“A Mãe Terra está com febre”, alertou António Guterres, secretário-geral da ONU, em mensagem neste Dia da Terra ou “Earth Day”, promovido anualmente pelas Nações Unidas em 22 de abril desde 1970.
Enquanto a “doença” seria a emissão de gases estufa causados principalmente pela queima de combustíveis fósseis, os sintomas são “incêndios florestais arrasadores, inundações e calor, além de vidas perdidas e meios de subsistência destruídos”, destacou Guterres nesta terça-feira. Não à toa, 2024 foi confirmado o ano mais quente da história.
Já a “cura” seria reduzir drasticamente as emissões e impulsionar a adaptação climática para proteger a humanidade e a natureza de eventos extremos, mirando um presente e futuro mais sustentável e justo.
2025 é considerado crucial para o combate à crise climática: o histórico Acordo de Paris comemora 10 anos e o mundo corre contra o tempo para cumprir suas metas. Segundo a ONU, este deve ser “o ano em que restauraremos a boa saúde da Mãe Terra” e os países devem apresentar novos planos nacionais de ação alinhados com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
Com o tema “Nosso Poder, Nosso Planeta”, o foco deste Dia da Terra está na expansão de energias renováveis, em sintonia com compromissos internacionais para triplicar a capacidade de geração de fontes limpas até 2030.
A expectativa é que o G20, bloco das 20 maiores economias globais, “lidere o caminho”, ressaltou Guterres. Além disso, a ação climática clama por medidas urgentes para frear a perda de biodiversidade, combater a poluição plástica e alcançar o financiamento para países mais vulneráveis lidarem com os efeitos da tripla crise planetária.
Este ano também faz parte da Década do Oceano (2021 a 2030), iniciativa da ONU para conscientizar a população global sobre a importância dos oceanos e a busca constante por soluções visando o desenvolvimento sustentável. Dentro da agenda, a temática de 2025 é preservação das geleiras, pelo seu papel vital para o equilíbrio climático e manutenção da vida.
Frente a uma série de desafios e altas expectativas, a Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (COP30) no Brasil, em Belém do Pará, em novembro deste ano, traz esperança. O braço da ONU no país chama a atenção para a Amazônia e a importância da luta dos povos indígenas como grandes guardiões da vida e da casa comum.
Como surgiu
Criado em 1970 nos Estados Unidos pelo senador Gaylord Nelson e o estudante Denis Hayes, o Dia da Terra surgiu como resposta ao derramamento de óleo em Santa Bárbara, Califórnia, em 1969.
O que começou com 20 milhões de americanos nas ruas se transformou, em 1990, em um movimento global que hoje mobiliza mais de um bilhão de pessoas em quase 200 países. Em 2025, a data comemora 55 anos.
Conquistas históricas
O impacto do primeiro Dia da Terra foi expressivo nos Estados Unidos, resultando na criação da Agência de Proteção Ambiental e no fortalecimento de legislações como a Lei do Ar Limpo. Ao longo das décadas, a data catalisou o plantio de centenas de milhões de árvores, apoiou práticas agrícolas sustentáveis e impulsionou projetos de educação climática globalmente.
Em 2016, a data foi escolhida simbolicamente para a assinatura oficial do Acordo de Paris, marco histórico na cooperação climática internacional.
Apesar de algumas conquistas, o planeta pede socorro e os ambientalistas alertam que “a comemoração” pode dar uma falsa sensação de progresso. “Se transformou em uma oportunidade para pessoas no poder postarem seu ‘amor’ pelo planeta, enquanto ao mesmo tempo o destroem em velocidade máxima”, criticou em uma ocasião a jovem ativista, Greta Thunberg.
Os sinais são claros: o mundo está perdendo 10 milhões de hectares de florestas todos os anos, uma área maior que a Islândia, e estima-se que atualmente cerca de um milhão de espécies animais e vegetais estejam ameaçadas de extinção, ressalta a ONU.
Mensagem na íntegra
“A Mãe Terra está com febre.
O ano passado foi o mais quente desde que há registo.
O ponto culminante de uma década marcada por temperaturas recorde.
Sabemos o que está a causar esta doença: as emissões de gases com efeito de estufa que a humanidade continua a lançar para a atmosfera – maioritariamente resultantes da queima de combustíveis fósseis.
Sabemos quais são os sintomas: incêndios florestais devastadores, cheias, calor extremo. Vidas perdidas, meios de subsistência destruídos.
E sabemos qual é a cura: reduzir rapidamente as emissões de gases com efeito de estufa e acelerar a adaptação às alterações climáticas para proteger as pessoas – e a natureza – de desastres climáticos.
Entrar no caminho da recuperação é uma vitória para todos.
As energias renováveis são mais baratas, mais saudáveis e mais seguras do que os combustíveis fósseis.
E investir na adaptação é essencial para construir economias resilientes e comunidades mais seguras, agora e no futuro.
Este ano é decisivo.
Todos os países devem apresentar novos planos nacionais de ação climática alinhados com o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 ºC – fundamental para evitar o pior da catástrofe climática.
É uma oportunidade vital para aproveitar os benefícios da energia limpa. Apelo a todos os países para que a aproveitem, com o G20 a liderar o caminho.
Precisamos também de agir contra a poluição, travar a perda de biodiversidade e garantir o financiamento necessário para proteger o nosso planeta.
Juntos, vamos arregaçar as mangas e fazer de 2025 o ano em que restauramos a saúde da Mãe Terra”
Fonte: Exame