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AQUECIMENTO

O impacto das ondas de calor marinhas na resiliência dos corais

A mudança climática está aumentando a frequência, a intensidade e duração das ondas de calor marinhas. Cientistas estão pesquisando o impacto que isto poderá ter na resiliência dos corais e na saúde dos ecossistemas.

6 de outubro de 2024
Mazz Cummings
3 min. de leitura
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Foto: Dam/Adobe Stock.

As ondas de calor marinhas aumentaram em frequência, duração e intensidade nas últimas décadas, ao ponto de o número registrado a cada ano ter duplicado desde 1982. Isto se deve, em grande parte, às mudanças climáticas, e tem efeitos generalizados nos ecossistemas marinhos, incluindo o já amplamente conhecido branqueamento de corais.

Sendo que se espera que o aquecimento global continue aumentando a frequência e a intensidade das ondas de calor marinhas, compreender o seu impacto na resiliência das espécies de coral é vital para proteger ecossistemas marinhos.

A importância das espécies de corais

Os corais fornecem habitat vital para espécies marinhas, dão suporte à biodiversidade e muitas vezes funcionam como um indicador da saúde do ecossistema. Com mais de 6.000 espécies conhecidas, a maioria dos corais se enquadra em 2 grupos principais: corais duros e corais moles. Os corais duros formam estruturas de recifes de coral que, além de apoiarem a biodiversidade, fornecendo habitat vital para outras espécies marinhas, também ajudam a proteger as costas da erosão, ajudando a dissipar a energia das ondas.

Já os corais moles não possuem o esqueleto de carbonato de cálcio que os corais duros têm; em vez disso, eles possuem um esqueleto interno mais macio feito de gorgônia. Embora estes corais moles não formem recifes, eles desempenham um papel crucial no apoio às espécies locais, fornecendo habitat e refúgio contra predadores.

Em um estudo recente, pesquisadores da Universidade de Barcelona estudaram o impacto das ondas de calor marinhas na resiliência da espécie de coral chave Paramuricea clavata no Mediterrâneo. O professor Pol Capdevila, do Instituto de Pesquisa da Biodiversidade da Universidade de Barcelona, afirma: “A Paramuricea clavata é uma espécie que desempenha um papel essencial num tipo de comunidade endêmica do Mar Mediterrâneo, a coralígena. Estas comunidades apresentam uma elevada diversidade associada e representam aproximadamente 10% das espécies mediterrânicas. Portanto, uma diminuição da resiliência destas espécies, ou mesmo a sua extinção, pode levar a mudanças importantes na estrutura e no funcionamento do fundo marinho do Mediterrâneo”.

O impacto da mudança climática

Mediterrâneo é especialmente vulnerável ao impacto das ondas de calor marinhas porque está aquecendo mais rapidamente do que os oceanos globais. Portanto, é crucial compreender a resiliência de espécies-chave que apoiam a sua biodiversidade e a saúde dos ecossistemas.

Para realizar essa pesquisa, a equipe de pesquisadores analisou dados demográficos coletados entre 1999 e 2022 para compreender a dinâmica das populações expostas às ondas de calor marinhas e daquelas que não são expostas. O professor Capdevila afirma que os resultados mostram que “depois de sofrer uma onda de calor, estas populações têm menos capacidade de resistir e se recuperar de outros tipos de perturbações”.

Os resultados obtidos não se enquadram na hipótese da memória ecológica, que prevê que as populações que já sofreram ondas de calor marinhas se tornem mais resilientes a elas, como ocorre na Grande Barreira de Corais. Capdevila acrescenta: “os nossos resultados parecem indicar que, quanto maior o número de ondas de calor, menor é a resiliência destas espécies a novas perturbações”.

No entanto, os seus resultados podem não ser aplicáveis a todos os sistemas de recifes. Os autores enfatizam: “Deve-se levar em conta que nem todas as espécies de corais apresentam a mesma dinâmica populacional. A Paramuricea clavata é uma espécie muito dependente da sobrevivência de seus indivíduos adultos, mas este não é necessariamente o caso de outras espécies. Portanto, os nossos resultados não podem necessariamente ser extrapolados para espécies de corais com dinâmica populacional mais rápida”.

Proteção dos corais

Em um contexto de graves deficiências na proteção marinha e de um longo atraso na consecução dos objetivos de proteção de 30% das áreas marinhas até 2030, ainda há muito a fazer.

Os autores propõem que “a nível local, as populações desta espécie poderiam ser protegidas através de áreas marinhas protegidas ou através da restrição de atividades recreativas, como o mergulho, em áreas onde estes corais são encontrados. Por outro lado, em uma escala maior, as medidas para minimizar as mudanças climáticas deveriam ser aplicadas de forma mais eficaz, uma vez que isso beneficiaria não só esta espécie, mas muitas outras”.

Fonte: Tempo

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