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O Bonito e o Feio

10 de maio de 2010
2 min. de leitura
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Por Fernando Bauab Levai

Certa vez, por curiosidade, perguntei a uma amiga não vegetariana:

-Você viu a novidade? Estão servindo cavalos-marinhos naquele restaurante. Já provou?

Ela ficou abismada com o fato de estarem servindo um animal “bonitinho”. Apesar de se tratar de um peixe com um sistema nervoso semelhante ao de muitos outros (como salmões e trutas), a impressão que tive é de que, para ela, o sofrimento do cavalo-marinho é mais acentuado que o dos demais peixes.

Refletindo sobre o assunto, é possível concluir que o ser humano tende a sentir pena dos animais com “melhor aparência”. Assim como os cavalos-marinhos, notei que cães, gatos, golfinhos, cavalos, pandas, focas e grandes felinos são de certa forma privilegiados em relação aos demais.

Já com os animais menos “afortunados”, desprovidos da tal “beleza”, como salmões, camarões, porcos, galinhas, bois, sapos, ratos e lagartos, seu sofrimento e morte são de certa forma bem aceitos pela sociedade.

Vejo protestos que pregam o boicote à China, pois eles se alimentam da carne de cães, enquanto por aqui consumimos a carne de porco, animal com comportamento e sistema nervoso bastante semelhantes ao canino, pois são dóceis, brincalhões e companheiros. Fico imaginando o rebuliço que um abatedouro de cães, para produção e venda de carne canina, causaria aqui no Brasil. Estimo que o abatedouro não duraria uma semana.

Acredito que muitos humanos, apesar de terem atingido a idade adulta, ainda associam o bonito e o feio da mesma maneira que as crianças, deixando de usar a racionalidade e utilizando critérios que lhes foram ensinados nos primeiros anos de vida.

Outro ponto que parece afetar este comportamento é o conjunto de ensinamentos que recebemos quando crianças. Desde a pré-escola, somos induzidos a acreditar que a função de certos animais é apenas a de servir para suprir necessidades humanas, como as alimentícias (carne, leite) e de vestuário (couro, lã). Isso sem contar os meios de comunicação, e a publicidade direcionada para o público infantil, como por exemplo alimentos como o Miojo de frango, no qual aparecem uma famosa personagem de histórias em quadrinhos e uma galinha feliz que anuncia o tempo de preparo de apenas três minutos.

Desta forma, consolida-se o pensamento da maioria, que acredita que a carne é indispensável e que é correto executar os animais que são “criados para isso”. Trata-se de uma opinião oriunda dos ensinamentos mais primordiais da vida de uma pessoa, que são totalmente unilaterais, a favor dos humanos e suas necessidades, que determinam quais animais são para domesticação, quais são selvagens e quais são comida.

Portanto, como primeiro passo pra uma pessoa poder afirmar que “gosta” de animais, é preciso amadurecer o meio de se pensar, pois que sentido há em proteger um cão enquanto se ignora (e até promove indiretamente) o sofrimento de um suíno igualmente sensível?

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