EnglishEspañolPortuguês

ESTUDO

Nuvem salgada? Cientistas avaliam usar sal e "branquear" nuvens marinhas como plano B na crise climática

Equipe de pesquisadores publica estudo onde mostra passos testados de técnica que semeia gotículas com sal para tornar nuvens mais eficientes em refletir a luz solar

30 de março de 2024
Redação Um Só Planeta
4 min. de leitura
A-
A+
Foto: Ilustração | Freepik

Enquanto há uma corrida industrial em curso para buscar alternativas de descarbonização para as atividades econômicas, reduzindo assim o impacto humano que intensifica a mudança climática, cientistas já pensam em um plano B. Ao menos para que a sociedade possa ganhar tempo e desenvolver as soluções necessárias à transição energética, por exemplo, que deve eliminar das cadeias produtivas o uso de combustíveis fósseis, grandes emissores de gases que ajudam a esquentar o planeta.

Pensando nisso, um grupo de cientistas americanos estudou a fundo a possibilidade de usar as nuvens que pairam sobre o oceano como grandes refletores. A técnica, chamada em inglês de marine cloud brightening (MCB), que em tradução livre seria algo como “branqueamento de nuvens marinhas”, injeta micropartículas de sal nas nuvens, gerando uma reação química que as deixa mais claras, o que possibilita uma reflexão maior das luzes solares, deixando ooceano abaixo menos quente.

O objetivo dos cientistas hoje é criar a base de pesquisa necessária para que se possa considerar projetos de MCB como algo viável, para que assim possa ser incorporado a políticas públicas ou iniciativas privadas, explicam os pesquisadores.

“O interesse em MCB está crescendo, mas legisladores atualmente não têm as informações necessárias para tomar decisões sobre se e quando deve ser implantado”, afirma Graham Feingold, pesquisador do Laboratório de Ciências Químicas da NOAA, a agência governamental americana para os oceanos e o clima. “A questão é se podemos conceber um programa de investigação MCB para estabelecer a viabilidade desta abordagem à escala global e, se não, o que precisa de ser feito para nos posicionarmos para fazê-lo”, argumenta o cientista.

O estudo liderado por Feingold foi publicado no periódico científico Science Advances.

Apesar dos achados científicos já existentes sobre o tema, há estrada pela frente. Um experimento de MCB bem sucedido deve levar muitas variáveis em consideração. O modelo básico parte de uma embarcação que se coloca em um ponto determinado do oceano e começa a expelir spray contendo sal marinho. Esse spray deve ser direcionado de forma que encontre as nuvens na região, contudo, não pode ser qualquer nuvem.

A depender das características das nuvens, a injeção de sal pode dar errado. Uma nuvem que já possua alta concentração de micropartículas de sal é mais difícil de ser “branqueada”. Além disso, efeitos indesejados como a dispersão das nuvens, ou ainda que as gotículas de spray salgado se transformem em chuva podem ter efeito reverso, aumentando o calor na área influenciada.

“Nuvens não são todas criadas igualmente, algumas são mais suscetíveis a injeções de aerossóis do que outras. Uma nuvem que já é brilhante, com alta concentração de gotas, é muito mais difícil de branquear do que uma nuvem fina com baixa concentração de gotas. A maneira como uma nuvem responde à tentativa de manipulação depende sutilmente do clima e das condições do spray utilizado. Para complicar as coisas, o tamanho e a quantidade ideais de partículas provavelmente dependem das propriedades das nuvens, que podem mudar à medida que flutuam no ar”, explica Feingold.

Para ser eficaz, as iniciativas de MCB devem produzir uma irrigação sob medida para cada nuvem, revelam os cientistas. É preciso desenvolver, portanto, uma técnica e equipamentos que sejam adaptáveis a diversas regiões do globo, uma vez que a experiência com as nuvens marinhas terá sempre alcance local em seus efeitos de contenção do calor.

Uma primeira possibilidade é usar a técnica em locais mais ameaçados pelas temperaturas em elevação, como recifes de corais.

“Teríamos que colocar as partículas do tamanho certo em nuvens receptivas, nas horas do dia e nas estações certas, e em áreas grandes o suficiente para sombrear grandes áreas do oceano”, conta Feingold. “É um grande desafio.”

Fonte: Um Só Planeta

    Você viu?

    Ir para o topo