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O que fazer com a vontade de ajudar

29 de maio de 2010
4 min. de leitura
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Quando eu era ainda muito jovem tinha uma vontade imensa de colaborar com o mundo, de fazer boas ações.

E assim permaneci por alguns anos: cheia de energia e boas intenções, mas sem saber como dar forma a toda essa vontade de fazer alguma coisa pelo mundo.

Fui vivendo e convivendo com essa vontade, ouvindo de outras pessoas sobre a alegria que é se dedicar voluntariamente a uma causa, ajudando alguém mais vulnerável e necessitado. Mas nada disso foi suficiente para que eu descobrisse de que forma eu poderia abraçar uma causa do bem e efetivamente dar minha contribuição.

No começo, quando ainda estamos “ensaiando” para entrar na roda viva dos que colocam a mão na massa por uma boa causa, somos presenteados por pequenas oportunidades de ajudar o próximo, seja ele humano ou não humano.

Em parte porque a nossa cultura não estimula desde cedo o desenvolvimento de uma consciência solidária, e em parte porque eu ainda não me conhecia o suficiente para saber o que me cabia fazer pelo mundo, foi depois dos vinte e poucos anos de idade que amadureci e despertei para a necessidade de agir.

Por isso considero o voluntariado (ou o ato de ajudar espontânea e desinteressadamente) algo que não se pode impor jamais a alguém: porque antes a própria vida prepara a pessoa por dentro, preenchendo-a de uma compreensão muito própria, de valores e ideais bem digeridos, e nascidos nela, que possam dar consistência à ação que ainda está por vir. Eu não acredito no valor de ações vazias, automáticas, e também não acredito que alguém possa contribuir com o mundo sem antes ter mergulhado em seus próprios labirintos e aprendido com os próprios tropeços e triunfos.

Ao ajudar, fazemos porque nos sentimos chamados a fazer e não porque alguém tenha nos pressionado a fazer.

A vontade enquanto só gira em torno de si existe pela metade, pois a vontade é o importante sinal de que somos capazes de realizar algo. Vontade sem ação é como um corpo sem mobilidade, como um olho aberto que não enxerga, como algo que não cumpre a sua função mais fundamental.

Sou, portanto, solidária aos que sentem uma vontade genuína de ajudar porém não conseguem perceber ainda o caminho por onde agir. Aprendi que passamos por preparações necessárias, e que a vida nos chamará no momento exato, se assim tiver que ser. Basta que a mente não esteja estagnada, basta que o coração deseje ardentemente o bem e que as mãos estejam prontas para chegar ao outro: basta olhar um pouco ao redor e sentir as feridas do mundo.

Braços estendidos para o bem

Nosso mundo está doente, caótico e carente de mãos, braços e corações generosos.

Precisam de nós os animais: esses seres sencientes que cumprem muitas vezes o papel de grandes mestres, e que ao mesmo tempo são tão sofridos, torturados e esquecidos por nossa sociedade consumista e gananciosa.

Neste caso, o vegetarianismo é quando despertamos verdadeiramente para a existência desses seres diferentes de nós e amadurecemos a consciência para o respeito aos animais não humanos. Ser vegetariano, no entanto, não é nenhuma boa ação, mas sim o mínimo de respeito que devemos demonstrar e praticar pelos animais. A boa ação é uma contribuição que fazemos continuamente para além do que somos.

A terra , as plantas e os habitats, devastados pela fome do homem em busca de dinheiro, precisam do nosso cuidado, do nosso gesto amoroso. A árvore não quer ser dilacerada, ela não quer ficar aleijada para dar caminho ao fio elétrico.

As mulheres, as crianças, os homossexuais, os doentes, os deficientes, os idosos e todas as criaturas no mundo que são vítimas da ignorância,  do preconceito e da truculência injustificável dos seres humanos aguardam alguma forma de apoio.

Esta vida não é um amontoado de coisas sem sentido. Se nós somos dotados de recursos e capacidades, não é à toa. Tudo tem valor, quando utilizado para o bem. De que adianta a inteligência se servir à vaidade? De que adianta a habilidade pacífica se servir à indolência? De que adianta a tecnologia se não servir à paz?

A nossa responsabilidade (ou a medida pela qual devemos responder por nossos atos) é diretamente proporcional aos nossos conhecimentos. Se sabemos que alguém precisa de ajuda e não estendemos o braço; se sabemos da condição deplorável do mundo, e não ajudamos a plantar uma semente sequer de paz no coração das pessoas, então perguntemo-nos o que fazemos aqui.

A hora para agir é a cada oportunidade que a vida nos dá. O nosso tempo é fruto de um processo de amadurecimento que só a própria vida nos dirá. Fique atento aos chamados que ela emite a você.

Podemos fazer qualquer coisa. Basta querermos, e a força vem. Passamos, então, quase magicamente, a saber o “como”.

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