O estudo mais recente da organização global de veganismo Veganuary e do HappyCow, aplicativo que mapeia a oferta de comida vegana pelo mundo, aponta que o Brasil tem 3.141 estabelecimentos que servem opções do tipo. A cidade mais vegan friendly do país é São Paulo, e o Rio vem em seguida, com 291 locais. No Rio, a maior parte das casas se concentra na Zona Sul. Muitas oferecem uma alimentação exclusivamente à base de vegetais e já são conhecidas; outras permanecem como tesouros a serem descobertos.
Chef e dono dos restaurantes Teva, em Ipanema, e Deva Deli, em Copacabana, Daniel Biron é vegano há 18 anos. Suas casas figuram entre as preferidas das pessoas que optam por uma alimentação à base de vegetais. No entanto, ele não gosta que os estabelecimentos sejam rotulados como veganos.
“Somos veganos, mas não gosto de ser rotulado ou categorizado porque muitas pessoas enxergam isso como algo limitador. Quando ganhamos prêmios, questiono estar na categoria vegana porque nossa proposta é fazer uma comida que seja tão gostosa que não deixe nada a desejar para uma comida que tem insumos de origem animal”, explica.
Para Biron, muita gente desiste de experimentar um prato quando descobre que é vegano.
“Minha missão é fazer produtos de qualidade, e propomos bons momentos de consumo com consciência ambiental. Muda o julgamento ter escrito no menu que o curry é vegano ou que ele é perfumado por vegetais. Nossa preocupação vai muito além da comida e dos orgânicos. Buscamos ter um horário de funcionamento que atenda todos, prestar um bom atendimento e trabalhar com embalagens biodegradáveis. E somos uma empresa B certificada”, afirma, referindo-se ao selo que atesta que um negócio se baseia no desenvolvimento social e ambiental.
Localizado em Botafogo, o restaurante Brota, da chef Roberta Ciasco, entrou este ano para a categoria Bib Gourmand (bom e barato) do Guia Michelin. No bairro não faltam opções. Há o Naturaliê Bistrô, da chef Nathalie Passos; a hamburgueria Vegan Ti; e o famoso Vegan Vegan, do casal de chefs Thina Izidoro e Jam Carvalho, que existe há mais de 20 anos. Este último também faz sucesso pela casa que parece uma chácara e é rodeada de verde, bananeiras, palmeiras e gravatás.
É também em Botafogo que abriu a primeira sorveteria à base de plantas do país, a Hoba Sorvetes. A casa nasceu como uma alternativa para diminuir a quantidade de frutas que seriam desperdiçadas e para fomentar a agricultura orgânica. Bruno Karraz, dono do negócio, conta que uma pesquisa interna da soverteria mostra que 80% dos clientes não têm qualquer restrição alimentar e são pessoas que buscam uma alimentação saudável e gostosa.
“Hoje, a pecuária polui mais do que todos os meios de transporte. Sorvetes são leite e creme de leite, e por isso eu decidi que não iria usá-los quando comecei. Busquei fontes alternativas para trazer a gordura e a cremosidade e encontramos a castanha de caju. Não nos posicionamos como veganos”, diz Karraz.
A Hoba tem ainda uma cafeteria com doces sem ingredientes de origem animal. A fábrica é no próprio prédio da sorveteria. A marca foi criada em 2015, e a sorveteria reabriu em 2022, após ficar fechada na pandemia.
Cardápios incluem árabe, fast food e até comida japonesa
No Jardim Botânico, um destino vegano é o Prana, do chef Marcos Freitas, que funcionava no Cosme Velho e em 2017 abriu as portas numa casa na Rua Lopes Quintas. Aos fins de semana, em sua casa em Santa Teresa, a cozinheira Mari Marola (@mari.marola) faz um brunch vegano com receitas de família e ingredientes orgânicos.
No Leblon, mais opções. Na Almirante Pereira Guimarães tem o The Vegan Burguer House, com hambúrgueres de cogumelos e de fibra de caju; e o Da Tita Bistrô Vegano. Outro bistrô vegano no bairro é o Seeds. Além do Leblon, o Vida Bistrô serve suas delícias também na Gávea.
