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O poder das comidas cruas

18 de fevereiro de 2010
7 min. de leitura
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Entrevista com Aris La Tham

Com exclusividade, por telefone à IHU On-Line, Aris La Tham, chef vegetariano famoso por seus alimentos feitos ao Sol, disse que nos alimentos há vida e devemos absorver com eles a energia solar que vão acumulando.

Aris La Tham, panamenho da Zona do Canal, é vegetariano há 34 anos e usa alimentos vegans, crus e vivos, há 28 anos. É descendente direto de uma família de mestres culinários africanos das Índias Ocidentais e tornou-se famoso defensor dos alimentos saudáveis. Formou-se no campus de Fullerton, da Universidade do Estado da Califórnia, com mestrado em Lingüística. É Ph.D. em Ciência da Alimentação e Nutrição. Trabalhou como administrador de Educação Bilíngüe. Foi eleito um dos melhores chefes vegetarianos dos EUA pela revista Vegetarian Times. Já apareceu nas páginas de publicações como Vegetarian Gourmet, Health Quest, Upscale, Essence e Tarzan Fitness Magazine, do Japão, e do jornal Washington Post. La Tham foi homenageado pelo Raw Food Culinary Masters Showcase (exposição de mestres da culinária crudívora) no Swept Away Resort. Trabalhou como consultor executivo de alimentação do Strawberry Hill Resort e atualmente dá curso para chefs vegans e crudívoros em hotéis internacionais e resorts. Seus serviços no campo da cura e da nutrição estão disponíveis no Spa Detox & Health, St Mary, Jamaica.


IHU On-Line
–  Por que se tornou vegetariano?

Aris La Tham – Eu me tornei vegetariano na década de 1960. Estava na faculdade e, naquela época, vivia-se um momento de contestação popular nos campus universitários, um movimento de conscientização e de busca por estilos de vida alternativos, então foi uma evolução natural para mim tornar-me vegetariano. Há mais de 30 anos eu não consumo nenhum tipo de comida cozida. E agora, observando a evolução da minha vida como um todo, em comparação com outras pessoas, eu vejo que, a medida que envelheço, me torno cada vez mais forte, mais criativo, enfim – estou cada vez melhor.

IHU On-Line – O que significa essa opção e como você a vive?

Aris La Tham – Todas as comidas cruas, ou vivas, são um estilo de vida. Deve-se entender que o corpo é composto de muitos líquidos e muitos fluídos então a maior parte do que consumo é em forma de creme. Basicamente, a minha alimentação é composta por vegetais, especialmente os não-protéicos, pasta de vegetais, nozes em geral e algas, essas últimas muito ricas em minerais. Uma porção muito pequena da minha alimentação vem de grãos ou legumes. O que eu consumo, basicamente, é suco de frutas frescas e suco de vegetais e bastante água de coco.

IHU On-Line – Quais são os alimentos considerados saudáveis? Ainda, o senhor poderia explicar com mais detalhes o que é uma comida preparada pelo sol?

Aris La Tham – Quando falamos em tipos de comida mais saudável, devemos ter em mente que não existe apenas um tipo mais saudável de comida. Devemos começar refletindo sobre a finalidade do ato de comer e então devemos buscar aquele tipo de comida que mais satisfaz esse fim. Então, estamos falando de alimentos que são eficientemente processados pelo corpo e que não requerem muito tempo de digestão. Os alimentos cozidos simplesmente destroem as enzimas digestivas, então o corpo é forçado a produzir uma quantidade extra de enzimas, um processo enormemente desgastante para o corpo. Assim, todo o princípio da sunfire food, ou alimentos cozidos pelo sol, baseia-se no fato de que o sol cozinha o alimento a medida em que ele cresce, ou seja, a própria transformação de uma semente em fruta ou vegetal que pode ser comido é, em si, um processo de cozimento. Ou seja, o alimento é cozido pelo sol durante todo o período do seu desenvolvimento. Então, o que eu faço é simplesmente “não fazer nada” com esse alimento, para não destruir a energia solar nele contida. Ainda, esses alimentos são, basicamente, auto-digestíveis.

