EnglishEspañolPortuguês

MUDANÇAS AMBIENTAIS

Oceano Antártico está ficando mais salgado e isso pode acelerar colapso do gelo marinho, alertam cientistas; entenda

Desde 2015, a Antártida perdeu uma quantidade de gelo marinho equivalente ao tamanho da Groenlândia

2 de julho de 2025
5 min. de leitura
A-
A+
Foto: University of Southampton

Uma reviravolta preocupante está acontecendo nas águas geladas que cercam a Antártida. Novo estudo liderado pela Universidade de Southampton, do Reino Unido, detectou que, ao contrário do que vinha sendo observado nas últimas décadas, o Oceano Antártico está se tornando mais salgado, o que pode estar acelerando o colapso do gelo marinho.

A descoberta, publicada no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, é de que, por volta de 2015, a salinidade da superfície do Oceano Antártico começou a aumentar acentuadamente, ao mesmo tempo em que a extensão do gelo marinho começava a cair.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, desde 2015, a Antártica perdeu uma quantidade de gelo marinho equivalente ao tamanho da Groenlândia.

Durante décadas, a superfície do oceano se tornou mais fresca (menos salgada), contribuindo para o crescimento do gelo marinho. Mas, agora, a tendência se inverteu drasticamente.

Em artigo publicado no Science Alert, o pesquisador Alessandro Silvano explicou que, normalmente, a água fria e doce da superfície fica acima da água mais quente e salgada, mais abaixo.

“Essa estratificação retém o calor nas profundezas do oceano, mantendo as águas superficiais frias e contribuindo para a formação do gelo marinho”, salientou. “Água salgada é mais densa e, portanto, mais pesada. Quando as águas superficiais se tornam mais salgadas, elas afundam mais facilmente, agitando as camadas do oceano e permitindo que o calor das profundezas suba.”

Ainda segundo ele, esse fluxo de calor ascendente pode derreter o gelo marinho por baixo, mesmo durante o inverno, dificultando a sua formação, e a circulação vertical também extrai mais sal das camadas mais profundas. “Um poderoso ciclo de feedback é criado: mais salinidade traz mais calor para a superfície, o que derrete mais gelo, o que então permite que mais calor seja absorvido do Sol”, explica Silvano.

Os cientistas chegaram a essa descoberta com o uso dos novos satélites da Agência Espacial Europeia e de robôs subaquáticos que ficam abaixo da superfície do oceano medindo temperatura e salinidade.

Problema planetário

Em seu artigo, Silvano argumentou que a perda de gelo marinho na Antártida é um problema planetário. “Ele atua como um espelho gigante que reflete a luz solar de volta para o espaço. Sem ele, mais energia permanece no sistema terrestre, acelerando o aquecimento global, intensificando tempestades e elevando o nível do mar em cidades costeiras em todo o mundo”, listou.

E não só isso; a vida selvagem também sofre. Por exemplo, os pinguins-imperadores dependem do gelo marinho para procriar e criar seus filhotes. Além disso, o krill (crustáceos que formam a base da cadeia alimentar antártica) alimenta-se de algas que crescem sob o gelo e, sem esse gelo, ecossistemas inteiros irão se desintegrar.

“O que está acontecendo no fundo do mundo está repercutindo para fora, remodelando os sistemas climáticos, as correntes oceânicas e a vida na terra e no mar”, afirmou o pesquisador. “A Antártica não é mais o continente estável e congelado que um dia acreditávamos ser. Ela está mudando rapidamente, e de maneiras que os modelos climáticos atuais não previam. Até recentemente, esses modelos presumiam que um mundo em aquecimento aumentaria a precipitação e o derretimento do gelo, refrescando as águas superficiais e ajudando a manter o gelo marinho da Antártida relativamente estável. Essa suposição não se sustenta mais.”

De acordo com ele, o principal fator que levou ao aumento da salinidade continua incerto, o que ressalta a necessidade de os cientistas revisarem sua perspectiva sobre o sistema antártico e a urgência de mais pesquisas.

“Precisamos continuar atentos, mas o monitoramento contínuo por satélite e pelos oceanos está ameaçado por cortes de financiamento. Esta pesquisa nos oferece um sinal de alerta precoce, um termômetro planetário e uma ferramenta estratégica para monitorar um clima em rápida mudança. Sem dados precisos e contínuos, será impossível nos adaptarmos às mudanças que estão por vir”, finalizou.

Fonte: Um só Planeta

    Você viu?

    Ir para o topo