Elas aparecem em vídeos fofos, cafés temáticos e fotos do Instagram: lontras-anãs-asiáticas tornaram-se estrelas da internet. Mas por trás dos sorrisos dos turistas e das curtidas nas redes sociais, se esconde uma realidade sombria de tráfico, sofrimento e exploração. A moda de domesticar animais selvagens ameaça espécies inteiras e perpetua um ciclo de crueldade disfarçado de amor pelos animais.
As lontras-anãs-asiáticas, espécie classificada como vulnerável pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), estão desaparecendo na natureza devido à destruição de habitats e ao tráfico. Mesmo assim, continuam sendo exibidas em cafés japoneses, onde são forçadas a interagir com humanos em troca de comida, sob condições estressantes e antinaturais.
Para entender como as lontras estão parando nos cafés japoneses, pesquisadores da Universidade de Kyoto se uniram a cientistas tailandeses.
Os estudos revelam que a maioria desses animais vem do tráfico na Tailândia, onde são arrancados de seus habitats e vendidos por traficantes. Muitas morrem durante o transporte, e as que sobrevivem enfrentam uma vida em cativeiro, longe de seus grupos sociais naturais — algo essencial para essa espécie altamente sociável.
Cativeiro não é proteção
Defensores do entretenimento envolvendo animais exóticos argumentam que zoológicos e cafés ajudam na proteção de espécies. Mas a realidade é bem diferente.
Lontras em cafés têm baixa diversidade genética, muitas vezes sendo resultado de reprodução forçada entre parentes próximos, o que leva a doenças e menor expectativa de vida.
Animais selvagens não foram feitos para viver em pequenos espaços, sob luzes artificiais e barulho constante. Muitas lontras em cativeiro desenvolvem estereotipias (comportamentos repetitivos e anormais), sinal claro de sofrimento psicológico.
Cafés e vídeos de animais exóticos não educam — eles romantizam a posse de animais selvagens, incentivando mais pessoas a comprá-los ilegalmente.
Em 2012, o Japão declarou extinta sua lontra nativa (Lutra lutra whiteleyi), após décadas de caça e destruição de rios. Agora, o país repete o erro ao alimentar a demanda por lontras-anãs-asiáticas, contribuindo para o declínio da espécie em outros países.
Se o Japão realmente ama lontras, deveria protegê-las na natureza, não explorá-las como brinquedos vivos em cafés. A verdadeira admiração pelos animais deve vir do respeito à sua liberdade — não da exploração para entretenimento humano.