IHU On-Line–  Basicamente, quais são os principais inimigos do alimento saudável? 

Aris La Tham– Qualquer alimento que você colocar dentro do seu sistema tem de passar pela corrente sangüínea para que o corpo possa utilizá-lo, para que o corpo tire para si o valor desse alimento. Dessa forma, os alimentos que desafiam esse processo são os mais perigosos para o sistema. Estamos falando de produtos industrializados em geral, de produtos lácteos, de alimentos gordurosos e salgados, de proteína animal e gordura animal. Entre os animais, por exemplo, estão os onívoros, que comem de tudo; herbívoros, que se alimentam do que vem da terra; e frutíferos, que só se alimentam de frutas. O fato de os humanos optarem por serem onívoros é um grande equívoco porque é o pior tipo de sistema de alimentação que existe, principalmente por causa do consumo de carne.

IHU On-Line– Pensando na população mundial como um todo, é possível, economicamente,  que todos se tornem vegetarianos?

Aris La Tham– Na verdade, já está provado que custa muito mais dinheiro para produzir proteína animal e que, em termos de custo-benefício, seria muito melhor se a humanidade adotasse uma alimentação vegetariana, particularmente a alimentação frutífera, que é a que mais se adapta a nós humanos, já que o nosso corpo está mais preparado para esse tipo de alimentação. Frutas como abacate e manga, por exemplo, têm a capacidade de se reproduzir sozinhas, ou seja, cada uma de suas sementes pode gerar uma nova árvore, numa cadeia que pode gerar bilhões de frutos para serem consumidos diretamente pelos seres humanos. Agora, árvores frutíferas precisam ser derrubadas para que o gado possa ser criado e os frangos alimentados. Em suma, o custo de produção dos alimentos de que o corpo realmente necessita para desempenhar suas funções é muito menor.

IHU On-Line– Ser vegetariano traria, então, benefícios econômicos, políticos e éticos?

Aris La Tham– Em primeiro lugar, temos que ter em mente que comer não é uma opção. Nós temos que comer, e isso é facilmente passível de exploração pelos interesses do capital comercial mundial, como as super-mega companhias multinacionais agrícolas, produtoras de fertilizantes, enfim, proprietários de todas as hiper-instalações que são necessárias para manter esse mega negócio chamado agro-business. Então, a opção de ser vegetariano, além de ser muito mais saudável e higiênico, é também uma posição política, pelo menos foi isso que eu aprendi na minha vida estudantil dos anos 1960, nos campus universitários dos Estados Unidos, durante a Guerra do Vietnã, quando a juventude daquela época tinha uma plataforma e queria ser ouvida, que a verdadeira contracultura era uma alternativa contra o establishment político. Dessa forma, ser vegetariano é uma enorme realização em termos políticos e, logicamente, também em termos ambientalistas é uma grande conquista. Enfim, nós temos de achar uma maneira de conscientizar as pessoas sobre a importância da escolha daquilo que elas vão comer, de maneira que fiquem mais seriamente conscientes de quais são as escolhas.

IHU On-Line– Gostaria de acrescentar mais alguma questão para finalizar esta entrevista?

Aris La Tham– Diria que cabe a nós viver nossa vida em força plena, viver a plena capacidade de vida que temos em nós. Então tentar manter um corpo vivo através de comida morta cozida, de comida sem vida, não é caminho certo a tomar. Assim, minha posição em relação à comida, é que há vida na comida que nós comemos! E isso deve ser considerado quando fazemos nossas escolhas. Eu nasci no Panamá e cresci nos Estados Unidos, e conheci diferentes tipos de cozinha – chinesa, africana, européia – totalmente imerso em meus estudos, então eu estou absolutamente consciente do impacto da dieta em diferentes comunidades pelo mundo, então nós temos o legado da comida latino-americana, caribenha que utiliza muitos alimentos frescos e que são realmente muito bons. O processo de cozinhar, embalar, engarrafar, enfim, é tudo muito custoso e desnecessário e não lhe trará os benefícios daquilo que você pode encontrar no seu quintal.

Fonte: UNISINOS

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