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INDICADORES BIOLÓGICOS

O que as aves podem nos contar sobre a poluição atmosférica

Esses animais podem ser indicadores da qualidade ambiental.

8 de janeiro de 2025
Rede OrnitoMulheres, Alessandra Yumi Shinohara Espinosa e Isabella de Oliveira Facin
4 min. de leitura
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Bando de Andorinhas-do-campo (Progne tapera) em cerca, em Itaituba (PA) – Foto: Daniella França

A temática da poluição atmosférica é amplamente abordada na mídia: anualmente, noticiários mostram céus alterados pela fumaça de queimadas ou pela emissão desenfreada de poluentes em centros industriais e urbanos e somos alertados sobre síndromes respiratórias. Consequentemente, vê-se com maior frequência pessoas usando máscaras nas ruas e transportes públicos.

Além de gases e agentes biológicos, materiais particulados suspensos compõem o rol dos poluentes do ar. Dentre esses, os microplásticos – pedaços de plástico menores que cinco milímetros – a cada dia se tornam mais relevantes, à medida que são detectados em grandes quantidades em centros urbanos e rurais ao redor do mundo.

Esses pequenos poluentes plásticos podem receber o nome de microplásticos primários quando criados propositalmente com esse tamanho e secundários quando atingem a dimensão a partir da degradação de produtos plásticos maiores. Possuem formato de fibra, fragmento, esfera, filme ou espuma, com diversas cores e graus de porosidade superficial.

Os tipos mais comuns advêm de desgaste mecânico de materiais têxteis, ressuspensão de resíduos de pneus, polimento de unhas sintéticas em salões de beleza, secagem mecânica de material sintético e suspensão dos poluentes presentes em áreas de lixões, aterros sanitários e até mesmo em áreas de contato com águas doces ou oceânicas contaminadas.

Os microplásticos também estão presentes na atmosfera, além de estarem relacionados à alta presença de atividade humana em um ambiente, sendo encontrados em centros urbanos e no interior de residências e estabelecimentos e marcando presença em regiões rurais distantes das cidades e áreas industriais.

Qual é o problema desses poluentes?

Estudos mais recentes começaram a abordar a ocorrência desses materiais em nossos corpos. Uma vez que partículas de micro, ou mesmo nanoplásticos, são inaladas, podem se alojar nos pulmões, coração e áreas próximas ao cérebro. Ainda que a Ciência ande a passos largos, desconhece-se a totalidade da dimensão dos impactos do plástico em nossa fisiologia. Levanta-se principalmente sua toxicidade: sua composição química causa e agrava danos à saúde.

Como sabemos, a poluição por microplásticos afeta diretamente não apenas a saúde humana, como também a ambiental e animal. O estudo de determinados grupos animais, principalmente os sinantrópicos – silvestres que habitam ambientes urbanos – pode representar uma frente interessante na busca de um diagnóstico das proporções do problema abordado.

Aves ocupando a atmosfera

As aves estão expostas a ambientes da atmosfera dificilmente acessíveis a outros seres, por sua alta capacidade de deslocamento conferida pela habilidade de voo. Além disso, também são presentes em hábitats humanos, intensificando sua exposição a impactos antrópicos.

Esse grupo animal é particularmente sensível à poluição atmosférica, seja por microplásticos ou outros tipos de poluentes: são acometidas por doenças, imunossupressão, alterações comportamentais e queda no sucesso reprodutivo. Sendo assim, as aves são potenciais indicadores biológicos da qualidade do ar e sua contaminação por microplásticos.

E as aves, o que nos dizem?

Na atmosfera há uma grande diversidade de partículas em suspensão, que distribuem-se horizontal e verticalmente, de acordo com suas características de formato, tamanho e densidade. Hoje em dia, esses poluentes são detectados a partir de exames de deposição sobre superfícies

Em 2024, Wayman e colaboradores aproveitaram-se da sensibilidade das aves e publicaram um dos artigos pioneiros na investigação de microplásticos, utilizando-se do potencial bioindicador de andorinhas e andorinhões na cidade de Madrid (Espanha). Os cientistas estudaram o conteúdo de microplásticos nos sistemas respiratórios e digestivos dos animais e utilizaram um modelo estatístico que estimou com sucesso a distribuição de microplásticos pela cidade. 

Corroborando com outras pesquisas, ficou claro que a densidade dessas partículas está diretamente relacionada com a densidade populacional dos centros urbanos. Além disso, o trabalho foi capaz de levantar dados acerca da forma, tamanho e composição desses poluentes. Produções atuais e com resultados tão significativos quanto esse provavelmente serão precursoras de muitas outras no futuro próximo.

Graças à diversidade de hábitos e hábitats das aves, o estudo de diferentes grupos que exploram ambientes diversos trazem novos insights e informações relevantes previamente inalcançáveis por outros métodos, como o de análise de deposição para microplásticos.

Assim, esperamos que a relevância do tema alcance o público geral, e, como no caso de microplásticos marinhos, seja mote de campanhas midiáticas e políticas para a mitigação dos efeitos da contaminação por microplásticos do ar, em prol da saúde de todos os seres.

Fonte: Fauna News

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