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O prazer de um bom cigarrinho

16 de janeiro de 2009
3 min. de leitura
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“Francamente, aos doze anos, uma criança não se importa com a origem do dinheiro. Eu poderia ser vivisseccionista, creio que não faria grande diferença, desde que eu comprasse patins e trenós de neve. Não que eu esteja comparando vivisseccionistas com profissionais do tabaco. A bem da verdade, oponho-me taxativamente ao uso de animais em experiências científicas duvidosas. Eles torturam os pobrezinhos no Instituto Nacional de Saúde. Meu Deus, coitados dos coelhinhos. Parte o coração da gente vê-los morrendo nas gaiolas”.

“Morrendo?”
“Eles põem os coelhos nas máquinas de fumar. Um crime. Sabe, se eu fosse obrigado a fumar sete mil cigarros por dia, é quase certo que eu ficaria doente. E eu sou um fumante inveterado”
.

Esse é um trecho do livro Obrigado por Fumar de Christopher Buckley. O protagonista, Nick Naylor, responde a uma amiga que perguntara se seu filho não se incomodava com o fato de o pai ser o principal porta-voz do lobby das empresas de cigarro nos Estados Unidos. A obra, de leitura recomendada, é uma espécie de manual de antiética, com o cinismo e o humor ácido obrigatórios.

Pois a indústria tabagista, apesar das óbvias consequências que o fumo acarreta para a saúde – uma questão de saúde pública, e não um segredo descoberto em laboratório –, segue como uma locomotiva fumegante realizando testes em cobaias. Os preferidos são coelhos, macacos e cachorros beagle. Sim, o Snoopy também está pagando em vida pelos pecados dos fumantes. Para que cada tragada proporcione mais satisfação, muita dor é infligida a seres sencientes, que passam a vida nas estéreis gaiolas dos centros de pesquisa e, ainda pior, presos nas máquinas de tortura da ciência. Torquemada neles!

Hoje, quando vejo um fumante, vejo alguém que está com muitas horas de psicoterapia em haver, a fim de desfazer os nós da própria vida, mas que se agarrou a uma chupeta acesa tal como muitos se obrigam a ler até as revistas velhas das salas de espera de dentista, para aplacar a ansiedade. Enquanto isso, os Snoopies ficam presos em laboratórios com um orifício aberto cirurgicamente na garganta, para onde fumaça de cigarro concentrada é bombeada por um ano inteiro. Outros usam ‘máscaras de gás’ invertidas, ou seja, máscaras com fumaça que impedem a respiração do ar puro, o contrário das máscaras dos bombeiros, por exemplo. No pênis, são implantados eletrodos para avaliar o quão afetada é a performance sexual, durante a ‘pesquisa’. Ou seja, até para endossar o fato de que o sujeito está impotente porque fuma, animais têm que viver sob tortura. E me parece bem claro que se a Medicina corre atrás da cura para os problemas causados pela nicotina, a dúvida só existe no discurso do lobby pró-tabaco.

O curioso da nossa esquizofrenia moral é que, se alguém prender o cachorro em casa e colocar-lhe uma mangueira de fumaça na boca, durante um ano, será considerado criminoso e sádico. Se você fizer isso em um centro de pesquisas sobre tabagismo, não apenas será bem pago como poderá receber alguma distinção ou homenagem pelos serviços prestados ao progresso da ciência. Basta que use jaleco branco.

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