Ironia ou não, a música “This is me” – “Este sou eu”, em tradução livre – ganhou o Globo de Ouro de melhor canção original ontem à noite, 07, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
A melodia embala o filme “O Rei do Show”, que, segundo a sinopse da crítica, conta a história de P. T. Barnum, um precursor do show biz.
Na verdade, P. T. Barnum foi o precursor da exploração em forma de exibicionismo de animais e humanos – e quem já teve acesso à sua biografia sabe que isso nada tinha a ver com aceitação social.
Entretanto, contar uma história dessas sob uma trilha sonora incrível, com o empático Hugh Jackman no papel do explorador e uma produção impecável que rendeu ao longa duas indicações ao Globo de Ouro prova o quanto o show biz aprendeu direitinho.
Um dos fundadores do Ringling Bros. Circus, que fez sua última apresentação em maio do ano passado, Barnum não só foi o responsável pelo modelo de negócio que escravizou centenas de animais selvagens por mais de 100 anos, como também disseminou a cultura desse tipo de espetáculo por todo o mundo.
Barnum era conhecido como o “Príncipe das Falcatruas”. Assim que criou o circo itinerante com animais selvagens, o elefante Jumbo era a principal atração. Quando o animal morreu atropelado, mandou empalhar Jumbo e continuou a apresentá-lo como se nada tivesse acontecido.
Este era ele.
E atitudes como essa fizeram com que Barnum ganhasse um outro título, o de avô da publicidade.
Eu sou publicitária. E, assim como a indústria do cinema biográfico, vivo de envelopar histórias com embalagens bonitas. O que não significa enganar as pessoas. É como encapar um caderno: você pode encapá-lo para que fique mais bonito, mas não pode encapá-lo para tentar vendê-lo como uma caneta.
Logo, se ele é o avô da publicidade, eu sou a ovelha negra da família.