Diz você a palavra amor como acessório indissociável a toda referência que faz ‘aos animais’? Algo difuso, para alguns escolhidos sortudos. Mesmo que ignore, ou faça vista grossa de fiscal corrupto à concussão e pressão contidos naquele café com leite, inocente, e na fatia de queijo que bem lembra a infância? Repete, você, ‘compaixão’ a animais não-humanos distantes do ponto em que a vista alcança, tal como golfinhos, baleias, focas e ursos na China? Mesmo que não se permita abrir mão do sapato de couro, resíduo do esfolamento final de um cadáver que, em sua vida de expectativas, apenas engordou à força, a ferro & fogo? É ‘paixão’ o termo que melhor descreve as imagens idealizadas que compartilha na Internet, mostrando cãezinhos fofos, patinhos idem, porquinhos cor-de-rosa dormindo? Mas, à la Dr. Jeckyll / Mr. Hyde, não se furte a perder, no minuto seguinte, a promoção de grelhados em compra coletiva?
Acumula patologicamente cães e gatos embaixo de sua asa, dentro da lógica de que um campo de concetração é melhor que as ruas, e para tal empenha sua vida, sua saúde e seu crédito bancário? Argamassa é o que preenche seu vazio sentimental cada vez que seus asilados vibram na hora da ração?
Ou é você um herói da nova era, antenado e consciente, que toca o tambor do ovolactovegetarianismo o mais alto que consegue, ecoando um som que já aumenta e incomoda? Mas, em uma impotência de objetivos, falha ao romper o hímen dos ingredientes culinários ‘obrigatórios’ – leite, ovo, queijo, manteiga? Ideologiza, ainda, essa permanência com um pé em cada lado da fronteira, minimizando o terror vivo da produção leiteira e de poedeiras? Segue prometendo a si e aos animais, por remorso, uma vida de ‘galinha feliz’, ‘vaca feliz’, já que é escravo das próprias papilas gustativas sádicas, indiferentes, egóicas e ‘umbigo do mundo’? Acredita, então, na Vovó Donalda?
Alivia a culpa assinando tsunamis de petições virtuais que, via de regra, se perderão no mesmo ralo eletrônico?
Ou lê os autores recomendáveis, apropria-se dos jargões abolicionistas, informa-se, discute com colegas e com desconhecidos nas redes sociais, idolatra a ALF, mas a portas fechadas, sem ninguém olhando, defeca sobre o auto-propalado veganismo? Trai os animais, ao fazer questão de comrpar este ou aquele produto industrializado, tapando o rótulo com uma peneira? Caga e anda para testes, e ainda acha que os demais não verão que esqueceu de puxar a descarga? Não resiste e come guloseimas que trazem ‘um ovinho’, ‘um pouquinho só’ de leite, cochonilha, traços? Esforça-se por ignorar, em restaurantes, que naquele prato estão itens que você publicamente combate, mas intimamente consome, espelhado nas pequenas hipocrisias que todos, afinal, carregam em si?
Relativiza certas situações, para condenar a pecuária industrial mas não quem ‘tem um porquinho no quintal’, concorda com ‘A Carne É Fraca’ mas sustenta que no sítio do próprio tio é diferente, e crê que liberdade é sinônimo de usar um animal tratando-o bem? Engole muitas arapucas do consumo por medo de perder a convivênia social? Tolera no parceiro carnista tudo o que diz condenar nas demais pessoas, com medo da solidão? Tem medo de parecer idiota? Vê no espelho um tirano, um populista, um bipolar ou um anti-especista de ocasião?
Afinal, o que promete aos animais? E o quanto você se compromete?