Estudos globais apontam para um declínio alarmante na população de pardais, e as causas estão diretamente ligadas ao modo de vida dos humanos e à transformação dos centros urbanos.
De acordo com organizações de conservação como a Royal Society for the Protection of Birds (RSPB), do Reino Unido, uma das aves mais familiares e presentes no cotidiano das cidades em todo o mundo está em declínio acentuado. O pardal (Passer domesticus), aquele pássaro pequeno e resiliente que sempre esteve entre nós, está desaparecendo silenciosamente, e poucos perceberam.
Este fenômeno não é um caso isolado, mas um alerta global. A história do pardal está diretamente ligada à história da civilização, e seu sumiço revela um desequilíbrio profundo na saúde dos ambientes urbanos que nós, humanos, criamos. Entender por que essa ave tão comum está em risco é entender o impacto invisível do nosso estilo de vida sobre a natureza que nos cerca.
Uma parceria de 10 mil anos em risco
O pardal é o que os biólogos chamam de espécie comensal, ou seja, ele evoluiu para viver junto aos humanos. Há cerca de 10.000 anos, com o surgimento da agricultura no Oriente Médio, essa pequena ave encontrou nos assentamentos humanos uma fonte farta de grãos e abrigo. Desde então, ela nos seguiu por todo o planeta, embarcando em navios e se espalhando pelas Américas, Austrália e África.
Essa capacidade de adaptação o transformou no pássaro selvagem de maior distribuição global. No entanto, o mesmo ambiente que criamos e que permitiu sua prosperidade, agora está se tornando hostil e mortal.
As causas do declínio, o que está matando os pardais?
O desaparecimento dos pardais não tem uma única causa, mas é o resultado de uma combinação de fatores ligados à vida moderna.
Fome no ninho: pardais adultos comem grãos, mas seus filhotes dependem exclusivamente de insetos nos primeiros 15 dias de vida. Estudos científicos, como um relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), apontam que mais de 40% das espécies de insetos estão em declínio no mundo. O uso de pesticidas e a perda de áreas verdes nas cidades eliminam a principal fonte de alimento dos filhotes, que acabam morrendo de fome.
Arquitetura hostil: a construção moderna, com seus prédios de vidro e concreto selados, eliminou as frestas, os beirais e os pequenos buracos que os pardais usavam para fazer seus ninhos. Literalmente, eles estão ficando sem ter onde morar.
Poluição luminosa e sonora: a luz artificial intensa das cidades durante a noite desregula o ciclo de sono e reprodução das aves. O ruído constante de motores e sirenes, por sua vez, interfere na comunicação entre os pardais, dificultando o acasalamento.
Predadores domésticos: estudos, como um publicado na revista Nature Communications, estimam que gatos domésticos e de rua são uma das maiores ameaças, matando entre 1,3 e 4 bilhões de aves por ano, apenas nos Estados Unidos. Pardais, por viverem próximos aos humanos, são alvos fáceis.
A “síndrome do silêncio”, o que o sumiço dos pardais revela
O desaparecimento dos pardais é um sintoma de um fenômeno maior, que alguns cientistas chamam de “síndrome do silêncio ecológico”. Pesquisas mostram que a riqueza de sons da natureza, especialmente o canto dos pássaros, está diminuindo em todo o mundo. O silêncio deixado pelos pardais é um indicador da perda de biodiversidade em nossos próprios quintais.
O impacto disso vai além do ecológico. Estudos na área da psicologia ambiental demonstram que o contato com a natureza, incluindo o simples ato de ouvir o canto dos pássaros, tem efeitos positivos na saúde mental dos humanos, reduzindo o estresse e a ansiedade.
Existe esperança? Iniciativas de proteção ao redor do mundo
A boa notícia é que a conscientização sobre o problema está crescendo. Ativistas na Índia criaram o Dia Mundial do Pardal, celebrado em 20 de março, para promover a proteção da espécie. Na Inglaterra, ONGs lideram projetos para instalar caixas-ninho em escolas e praças. Na Espanha, algumas cidades estão adaptando novas construções para serem mais amigáveis às aves urbanas.
O que nós, humanos, podemos fazer para ajudar?
Pequenas ações individuais podem fazer uma grande diferença para a sobrevivência dos pardais e de outras aves urbanas.
Crie um ambiente amigável: plante flores e arbustos nativos em seu jardim ou varanda para atrair insetos.
Ofereça abrigo: instale caixas-ninho e bebedouros de água.
Evite pesticidas: opte por soluções naturais para o controle de pragas.
Controle os predadores: se você tem um gato, mantenha-o dentro de casa ou use uma coleira com sino para alertar os pássaros.
Fonte: Click Petróleo e Gás