O destino de dezenas de gatos que habitam há anos o espaço do Auditório Araújo Viana, na Redenção, Porto Alegre (RS) está em suspenso, assim como o de pombas, corujas e caturritas, gambás, morcegos, lagartos e vários outros moradores do local.
As novas obras de revitalização do prédio, que serão realizadas pela Opus Promoções em troca do uso do auditório pelos próximos 10 anos, implicam que toda essa fauna seja desalojada. E a questão é: quando, como e para onde.
Se para os animais silvestres a legislação prescreve de forma clara a preservação de sua integridade física, mediada pelo Ibama, já para os gatos esse direito esbarra na confusão de um código de proteção animal pouco claro.
Se não fosse pela ação dos diversos grupos voluntários organizados que ali atuam há anos, como Movimento Gatos da Redenção e Gatófilos Anônimos, esse drama se desenrolaria em silêncio e provavelmente terminaria com os animais literalmente dizimados, assim que fossem ligadas as bombas de jatos altamente potentes que vão “limar” as paredes internas e externas do prédio, bem como suas centenas de metros de vãos subterrâneos e tubulações, principal refúgio dos bichos.
Os que sobrevivessem a esse apocalipse doméstico, acabariam emparedados entre as reformas, ou vagando em pânico pelo parque até acabarem atropelados nas avenidas circundantes.
Segundo Maria da Graça Zanotta, coordenadora do MGR e colaboradora do Gatófilos Anônimos, a OPUS chegou a acenar com propostas razoáveis para a remoção e alojamento seguro desses animais no futuro, mas as negociações regrediram e atualmente o diálogo tem sido tenso.
O representante da empresa que compareceu há mais ou menos 15 dias no local se dispôs, vagamente, a dar “algum tempo” para que os integrantes do grupo que zela pelos animais pudessem tomar providências para a sua segura retirada.
Tal atitude vem de encontro à postura afirmada no final de abril, em reunião com o vice-prefeito José Fortunatti e o secretário do Meio Ambiente Prof. Garcia, quando estes garantiram que as obras não começariam de forma nenhuma sem contemplar a segurança dos animais.
Mais grave: é incompatível com toda a política que a recente criação pelo município da Coordenadoria Multidisciplinar de Políticas Públicas para os Animais Domésticos promete implantar.
“Temos um cronograma de feiras de adoção para que os animais possam ser retirados e ganhar um novo lar. E já foram retirados alguns, cerca de cinco, que foram realojados. Um deles , inclusive, foi adotado em nossa última feira”, relata Graça.
Para os defensores, entretanto, a maior preocupação são os apelidados de “indoáveis”, animais de difícil manuseio. “Normalmente, quando conseguimos pegá-los, é somente para castração”, lamenta ela.
Os voluntários não têm acesso ao interior do auditório, o que facilitaria bastante o manejo dos animais, tanto no quesito higiene e saúde como na própria preparação da remoção, que não pode acontecer de forma abrupta.
São seres que ali vivem há muitos anos, inteiramente ambientados, esterilizados e mantidos saudáveis unicamente com recursos e trabalho dessas associações.
“Nossa maior reivindicação junto aos novos concessionários é que nos dêem algum tempo e condições para retirá-los de uma forma civilizada e redirecioná-los. Sempre lutamos e lutaremos para o bem estar dos animais abandonados no parque, pois acreditamos que toda a vida sempre tem que ser preservada”.
Infelizmente, nos últimos dias a vida dos moradores do Araújo Viana não tem valido muito. Vários animais vem sendo encontrados mortos naquele local. O último foi o gatão “amarelo da árvore”, figurinha carimbada que centralizou atenções no dia da visita do sr. Carlos Eduardo Konrad, dirigente da Opus.
A quem servem essas mortes? Quem as executa? E, principalmente, quem pode zelar por esses animais, durante a noite, indefesos no parque deserto de vigilância?
Fonte: Por Liège Copstein, especial para o Jornal Já