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EMOCIONANTE

O cachorro Beethoven: uma história de amor, liberdade e solidariedade

Doce, carinhoso, divertido e dono de uma energia contagiante, Beethoven conquistou outros cães e tomou para si o coração de duas mulheres

2 de setembro de 2021
Redação ANDA
6 min. de leitura
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Beethoven era um cão com pelagem preta e branca (Foto: Pixabay/Imagem Ilustrativa)

A história de Beethoven é a prova de que o amor opera verdadeiras transformações em quem o sente e que nada pode ser mais puro e incondicional do que o afeto acompanhado da alegria de um cachorro que corre livre pelo pasto, como fazia Beethoven no sítio onde vivia.

Doce, carinhoso, divertido e dono de uma energia contagiante, Beethoven conquistou outros cães e tomou para si o coração de duas mulheres. Uma delas, mudou-se para a zona rural só para tirá-lo das correntes e libertá-lo, permitindo que ele vivesse feliz em meio à natureza, repleto de cuidados e afeto. A outra o conheceu já nesta fase da vida dele em que a liberdade e a felicidade eram inerentes a sua existência.

Mas há muito mais o que saber sobre a vida desse cão e o poder transformador dele. E cada detalhe dessa bonita e melancólica história de amor entre humanos e um animal especial, você poderá conhecer no artigo abaixo. Boa leitura!

Na primeira vez que vi Beethoven, achei que fosse mais um caso de abandono. Ainda que ele parecesse um cachorro feliz, correndo pelo pasto. Moro numa região de chácaras e abandonar cães no local não é algo raro. Em três dessas ocasiões, minha família canina ganhou seis novos membros. Recolho, tento arrumar um tutor para eles, mas, quando menos espero, o amor toma conta de mim e eles viram filhos. De qualquer forma, fiquei com a ideia do abandono na cabeça. Cheguei a contatar uma protetora bastante atuante da cidade para que pudéssemos arrumar um lar para Beethoven. Não consegui falar com ela de imediato. Ainda bem. Descobri que o cachorro tinha dono (na verdade, a palavra correta é tutor, pois tira essa conotação de objeto de um animal): pertencia a um casal de vizinhos, que havia mudado recentemente para uma casa humilde, na rua de baixo.

Nos dias seguintes, Beethoven passou a ser presença constante na minha vida. Ele percebia o alvoroço, quando eu saía para passear com meus cachorros, e se juntava a nós, sem cerimônia. Passei a chamá-lo de Beethovinho, já que havíamos nos tornado íntimos. Imagina um cachorro boa praça, extremamente alegre e livre. Seus tutores não conseguiam prendê-lo nos limites da casa deles. Parecia querer abraçar o mundo. Soube que durante boa parte da vida dele – pouco mais de um ano – ele viveu acorrentado. Seus tutores moravam em um terreno, cuja dona, que também morava no pedaço, não gostava de cachorro solto. Por isso que a mãe de Beethoven foi morar na roça – queria que seu filho sentisse o gostinho da liberdade. E ele, de fato, amava correr por todos os cantos, demarcando cada pedacinho de moita.

Da varanda do meu quarto, passei a escutar os gritos da tutora dele: “Beethoveeennn! Beethoven, cadê você? Mel, cadê o Beethoven?”. Mel era a outra cachorra da casa – eram quatro no total, mais as duas de outro vizinho (esse mais descuidado). Podemos dizer que a tutora de Beethoven adotou essas outras cachorras, que viviam largadas. O marido dela construiu uma casinha bem grande para elas, na entrada do terreno que eles ocupavam. Ela me dizia: “Se eu for embora daqui, levo essas duas junto comigo”. A mãe de Beethoven tinha tão pouco pra ela, mas amava os cachorros, que dava gosto de ver e sentir.

Beethoven passou a aparecer no pomar de casa, no início da manhã, quando eu ainda estava dormindo. Um dos meus cachorros dava um jeito de escapar e saia por aí com Beethoven. Ficaram amigos. Todos os dias Beethoven vinha buscá-lo para a caminhada no campo. Às vezes, trazia a Mel. E, da minha cama, eu escutava a tutora dele: “Beethoveeennn, cadê você?”. Eu acordava feliz com a algazarra, já sabendo que precisava levantar, pois o meu cachorro fujão não se dava bem com o de um outro vizinho, na mesma proporção que amava Beethoven. Ou seja, se eu não o recolhia logo, poderia ter briga. Beethoven passou a ser o meu despertador.

Ele me aproximou dos tutores dele. Tinham muitas necessidades, pelo que percebi – viviam da venda de ferro velho que encontravam pelas ruas. Faltava água na casa. O poço havia secado. Como compro água para abastecer as caixas da chácara onde moro – não há rede de distribuição externa –, resolvi que iria doar o suficiente para encher a deles. Água é barata. Mas o frete é caro. Sinto que eles não poderiam pagar. Também passei a doar comida. Para que não se sentissem constrangidos, já que jamais me pediram algo, inventei uma história: disse que ganhava muitas coisas dos meus pais e, como eu era o único humano da minha casa, dividiria com eles, mesmo porque os donos da oferta se sentiriam ofendidos se eu devolvesse os mimos. Feijão, arroz (que está caríssimo), frutas e verduras teriam agora outro destino, sempre que eu pudesse – e eu me esforçaria para poder.

Beethoven criou laços de afeto com duas mulheres especiais (Foto: Depositphotos/Imagem Ilustrativa)

Um dia, Beethoven não apareceu. Também não ouvi os gritos da tutora dele. Como eu tinha que combinar a entrega da água, fui até eles. Encontrei uma mulher destruída. Beethoven havia morrido. Um acidente bobo. Os tutores saíram atrás de água, na perua velha deles, e o cachorro os seguiu, sem que percebessem. Beethoven encontrou cachorros ferozes pelo caminho e, na tentativa de fugir, se jogou debaixo da perua. Engoli o choro, pois entendo que você precisa ser forte para consolar a quem precisa mais. Disse que Beethoven viveu como quis. E, no final da vida dele, pode experimentar o sabor da liberdade, que todo cão merece. De volta para casa, desabei: chorei copiosamente, como se Beethoven fosse meu – e no fundo, eu considerava assim.

Pela narrativa do local e tempo do acidente, eu devo ter sido a última pessoa a se despedir do Beethoven. Encontrei ele na rua de cima, cheirando uma moitinha. Parei o carro, abaixei o vidro e ele se debruçou para ser acariciado. Olhei bem para os olhos dele. Eu, de fato, amava aquele cachorro branco e preto, de porte médio, de olhar terno, com barbichinha. Essa cena não me sai da cabeça toda vez que entro no carro.

Outro dia, ouvi a tutora dele procurando pela Mel, que também era agitada. Sinal de que o silêncio da dor dela estava passando. Mas a minha continuava. Vejo Beethoven no pasto, na estrada empoeirada, no pomar de casa. Meu cachorro não foge mais. Deve ter sentido a ausência do amigo. Choro todos os dias, inclusive agora, que conto essa história. Fiquei pensando: por que um cachorro aparece do nada, rouba o meu coração e desaparece em pouco mais de um mês? Acho que a resposta só pode ser essa: ele era um anjo que viveu o suficiente para encontrar alguém que pudesse ajudar os tutores dele. Decidi que farei isso enquanto eles estiverem por perto. Devo isso a Beethoven. Obrigado, Beethovinho, por dar a oportunidade para que eu seja uma pessoa melhor.

Autoria desconhecida*

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