“Não sou vegano, mas eu gosto de experimentar novos sabores. Descobri o Vida Bistrô sem querer, quando estava andando pelo Leblon. Adoro. O cardápio é único e muda a cada dia”, diz o hair stylist Gui Becker.
Escondido dentro do Ipanema Beach Star está o Spazziano, cujos pratos são feitos com verduras e brotos orgânicos vindos da horta do Spa Maria Bonita, em Nova Friburgo. No mesmo bairro tem o Lemí, o árabe vegetariano que abriu em 2022.
“Quando falamos de lugares com opções veganas, definitivamente a Zona Sul é a campeã. É onde podemos encontrar restaurantes 100% vegetais e casas que oferecem opções. O melhor é que a oferta é muito ampla, vai desde a comida árabe a bufê a quilo, passando por hamburguerias e pizzarias”, conta Nina Gruber, engenheira ambiental.
Cynthia Brant, chef da marca de queijos veganos La Fromagerie Vegan e moradora de Ipanema, prefere a culinária contemporânea com novidades e influências locais e do mundo plant based.
“O Rio ainda carece de boas opções veganas, mas a Zona Sul oferece o maior número delas. Quando falamos em roupas, acessórios e cosméticos, a oferta ainda é menor. Acho que existe a demanda, mas as iniciativas são de pequeno porte; ainda não chegam ao comércio em escala e acabam perdendo espaço e competitividade”, afirma Cynthia.
Quem busca um doce pode aproveitar a Leve Brigaderia, um quiosque no Shopping da Gávea que tem doces sem leite e usa ingredientes como tâmara, cacau e sementes. Apesar de não ser uma casa à base de vegetais, a Alva Padaria Artesanal tem fornada vegana às sextas-feiras. Uma dica é o NY Roll de pistache, um dos carros- chefes da casa.
Não dá para esquecer o Açougue Vegano, com lojas em Ipanema e no Flamengo, que foi um dos primeiros a trazer para o Rio opções como a famosa coxinha de jaca. Copacabana vai ganhar ainda este mês uma loja do Refúgio Veg, famoso pelas opções veganas de fast food. Em Botafogo, na Rua Dezenove de Fevereiro, também acaba de ser aberto o Inari, da chef Paula Castelo Branco.
A comida japonesa não fica de fora. O Zui Veg foi um dos pioneiros, quando o Zui Sushi abriu a linha para veganos e vegetarianos, há seis anos. No ano passado, o Gurumê do Rio Design Leblon criou o menu Vegmê.
Vestuário sem nada de origem animal também tem público
Vice-presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira, Ricardo Laurino acredita que hoje existe mais interesse e curiosidade das pessoas a respeito de alimentos e produtos feitos sem nada de origem animal.
“Muitas pessoas que ainda comem carne gostam de frequentar restaurantes de alimentação vegana, e cada vez mais surgem casas com menu à base de vegetais. Hoje, embora não sejam veganos, a maior parte dos restaurantes também já oferece opções para quem tem essa escolha alimentar. De uma maneira geral, observo que os consumidores atualmente têm uma nova percepção; querem cosméticos, sapatos e produtos veganos. Isso é excelente para o mercado, que fica cada vez mais amplo”, explica.
Apesar da farta oferta de opções veganas gastronômicas, ainda não é fácil encontrar roupas, sapatos e bolsas que sejam veganos em lojas físicas. Em Ipanema, desde 2021 há a Lapa Shoes, uma marca carioca que não usa qualquer material de origem animal na produção dos calçados e utiliza trama de garrafas PET na produção. No RioSul, foi aberta há dois anos uma franquia da Perky Shoes, que nasceu em Porto Alegre em 2011.
“Temos alguns clientes que são veganos, mas a maioria nos procura pela questão do consumo consciente. O solado dos tênis é vulcanizado, uma técnica que derrete fibra de algodão com fibra de garrafa PET. O das alpargatas é de PVC. Em vez de camurça, usamos suede, e a resina termoplástica substitui o couro”, explica o franqueado Antônio Carneiro.
Fonte: O Globo