Esse caso do massacre de estudantes em Realengo nos traz horror, repulsa, tristeza. E algumas questões interessantes. Uma das chaves para entender o que levou esse rapaz chamado Wellington Menezes de Oliveira a fazer o que ele fez é sua confusa “carta-testamento”. Este trecho me atraiu especialmente a atenção:
“Eu deixei uma casa em Sepetiba da qual nenhum familiar precisa, existem instituições pobres, financiadas por pessoas generosas que cuidam de animais abandonados, eu quero que esse espaço onde eu passei meus últimos meses seja doado à uma dessas instituições, pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar, trabalhar para se sustentar, os animais não podem pedir comida ou trabalhar para se alimentarem…”
Todo mundo sabe que serial-killers costumam se revelar muito jovens, torturando e matando animais. Wellington não é um serial killer. É um “assassino em massa”, outra classificação criminal. E nos deixou esse parágrafo acima para confundir nossos julgamentos e análises mais simplistas.
Tirando a péssima redação desse parágrafo, eu poderia ter assinado embaixo. Provavelmente você também, leitor. Isso é altamente perturbador porque o cara que escreveu isso matou 13 crianças a sangue frio. E surge a questão: eu estou dando razão a um monstro? Minha opinião: sim. Assim como o mais iluminado de todos nós tem às vezes pensamentos maldosos e impulsos agressivos, Wellington guardava na sua mente confusa uma chama de bondade e compaixão.
Acho que todos nós que damos prioridade aos (outros) animais de vez em quando somos tomados por essa equivocada sensação de desprezo generalizado pelo ser humano. A cada horror que descobrimos que nossos semelhantes fazem aos animais, mais nos envergonhamos da raça humana como um todo. A nossa diferença com Wellington Menezes de Oliveira é que tentamos convencer os outros de nossa razão, e não invadimos escolas com duas pistolas na cintura.