita. A gente só precisa não destruí-los”.

Marinez reforça que o custo de preservar é muito menor do que o de reconstruir. “Se achamos caro conservar, o preço de não fazer isso será muito mais alto e pago em vidas humanas, destruição de infraestrutura e diminuição do bem-estar humano em geral. O mar é um bem comum da humanidade, e cuidar dele é uma responsabilidade de todos.”

Fonte: Um só Planeta

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