A seca, intensificada pelo aquecimento global e agravada pela ação humana, causou um impacto devastador na vida selvagem na África e na Amazônia entre 2023 e 2025. Segundo um novo e alarmante relatório das Nações Unidas, as populações animais estão sendo dizimadas não apenas pela sede e pela fome, mas também pela intervenção humana, enquanto ecossistemas frágeis entram em colapso sob o estresse climático.
O relatório “Drought Hotspots Around the World 2023–2025” (Áreas Críticas de Seca no Mundo 2023-2025), divulgado em julho pelo Centro Nacional de Mitigação da Seca dos EUA e pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, com apoio da Aliança Internacional para a Resiliência à Seca, documenta as mortes em massa de animais selvagens como consequência direta e indireta da seca prolongada. Do leste da África às bordas da Amazônia, a linha entre o colapso ecológico e a sobrevivência humana está se tornando perigosamente tênue.
O retorno do El Niño em 2023 elevou as temperaturas globais. Esse fenômeno climático, parte do sistema El Niño-Oscilação Sul (ENOS), está fortemente ligado ao aumento das secas extremas registradas nos últimos dois anos. No sul e no leste da África, equilíbrios ecológicos já fragilizados entraram em colapso. Centenas de elefantes morreram de fome, predadores invadiram assentamentos humanos e as comunidades reagiram com força letal.
Em um exemplo marcante do conflito entre humanos e animais, seis leões foram mortos a golpes de lança no condado de Kajiado, no Quênia, em junho de 2023, após matarem uma dúzia de cabras. “Os leões haviam saído do Parque Nacional de Amboseli”, afirma o relatório, “e o pastor Maasai, que perdeu metade do seu rebanho, disse que a compensação oferecida não reporia sua perda econômica.” Historicamente, os Maasai coexistiram com os leões, mas a seca levou homens e animais a um território novo e perigoso.
O Parque Nacional de Hwange, no Zimbábue, enfrentou sua própria crise no final de 2023. Com os poços de água reduzidos a armadilhas de lama, pelo menos 100 elefantes morreram — alguns de desidratação, outros presos ao tentar beber. Em meados de 2024, a crise levou os governos do Zimbábue e da Namíbia a anunciarem polêmicos programas de abate para evitar mais colapsos ecológicos e fornecer carne a comunidades humanas vulneráveis. Somente o Zimbábue autorizou a morte de 200 elefantes, alegando que a população de elefantes já ultrapassava três vezes a capacidade sustentável.
A resposta da Namíbia foi ainda mais ampla: planos para abater mais de 600 animais — incluindo zebras, hipopótamos, impalas e búfalos — em cinco parques nacionais foram elaborados à medida que a seca se agravava.
Mas, enquanto as manchetes se concentram no número dramático de mortes e nas cotas de abate, falhas estruturais mais profundas estão em jogo. O Dr. Henno Havenga, da Unidade de Ciências e Gestão Ambiental da Universidade North-West, oferece um contexto ecológico mais amplo.
“As interações entre humanos e animais estão se tornando mais complexas devido às mudanças climáticas, mas devemos lembrar que alteramos fundamentalmente as migrações naturais dos animais”, diz ele. “As secas sempre ocorreram, mas, enquanto isso, erguemos cercas por todos os lados. Onde os elefantes antes migravam milhares de quilômetros em busca de comida e água, agora estão confinados a reservas fixas.”
Essa restrição, explica o Dr. Havenga, transforma a sobrevivência em conflito. “Quando os animais não podem mais migrar, eles saem em busca de água e comida. Naturalmente, isso os leva a entrar em contato com humanos. E raramente termina bem para o animal.”
Ele observa que, embora alguns animais morram diretamente por causa da seca — geralmente os mais velhos ou doentes — muitos são mortos devido à proximidade com humanos, seja como caça ou como ameaça ao gado. “A maioria das mortes não são apenas atos da natureza”, alerta, “mas o resultado de sistemas de conservação levados ao limite.”
A implicação é clara: sem reformas nas políticas de conservação, especialmente a restauração de corredores migratórios e a alocação de recursos para populações isoladas, futuras secas desencadearão ciclos semelhantes de morte e desespero.
Em um continente onde estresses ecológicos, climáticos e econômicos agora se chocam com regularidade mortal, o custo da inação pode ser fatal — não apenas para a vida selvagem icônica da África, mas também para as comunidades humanas que viveram ao lado dela por gerações.
Traduzido de NWU.