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O templo dos tristes tigres

13 de junho de 2016
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Bricadeiras de tigres no templo na província de Kanchanaburi Chaiwat Subprasom/Reuters
Bricadeiras de tigres no templo na província de Kanchanaburi Chaiwat Subprasom/Reuters

Era um segredo mal guardado o que se passava no Templo dos Tigres. Nesta grande atração turística da Tailândia, a cerca de 160 quilômetros da capital, Banguecoque, monges budistas vestidos com as suas fotogênicas túnicas cor-de-açafrão cobravam 17 dólares de entrada aos turistas para verem tigres interagir com as pessoas. Para tirar fotografias com as suas poderosas cabeças no colo, ou a fazer-lhes festas e alimentá-los – os animais estavam claramente drogados, queixavam-se alguns turistas –, os monges iam sempre cobrando mais por cada gracinha. O negócio renderia cerca de sete milhões de dólares anuais.

As denúncias de maus-tratos aos animais começaram a ser feitas há anos e por várias entidades de defesa da natureza, baseando-se em testemunhos. Mas o templo liderado pelo abade Phra Acham Phoosit (Chan) Kantitharo, que tinha tigres desde 1999, tinha conseguido escapar sempre a represálias das autoridades. Agora, num raide que durou mais de uma semana, o Departamento de Parques Nacionais resgatou finalmente 137 tigres vivos. Mas descobriu 40 crias num congelador industrial que pareciam ter sido recentemente congeladas e 20 outras que estavam preservadas em frascos.

“Embora as circunstâncias destas mortes continuem por esclarecer, lamentavelmente estas crias representam apenas uma pequena proporção da enorme extensão do negócio ilegal em torno da vida selvagem, que está a levar as espécies à beira da extinção”, disse a Agência para as Drogas e a Criminalidade das Nações Unidas, num comunicado divulgado após o início das buscas no templo.

Como se estas descobertas não fossem suficientemente macabras, a cerca de 50 km de distância, encontraram uma casa numa zona isolada, cercada por uma alta vedação onde estavam quatro tigres vivos e várias jaulas vazias. Havia ali uma sala com uma grande mesa de corte e uma enorme variedade de facas.

“Acreditamos que esta casa era usada pelo Templo dos Tigres como matadouro dos tigres. Ali seriam mortos para lhes retirarem as peles, carne e ossos para serem exportados, ou enviados para restaurantes na Tailândia que servem carne de tigre para grupos”, disse à Associated Press o coronel Montri Pancharoen, subcomandante da Divisão de Supressão do Crime, que supervisionou a operação.

Esta é a suspeita que recai sobre o Templo dos Tigres; longe de ser um local idílico de equilíbrio entre seres humanos e um grande predador – do qual se estima existirem menos de 3900 em estado selvagem, está na Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza – era um importante nó numa rede de tráfico de animais.

Negócio de 19 mil milhões

O negócio do tráfico de animais selvagens é um dos mais lucrativos do mundo – só é superado pelo comércio clandestino de armas e drogas, disse à agência Efe Luis Suárez, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF). O tráfico vale pelo menos 19 mil milhões de dólares por ano (16.750 milhões de euros), diz a Agência para as Drogas e a Criminalidade da ONU.

O secretário do monge que lidera o templo foi apanhado pela polícia a tentar fugir do recinto numa carrinha com duas peles de tigre, dez dentes e cerca de mil amuletos com pedacinhos de pele de tigre. Vários outros monges e devotos foram detidos e acusados de estarem na posse de produtos feitos com espécies de protegidas. O abade deverá prestar declarações.

Numa altura em que os tigres desaparecem do seu habitat natural, cerca de 6000 estão neste momento a ser criados em cativeiro na Ásia, na maior parte das vezes ilegalmente. Uma decisão da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES) estipula que “os tigres não devem ser criados para comercializar partes do seu corpo ou derivados”.

Mas um estudo da organização Traffic sugere que pelo menos 5000 estarão a ser criados na China – país que maior apetite tem por produtos de luxo e de medicina natural derivados de tigre –, 1450 na Tailândia, 180 no Vietname e talvez 400 no Laos. Em vários outros países asiáticos há jardins zoológicos e coleções privadas, diz o jornal The Guardian.

*Esta notícia foi escrita, originalmente, em português europeu e foi mantida em seus padrões linguísticos e ortográficos, em respeito a nossos leitores.

Fonte: Público PT

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